Amor ao inimigo. Comentário de José Antonio Pagola

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22 Fevereiro 2025

O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, referente ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 6,27-38, que corresponde ao 7º Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico, publicado por Religión Digital, 17-02-2025.

Eis o comentário.

"Aos que me escutam, eu digo: amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos odeiam". O que podemos fazer os crentes diante dessas palavras de Jesus? Suprimi-las do Evangelho? Apagá-las do fundo da nossa consciência? Deixá-las para tempos melhores?

Não muda muito nas diferentes culturas a postura básica dos homens perante o "inimigo", ou seja, diante de alguém de quem só podemos esperar algum dano. O ateniense Lisias (século V a.C.) expressa a concepção vigente na Grécia antiga com uma fórmula que seria bem acolhida também hoje por muitos: "Considero como norma estabelecida que se deve procurar fazer mal aos inimigos e colocar-se a serviço dos amigos".

Por isso, devemos destacar ainda mais a importância revolucionária que se encerra no mandamento evangélico do amor ao inimigo, considerado pelos exegeses como o mais claro expoente da mensagem cristã. Quando Jesus fala sobre o amor ao inimigo, não está pensando em um sentimento de afeto e carinho por ele, mas sim em uma atitude humana de interesse positivo pelo seu bem.

Jesus pensa que a pessoa é humana quando o amor está na base de toda a sua atuação. E nem mesmo a relação com os inimigos deve ser uma exceção. Quem é humano até o fim respeita a dignidade do inimigo, por mais desfigurada que nos possa parecer. Não adota diante dele uma postura excludente de maldição, mas uma atitude de benção.

E é precisamente este amor, que alcança a todos e busca realmente o bem de todos, sem exceção, a contribuição mais humana que pode ser introduzida na sociedade por quem se inspira no Evangelho de Jesus. Há situações em que esse amor ao inimigo parece impossível. Estamos feridos demais para perdoar. Precisamos de tempo para recuperar a paz. É o momento de lembrar que também nós vivemos da paciência e do perdão de Deus.

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