O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, comentando o evangelho do 2º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico, que corresponde ao texto bíblico de João 2,1-11, publicado por Religión Digital, 13-01-2025.
Segundo o evangelista João, Jesus foi realizando sinais para revelar o mistério contido em sua pessoa e para convidar os outros a acolher a força salvadora que trazia consigo. Qual foi o primeiro sinal? O que é o primeiro que devemos encontrar em Jesus?
O evangelista fala de um casamento em Caná da Galileia, uma pequena aldeia montanhosa, a quinze quilômetros de Nazaré. No entanto, a cena tem um caráter claramente simbólico. Nem a esposa nem o esposo têm rosto: não falam nem agem. O único importante é um "convidado" chamado Jesus.
Os casamentos eram na Galileia a festa mais esperada e querida entre as pessoas do campo. Durante vários dias, familiares e amigos acompanhavam os noivos, comendo e bebendo com eles, dançando danças de casamento e cantando canções de amor. De repente, a mãe de Jesus lhe faz notar algo terrível: "Não lhes resta vinho". Como vão continuar cantando e dançando?
O vinho é indispensável em um casamento. Para aquelas pessoas, o vinho era, além disso, o símbolo mais expressivo do amor e da alegria. Isso dizia a tradição: "O vinho alegra o coração". A noiva cantava para seu amado em um precioso canto de amor: "Teus amores são melhores que o vinho". O que pode ser um casamento sem alegria e sem amor? O que se pode celebrar com o coração triste e vazio de amor?
No pátio da casa estão seis talhas de pedra. São enormes. Estão colocadas ali, de maneira fixa. Nelas se guarda a "água" para as purificações. Representam a piedade religiosa daqueles camponeses que tentam viver puros diante de Deus. Jesus transforma a água em vinho. Sua intervenção vai introduzir amor e alegria naquela religião. Esta é sua primeira contribuição.
Como podemos pretender seguir a Jesus sem cuidar mais entre nós da alegria e do amor? O que pode ser mais importante do que isso na Igreja e no mundo? Até quando poderemos conservar em "talhas de pedra" uma fé triste e entediante? Para que servem todos os nossos esforços, se não somos capazes de introduzir amor em nossa religião? Nada pode ser mais triste do que dizer de uma comunidade cristã: "Não lhes resta vinho".