12º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Subsídio exegético

23 Junho 2023

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló.

Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.

Leituras do dia

1ª leitura - Jr 20,10-13
Salmo - Sl 68(69),8-10.14.17.33-35 (R. 14c)
2ª leitura - Rm 5,12-15
Evangelho - Mt 10,26-33

O Evangelho

Os versículos anteriores (24-25) estabeleceram uma identidade entre o/a discípulo/a e o mestre, entre o/a enviado/a e aquele que envia. Isto para dizer que o/a discípulo/a deve compartilhar o mesmo destino de sofrimentos do seu mestre: o/a discípulo/a não pode iludir-se pensando que vai subtrair-se. Todo o bloco anterior (10,17-25) mostrou uma perspectiva de perseguições e tribulações que ameaçam os/as discípulos/as de Jesus.

Jesus prepara os seus apóstolos a não sucumbir diante das dificuldades que encontrarão pelo caminho. Compreende-se, assim, perfeitamente, a passagem do v. 26 para uma exortação à confiança. A finalidade é preparar para as dificuldades futuras.

A primeira consequência que deriva da igualdade entre o/a discípulo/a e o mestre é que se deve ter a coragem de pregar o evangelho com franqueza, sem deixa-se atemorizar com as ameaças dos opositores. O verdadeiro ensinamento de Jesus não deve incentivar a timidez no testemunho dado pelos discípulos (“dizei-o à luz do dia… proclamai-o sobre os telhados”). Somente o Senhor é para ser temido, não as pessoas. E o verdadeiro temor a Deus implica uma profunda confiança.

Os vários ditos de Jesus são articulados em torno da expressão (mè phobeisthe) “não tenhais medo”. O/A discípulo/a deve professar a própria fé com coragem.

Na perícope destacam-se quatro temáticas: proclamação pública do Evangelho (v. 26-27); disponibilidade para enfrentar o martírio, sacrificando a vida física para obter a vida eterna (v. 28); motivos de confiança na Providência (v.29-31); profissão corajosa da fé messiânica (v. 32-33).

A distinção entre alma e corpo (psyché/sõma), “os que matam o corpo, mas não podem matar a alma”, é surpreendente em Mt, que normalmente raciocina com categorias hebraicas, onde esta distinção não subsiste, sendo a alma a “vida”. É ainda mais curioso, porque o próprio Lc 12,4 evita esse tipo de dicotomia. Mas um autor de língua grega, ainda que de matriz semita, não podia não ser influenciado pelas categorias helenísticas muito comuns, que são muito sutis e se prestam à reflexão sobre o estado depois da morte.

A morte mesma de Jesus vai ser o maior testemunho dessa confiança. Só o/a discípulo/a que não teme a morte, que não se acovarda diante daquele que pode atingir apenas o sõma, é capaz de viver uma vida digna de testemunha do Cristo.

Nos v. 29-31 se retorna a um modo de ver muito bíblico: a providência do Pai com os passarinhos, e inclusive com os cabelos de nossa cabeça! O raciocínio é: “valeis mais do que muitos pássaros”, que equivale a “de todos os pássaros”.

O verbo homologhéo equivale a “confessar” (3,6), “louvar” (11,25), mas também “declarar-se publicamente em favor alguém”, e é o caso do nosso texto (en emoí, por mim: v. 32).

Em Mc 8,38 e Lc 12,8 se cria certa tensão entre o “reconhecerJesus e “ser reconhecido” pelo Filho do homem. Mateus resolve  a aparente aporia. O contrário de “reconhecer” é “renegar” (arnéomai), um verbo que retornará na paixão (27,70), e que quer dizer “desconfessar” Jesus, não reconhecer-se mais n’Ele.

Relacionando com as Leituras

Da leitura do profeta Jeremias destaca-se a necessária confiança do profeta na assistência divina. Da Epístola aos Romanos colhe-se o encorajamento relacionado ao Evangelho: “o dom da graça não é como a transgressão”. Assim, ressalta-se o tema de toda a Liturgia da Palavra: o convite a não ter medo.

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