"Jesus é o verdadeiro Esposo, não somente para as comunidades cristãs, que foram se formando diante do anúncio das primeiras testemunhas, mas para toda a humanidade, para todos os povos, conforme já é proclamado no Salmo responsorial.
Dentre as festas que celebramos, a festa de casamento é uma das mais significativas. Sobretudo em Jo. 2,1-11 ela ganha relevância por nos orientar para a compreensão da comunhão definitiva de Deus com a humanidade."
O melhor vinho quem traz é Jesus. Ele o traz para toda humanidade. Jesus é permanentemente fonte de vida nova. O Vinho bom jamais acabará, a vida e a mensagem de Jesus estarão sempre inspirando caminhos humanizadores e compassivos de doação e serviço. O melhor vinho é abundante. Ele jorra em nossa vida quando nos comprometemos em viver a fraternidade, porque o amor solidário nasce do reconhecimento de que somos todos irmãos e irmãs. Nós também somos os serventes, quando nos tornamos disponíveis para fazer tudo o que Jesus nos disser.
A reflexão é de Terezinha das Neves Cota, rc, religiosa da Congregação Nossa Senhora do Cenáculo. Ela possui graduação e mestrado em Teologia pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus – CES e é orientadora de retiros espirituais.
1ª Leitura - Is 62,1-5
Salmo - Sl 95,1-2a.2b-3.7-8a.9-10a.c (R. 1a.3b)
2ª Leitura - 1Cor 12,4-11
Evangelho - Jo 2,1-11
Tanto a primeira leitura (Is 62,1-5) quanto o Evangelho (Is 62,1-5) deste 2º domingo do tempo comum têm como inspiração o matrimonio, que, nas Sagradas Escrituras, simboliza a Aliança de Deus com a humanidade. Em Jo. 2, 1-11, a aplicação desta simbologia a Jesus e à Igreja é discreta, porque “sua hora” ainda não havia chegado, Jesus ainda não havia vivido a paixão e glorificação. No entanto, toda a narrativa está centrada em Jesus. Ele é definitivamente o Noivo, que oferece o melhor vinho.
Ao percorrermos o itinerário litúrgico deste domingo, ressaltando outros aspectos do Evangelho e das demais leituras, obtemos a compreensão de sua mensagem essencial para nossa fé.
“Por amor de Sião, não me calarei, por amor de Jerusalém, não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a justiça. E, não se acender nela, como uma tocha, a Salvação”.
A volta do exílio é descrita como a aurora que desperta a cidade sobre o monte. Deus tocou o coração de Ciro, o rei da Pérsia, que por sua grande habilidade invadiu a Babilônia e libertou o povo judeu de seu longo cativeiro. O povo de Deus reconheceu este rei vitorioso, que inspirado por Deus, agiu em defesa da justiça. Jerusalém é agora a noiva. A Aliança é marcada pela fidelidade amorosa do Senhor. A alegria é exultante diante da expressão vigorosa do amor concreto de Deus e da experiência de rejuvenescimento da cidade. Todos os seus habitantes vivem esta novidade, a reconstrução de tudo que fora destruído.
“Serás chamada por um nome novo, que a boca do Senhor há de designar... Teu nome será “Minha Predileta”... Como a noiva é a alegria do noivo, assim também, tu és a alegria do teu Deus”.
“Cantai ao Senhor, ó Terra inteira [...] Publicai entre as nações: “Reina o Senhor!”
“Pois os povos Ele julga com justiça”.
O Reinado de Deus só é possível porque Ele reina promovendo e realizando a justiça. Neste hino à realeza do Senhor, o salmista canta um reinado universal. Esta universalidade é ressaltada, porque se repete sete vezes, em todo o salmo, “tudo/todos”. Ao reinar sobre todo mundo, a Criação inteira expressará seu júbilo de alegria.
O quarto Evangelho começa com uma semana inaugural. No primeiro dia encontramos o testemunho de João Batista diante das autoridades que o questionam. “No dia seguinte” acolhemos o testemunho de João sobre Jesus. No terceiro dia, mais um testemunho do Batista, este suscita em dois de seus discípulos a decisão de seguir Jesus. No quarto dia, Jesus encontra Filipe e o chama. É por isso que, no início do segundo capítulo, nos deparamos com esta expressão: “Três dias depois”, encerrando deste modo esta primeira semana descrita detalhadamente (Jo. 1,19 – 2,1).
Jesus é o verdadeiro Esposo, não somente para as comunidades cristãs, que foram se formando diante do anúncio das primeiras testemunhas, mas para toda a humanidade, para todos os povos, conforme já é proclamado no Salmo responsorial.
