27 Junho 2016
O Concílio pan-ortodoxo como tal foi um sucesso. E abre novos desafios. A via do Concílio, mais uma vez, demonstra ser a única que pode dar comunhão onde isso parece impossível.
A opinião é do historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 26-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O "Concílio grande e santo" das Igrejas da Ortodoxia concluiu-se nesse sábado em Kolymbari. Em oito dias de trabalhos, viveu todas as experiências típicas da história dos concílios: as dúvidas e as acelerações, as surpresas e os compromissos, os conflitos, mas também as crises e o impasse que, entre quinta e sexta-feira, levaram-no a um passo do fracasso.
De fato, não foi a ausência ou a posição das quatro Igrejas que, no último minuto, desistiram (entre elas, Moscou) que colocou o Concílio em risco. Mas sim a obstinação de uma ala zelosa da Igreja Grega que pedia para não chamar de "Igreja" as outras Igrejas, incluindo a Igreja Católica.
Durante algumas longas horas, pareceu que o Concílio estava condenado ou a sucumbir a essa pretensão ou a certificar o seu próprio fracasso. Em um caso e no outro, o Concílio teria feito um enorme presente à Igreja Russa, que sempre reconheceu a eclesialidade do catolicismo e se encontrariam em vantagem no diálogo com Roma.
Na sala, interveio o próprio metropolita John Zizioulas para recordar que, do século XI ao século XX, mesmo na mais dura dissidência, a Ortodoxia nunca tinha negado a Roma o título de Igreja. E, na noite entre sexta-feira e sábado, chegou a solução fixada na encíclica conciliar, que resume todos os documentos.
Ela reconhece as "denominações históricas" das "Igrejas e confissões cristãs", definidas nas versões oficiais em inglês, francês e russo como "não ortodoxas" (e, em grego, "heterodoxas") e compromete a Ortodoxia inteira ao diálogo. Algo que não era evidente.
Uma versão breve da encíclica (1) será lida de forma abreviada durante a liturgia de encerramento, que é o lugar de promulgação das decisões conciliares. Depois, o texto será confiado às Igrejas presentes e ausentes para a sua recepção. O Concílio, portanto, se encerra com um balanço em três colunas: o balanço dos textos, o balanço da sala e o balanço do evento.
Os textos, embora corretos e debatidos, permaneceram aquilo que eram no fim das sinaxes: textos de compromisso, às vezes decepcionantes, embora embebidos em teologia patrística. Poucos parágrafos – como o da encíclica final (1), que indica nos refugiados um sinal escatológico, remetendo ao juízo final descrito pelo Evangelho de Mateus, ou aquele sobre a natureza sinodal da Igreja – têm um carimbo teológico capaz de falar para todos. Mas não houve forçações de sinal conservador, como aquelas que se podiam temer no início. Não é muito.
A experiência da sala deu um balanço mais positivo. Os metropolitas ortodoxos, assim como todos os bispos, também precisavam de tempo para aprender a se escutar, a bater boca, a ironizar, a se compreender. Oito dias, que começaram com mais de duas horas de liturgia, demonstraram que esse processo de conhecimento recíproco, de fraternidade real é possível, frutífero, mesmo que em pouco tempo não pode fazer muito: porém, foi suficiente para desarticular os lugares comuns. Não é pouco.
O Concílio como tal, por fim, foi um sucesso. Um sucesso de John Zizioulas, o velho teólogo que começou a pedi-lo, grosso modo, quando o cardeal Martini pedia um para a Igreja Católica, e que, ao contrário do arcebispo de Milão, encontrou ouvidos.
Um sucesso de Emmanuel Adamakis, que geriu a negociação sobre o texto da encíclica. E, acima de tudo, um sucesso do Patriarca Ecumênico Bartolomeu, que demonstrou que a função primacial de Constantinopla pode ser exercida em dar voz a todos, no consenso de todas as Igrejas cristãs – o patriarca as evocou e assim as chamou com vistosa insistência no discurso final.
O Concílio que se encerra, portanto, abre novos desafios: o primeiro dos quais diz respeito às ausências. A falta de algumas Igrejas não impediu ou viciou o Concílio: mas a ausência, agora, não deve gangrenar. A espiritualidade, a teologia, a oração da Igreja Russa são essenciais para todo o cristianismo: e assim como não pode haver uma Ortodoxia a despeito da Rússia, assim também não pode haver uma Rússia alheia e indiferente ao destino da Ortodoxia. O mesmo vale para a Bulgária, a Geórgia e a Antioquia.
A via do Concílio, mais uma vez, demonstra ser a única que pode dar comunhão onde isso parece impossível.
Nota:
1.- A íntegra da encíclica final pode ser lida, em inglês, francês e grego, clicando aqui. (A nota é de IHU On-Line).
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Os bons frutos do Concílio pan-ortodoxo. Artigo de Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU