Deixar espaço ao Espírito

12 Julho 2024

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 6,7-13 que corresponde ao 15° Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Naquele tempo, Jesus chamou os doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de Naquele tempo, Jesus chamou os doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem sandálias e que não levassem duas túnicas. E Jesus disse ainda: "Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!" Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo.

Continuamos nossa leitura do Evangelho de Marcos. Jesus continua a formar seus discípulos e, na narrativa que nos é apresentada neste domingo, ele envia seus discípulos dois a dois, dando-lhes recomendações, em primeiro lugar, sobre como devem ir. Podemos resumir as primeiras instruções como pessoas "levemente carregadas". A primeira instrução é impressionante: não levem nada para a viagem, nem mesmo pão ou um saco, nem dinheiro. É uma missão que não responde aos paradigmas atuais de muitos grupos ou comunidades missionárias que se organizam durante meses para realizar essa tarefa. Jesus nos convida a uma missão que não requer preparativos, onde não é necessário levar quase nada, ou melhor, a única coisa importante: a disposição de ir, de sair, de responder a esse chamado que não tem um tempo específico, pois é a "qualquer momento".

Não se trata de uma "viagem", que geralmente tem uma rota determinada, um planejamento prévio, que implica preparar a mala e pensar cuidadosamente no que levar e com que finalidade. Às vezes, a missão pode se tornar uma viagem missionária, na qual se misturam o encontro com outras comunidades, a alegria de compartilhar a vida com elas e também a experiência de quem vai para lá pela primeira vez. São missões, às vezes, carregadas de bagagem, com materiais ou atividades preparadas para a comunidade com a qual se encontrarão, com algo planejado demais, em que a novidade ou a surpresa tem um tempo previamente designado.

Jesus "começou a enviá-los de dois em dois". A missão não é individual, mas compartilhada, em uma pequena comunidade de peregrinos. Ir de dois em dois é um sinal de igualdade e apoio mútuo que leva o que é estritamente necessário. "Dando-lhes poder sobre os espíritos impuros". Essa é a bagagem e a única mala que os discípulos levarão: o poder do Espírito. Esse é o ar que eles respirarão durante sua vida missionária. Jesus não os deixa abandonados à própria sorte, mas "sopra" sobre eles o poder sobre os espíritos malignos, que se torna o único "fardo" que terão de carregar.

Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho. Caminhem com leveza, sem fardos internos ou externos que atrapalhem cada passo. Confiem em seu Espírito que os guiará nas adversidades, os ajudará a vencer as tentações que surgirem ao longo do caminho, lhes dará a capacidade de discernir para onde ir, como entrar e sair das aldeias e lidar com as possíveis adversidades que surgirem. O fardo que eles devem carregar é a pobreza de serem pequenos diante de uma tarefa que está além deles, mas que eles levam adiante graças ao Espírito a quem recorrerão diariamente para soprar sobre eles e enchê-los com Sua vitalidade. Ele é sua força, a única "mochila" que levarão em sua jornada. Eles não são deixados vazios e desorientados. Eles estão cheios de Seu Espírito!

"Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés". Mais uma vez, Jesus nos convida a sermos livres, a não alimentar preconceitos, a não nos sobrecarregarmos com preconceitos, pensamentos e atitudes que se tornam determinantes para o caminho. Jesus nos convida a sacudir a poeira dos pés e a não nos alimentarmos de ressentimentos, de fofocas que não constroem o bem comum. Que a falta de solidariedade ou as injustiças que encontrarmos não alimentem nosso ego e nos tornem donos da "verdade", distorcendo a mensagem de Jesus! Podemos começar com leveza, mas carregamos isso conosco ao longo do caminho, perdendo o frescor do Espírito que não tem mais lugar para habitar. Nosso interior, nossas conversas, nossos olhares e, aos poucos, toda a nossa vida está sendo habitada por pensamentos, mal-entendidos, brigas, diálogos sem sentido e que não deixam espaço para o Espírito soprar em nós!

No Rio Grande do Sul e em outros lugares, há muitos de nossos irmãos e irmãs que perderam tudo por causa das enchentes. Eles não os abandonaram voluntariamente, mas a água os levou e eles estão lamentando lentamente a perda. Não são apenas objetos de valor, não apenas econômico, mas também emocional, seja a memória da família, os lugares que visitamos, as pequenas coisas que têm um valor importante em nossa história pessoal ou familiar. Encontramos famílias que ainda não podem voltar para suas casas – porque elas não existem mais – e precisam começar de novo. Também encontramos pessoas que tiveram de sair ou, em alguns casos, fugir, escapando de guerras ou de condições insalubres no local onde estão e não podem mais viver. Eles entregam seus filhos aos cuidados de outras pessoas para que, pelo menos, possam ter uma vida mais digna.

São pessoas que não têm "nada no caminho" porque tiveram que deixar tudo para trás. São obrigados a viver a pobreza e a fragilidade de uma vida de peregrino, sem nada, e em geral se tornam incentivadores da esperança para os outros, compartilhando o pouco que têm. Eles cuidam uns dos outros, demonstram solidariedade, dão prioridade aos mais frágeis e fracos. Situações que nos confrontam com nossa identidade missionária que, às vezes, ocupa tempo e lugar contrários às palavras de Jesus.

Como comunidade cristã, nós nos perguntamos: quantas coisas acumulamos em nossas vidas – de todos os tipos – que não deixam espaço para o sopro do Espírito. 

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