01 Março 2024
A passagem bíblica de João 2,13-25, que relata a expulsão dos vendedores do templo por Jesus, é uma narrativa densa e repleta de significados profundos. Este evento ocorre durante o período da Páscoa judaica, um momento de intensa atividade religiosa e econômica em Jerusalém. Jesus chega ao templo e encontra uma cena que contrasta com a sacralidade do lugar: comerciantes vendendo animais para sacrifícios e cambistas realizando transações financeiras.
A reflexão bíblica é elaborada por Marcelo Zanotti, historiador e membro da equipe do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, comentando o evangelho do 3º Domingo do Tempo da Quaresma, ciclo B do Ano Litúrgico, que corresponde ao texto bíblico de João 2,13-25.
Ao testemunhar essa profanação do espaço sagrado, Jesus reage com indignação, expulsando os vendedores, derrubando mesas e espalhando moedas. Sua ação não é apenas uma manifestação de ira, mas uma afirmação enérgica da santidade do templo e da integridade da adoração a Deus. Ele proclama: "Não façam da casa de meu Pai uma casa de comércio".
Essa passagem tem múltiplas camadas de significado e aplicações atemporais que ressoam até os dias de hoje. A mensagem central desta história transcende o contexto histórico específico e fala diretamente à condição humana e à nossa relação com o sagrado, com o materialismo e com a fé.
Em primeiro lugar, ela nos convida a refletir sobre a santidade dos espaços de culto e de nossa própria prática religiosa. O templo, como lugar de encontro com Deus, deve ser protegido de qualquer atividade que o profane ou o transforme em um local de interesses terrenos. Da mesma forma, somos chamados a cultivar uma atitude de reverência e respeito em nossas igrejas, mesquitas, sinagogas ou quaisquer lugares de culto.
Além disso, a expulsão dos vendedores do templo nos confronta com a tentação constante de colocar o materialismo acima da espiritualidade. Vivemos em uma sociedade consumista, em que muitas vezes a busca por lucro e conforto material obscurece nossa busca por valores espirituais mais elevados. Jesus nos lembra que a verdadeira adoração não pode ser comprada ou vendida, que a fé genuína não pode ser reduzida a transações comerciais.
A passagem também nos desafia a examinar nossas próprias atitudes em relação ao dinheiro e ao poder. Os cambistas no templo buscavam lucro pessoal à custa da devoção dos fiéis. Da mesma forma, somos confrontados com a tentação de colocar nossos próprios interesses egoístas acima dos princípios éticos e espirituais. Jesus nos lembra que não podemos servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo.
Olhando para o mundo contemporâneo, encontramos numerosas situações que ecoam as questões levantadas nesta passagem. A comercialização da religião, o consumismo desenfreado, a corrupção moral e a busca pelo poder são desafios que continuam a confrontar a humanidade. Em meio a essas realidades, somos chamados a seguir o exemplo de Jesus, mantendo-nos firmes em nossa fé e agindo com coragem e integridade, mesmo que isso signifique enfrentar oposição e resistência.
Em última análise, a passagem de João 2,13-25 nos convida a refletir sobre o verdadeiro custo de ser um homem ou uma mulher de fé. Requer sacrifício, coragem e uma disposição para desafiar as estruturas injustas e os valores distorcidos do mundo. Mas, ao mesmo tempo, oferece a promessa de uma vida vivida em comunhão com Deus, enraizada em valores eternos que transcendem as riquezas passageiras deste mundo.
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Qual o preço de um homem de fé? (Jo 2,13-25) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU