29 Setembro 2016
Cresce o “sul global”, e em especial África e Ásia, entre os jesuítas que a partir do próxima segunda-feira, dia 3 de outubro, terão em Roma a 36ª Congregação Geral, desde a fundação da maior ordem religiosa da Igreja católica romana (em 1540, por Santo Inácio de Loyola), convocada para eleger o sucessor do padre Adolfo Nicolás, 30º superior geral da Companhia de Jesus.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 27-09-2016. A tradução é do Cepat.
Na sede restaurada da Cúria generalícia, a poucos passos do Vaticano, se reunirão 212 eleitores (206 sacerdotes e seis “irmãos” leigos), por sua vez eleitos pelas respectivas províncias (três foram nomeados pelo superior) de 62 países diferentes.
Em relação à última das Congregações gerais, que foi realizada em 2008, o padre Antonio Moreno, provincial das Filipinas, em uma coletiva de imprensa, recordou que o global South aumentou cinco pontos percentuais, passando de 54% a 59% dos eleitores. Em especial, a porcentagem dos eleitores africanos passou de 8 a 10, a dos eleitores da Ásia e Oceania de 28 a 33, ao passo que permaneceu sem variações a presença da América do Norte (com 15%) e das demais regiões diminuiu (Europa passou de 31% a 26%; América do Sul de 18 a 16%). Uma configuração que representa com bastante fidelidade a tendência estatística dentro da Companhia de Jesus.
Os jesuítas, recordou o padre Federico Lombardi, ex-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, são 16.740 na atualidade, distribuídos desta maneira: 5.000 na Europa, 5.000 na América, 5.6000 na Ásia e Oceania (uma grande maioria vive somente na Índia), e 1.600 na África. Se as vocações, durante o último meio século, diminuíram bastante, também é certo que aumentaram na África e Ásia, inclusive entre os mais jovens: 63% dos noviços (aqueles que pediram entrar na Companhia), por exemplo, e 65% dos escolares (os jesuítas estudantes) provêm destes dois continentes. Só no Vietnã, explicou Lombardi, onde havia 26 jesuítas em 1975 (quando foram expulsos do país), agora há 210. “Não sabemos se o próximo superior virá do global South, precisou o padre Moreno, “o importante é que seja a pessoa adequada para conduzir a Companhia com base nas prioridades que a Congregação Geral identificará”.
A 36ª Congregação Geral foi convocada pelo atual superior, o padre Adolfo Nicolás, que decidiu apresentar sua renúncia ao ter completado 80 anos de idade, com uma carta a todos os jesuítas (enviada no mês de dezembro, há dois anos). Assim o comitê Coetus Praevius começou a se ocupar das preparações do órgão supremo de governo da ordem. Pela primeira vez na história dos jesuítas, os eleitores se reuniram nas seis conferências (África, Ásia-Pacífico, Ásia Meridional, Europa, América Latina e Canadá-Estados Unidos), em outubro de 2015, para dar início a 36ª Congregação Geral com uma espécie de trabalho instrutor. O papel do superior geral é, normalmente, vitalício, mas tanto o padre Peter-Hans Kolvenbach (em 2008) como o padre Pedro Arrupe (em 1983, ainda que sua renúncia foi rejeitada por Karol Wojtyla) haviam renunciado antes que o padre Nicolás.
A presença, também pela primeira vez, de um Papa jesuíta faz com que a 36ª Congregação seja “um encontro especial”, razão pela qual “existe o projeto de um encontro” com Francisco, disse o padre Moreno, sem oferecer maiores detalhes. As indicações que o Papa, em diferentes ocasiões a partir do Conclave de 2013, deu aos jesuítas, ressaltou o padre Orlando Torres, reitor do Colégio Internacional de Jesus, estão bem sintetizadas em um artigo do padre Elias Royon, que foi publicado recentemente pela revista La Civiltà Cattolica (“O que o Papa Francisco disse aos jesuítas?”).
O padre Lombardi destacou, respondendo a quem perguntava se existia um “efeito Bergoglio” entre as vocações dos jesuítas: “Temos um Papa jesuíta e estamos contentes, sentimos uma sintonia espiritual e de perspectivas bastante forte com o que disse e com o que propõe à Igreja, mas vivemos isto com grande liberdade. Inácio pôs a Companhia a serviço do Papa, vigário de Cristo, independente de quem seja. A Companhia de Jesus trabalhou por mais de 400 anos a serviço da Igreja, com base nas missões indicadas pelo Papa, e também continuará assim no futuro, sem importar quem seja o Papa, porque será o Papa e a Companhia está a sua disposição sempre”.
Um dia antes que se iniciem os trabalhos, no domingo dia, dia 2 de outubro, às 17h30, na Igreja de Jesus, será celebrada uma missa de abertura, presidida, como é tradicional, pelo mestre da ordem dos dominicanos, o padre Bruno Cadoré. O primeiro ponto na ordem do dia, recordou o padre Patrick Mulmei (diretor do escritório de Comunicações e Relações Públicas da Companhia) será a eleição do novo superior, previsivelmente em inícios da segunda semana, após quatro dias de oração, recolhimento e penitência, durante os quais os eleitores se interrogarão, trocarão informação e se reunirão para tratar de identificar, através de conversas pessoais (daí o nome de murmurationes), o candidato ideal para suceder o atual Superior da Companhia.
“Não há candidatos, e uma comissão especial de ambitu vigia sobre a hipótese que alguém, movido pela ambição, possa estar promovendo a si mesmo ou outra pessoa”, recordou durante a coletiva de imprensa o padre Torres. A eleição se dá mediante maioria simples e, normalmente, após os quatro dias de discernimento, se alcança com bastante rapidez e serenidade. A eleição do padre Nicolás veio no segundo escrutínio, a do padre Kolvenbach durante o primeiro. O Papa será a primeira pessoa a saber o resultado da eleição (não deve dar nenhuma aprovação, mas simplesmente será informado) e, em seguida, será divulgado o seu nome. A Congregação Geral, então, prosseguirá com a escolha dos colaboradores do novo superior e discutirá sobre “problemáticas centrais para a Companhia, como a missão, a estrutura, a vida e o trabalho dos jesuítas”.
Não há uma duração estabelecida para o capítulo e, segundo explicaram os jesuítas na coletiva de imprensa, “durará o que durará”. Mas, se imagina que não será encerrado antes de novembro (em 2008, foram 58 dias). Uma missa de encerramento, na Igreja de Santo Inácio, marcará o final do processo e dos trabalhos.
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Aumenta o “sul global” entre os jesuítas que elegem o novo superior - Instituto Humanitas Unisinos - IHU