Dentre as festas que celebramos, a festa de casamento é uma das mais significativas. Sobretudo em Jo. 2,1-11 ela ganha relevância por nos orientar para a compreensão da comunhão definitiva de Deus com a humanidade.
Consideramos alguns pontos e símbolos: o noivo e a noiva são anônimos, nada expressam e nada realizam, eles ficam à sombra. Desde o início da narrativa se destacam a Mãe de Jesus e o próprio Jesus, que é convocado por ela para resolver a situação constrangedora da falta de vinho.
“No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galiléia”... A Mãe de Jesus é uma convidada próxima, atenta e comprometida. Ela já está lá quando Jesus chega com os discípulos. Maria percebe a falta do vinho e tem inclusive a liberdade de se dirigir ao Filho e posteriormente aos servos, que a escutam e se colocam a serviço de Jesus.
O momento festivo de um casamento na aldeia reunia muitas pessoas durante alguns dias e o vinho era a bebida principal oferecida aos convidados. Se o vinho acabava antes do término da festa, isso era constrangedor para os noivos. Porém, a falta de vinho neste casamento em Caná representa muito mais. Na Antiga Aliança judaica, estava faltando o Vinho do Amor incondicional de Deus; ele havia acabado em meio a um emaranhado de leis, que se multiplicaram misturadas com costumes, faltava a compaixão com os que estavam a margem e havia o escândalo da aliança de membros da classe sacerdotal com os opressores do povo.
As seis talhas de pedra destinadas à purificação denotam a piedade da família, era uma água destinada a uma finalidade religiosa, mas também manifestam que é insuficiente apenas a Primeira Aliança, que ela dá lugar a uma Nova Aliança alicerçada na abundância do Amor, para a plenitude de vida, que Jesus vem comunicar. É como comenta o Pe. José Antonio Pagola, sj, a Religião da Lei escrita em Tábuas de pedra não foi suficiente para libertar o ser humano. “A água só pode ser saboreada como vinho quando, segundo as palavras de Jesus, é tirada de seis grandes talhas de pedra”. Ele prossegue considerando que a religião que se torna fria e distante, precisa ser libertada pela fé e amor que Jesus comunica e que as nossas celebrações também precisam sinalizar a proximidade, a amizade e a alegria de Deus.
Somente Jesus pode introduzir amor e alegria em nossas celebrações e em nossas vidas. Todas as Igrejas cristãs precisam encontrar o modo certo de evangelizar e celebrar, para que os nossos contemporâneos encontrem entre nós e, no que celebramos e anunciamos, amor, esperança e alegria.
O melhor vinho quem traz é Jesus. Ele o traz para toda humanidade. Jesus é permanentemente fonte de vida nova. O Vinho bom jamais acabará, a vida e a mensagem de Jesus estarão sempre inspirando caminhos humanizadores e compassivos de doação e serviço.
O melhor vinho é abundante, ele jorra em nossa vida quando nos comprometemos em viver a fraternidade, porque o amor solidário nasce do reconhecimento de que somos todos irmãos e irmãs. Nós também somos os serventes, quando nos tornamos disponíveis para fazer tudo o que Jesus nos disser.
Nós também somos discípulos e discípulas, capazes de discernir este primeiro sinal, que aponta para algo mais profundo, que revela a identidade de Jesus e o seu agir salvador, que desperta em nós a grande graça de crer em Jesus, o Enviado do Pai.
“Há diversidade de dons, mas um mesmo Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus realiza todas as coisas em todos [...] A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum”.
Em Corinto os dons e carismas deram origem a invejas e competições, por isso Paulo orienta sobre a origem única destes dons e carismas, que é o Espírito, embora haja variedade na manifestação. A diversidade de carismas não quebra a unidade da comunidade, porque todo carisma individual é para o bem da comunidade. É o Espírito, em seu dinamismo soberano, que decide e distribui seus carismas e dons.
Os textos deste segundo domingo do tempo comum nos inspiram esperança, corresponsabilidade e clareza sobre o sentido da comunhão definitiva de Deus com a humanidade através do Amor e da Vida que Jesus comunica. Este Vinho bom, o melhor Vinho, é abundante e inesgotável.
- Estamos atentos/as em discernir na história, as lideranças que o Senhor convoca para realizar a libertação dos povos cativos e humilhados?
- Estamos abertos/as aos sinais que nos revelam com profundidade quem é Jesus e, deste modo, cultivamos nossa fé, para que possamos crer com maturidade no Enviado do Pai?
- Os dons e carismas que recebemos são colocados a serviço do bem comum em nossas comunidades, com simplicidade e humildade, ou ainda suscitam invejas e competições?