O papel da igreja no mundo (Mt 28,16-20)

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

20 Mai 2023

Mateus 28,16-20, conhecido como a Grande Comissão, é um dos trechos mais significativos da Bíblia, marcando o fim do Evangelho de Mateus e desenhando o papel da Igreja no mundo.

O comentário é de Marcelo Zanotti, historiador e membro da equipe do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Vamos refletir sobre esse passagem:

"Os onze discípulos foram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes indicara. Quando viram Jesus, adoraram, mas alguns ainda duvidaram. Aproximando-se, Jesus falou: 'Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos'."

Este evangelho fala de uma grande responsabilidade e uma grande promessa. A responsabilidade é a de fazer discípulos de todas as nações, que é, em essência, espalhar a mensagem do amor e do perdão de Deus para todos os cantos do mundo, batizando-os em nome da Trindade. É um chamado à evangelização, um lembrete para todos os cristãos do compromisso de partilhar a boa nova da salvação.

A grande promessa é a presença contínua de Jesus. Ele assegura que, embora tenha ascendido ao céu, ainda está presente na vida de seus discípulos: "E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos". Esta é uma promessa de constante companhia e apoio, um lembrete reconfortante de que não estamos sozinhos em nossas lutas e dificuldades. A presença de Jesus é constante e incondicional.

Este evangelho é, portanto, uma fonte de inspiração e de conforto. Inspiração, pois nos chama a assumir a responsabilidade de compartilhar o amor de Deus com o mundo. Conforto, pois nos garante que não estamos sozinhos em nossos esforços. Estamos acompanhados pelo próprio Jesus, que prometeu estar conosco "até o fim dos tempos".

Assim, ao refletirmos sobre esta passagem, somos convidados a nos perguntar: Como estou vivendo esta comissão em minha vida diária? Como posso ser um instrumento do amor de Deus no mundo? E, ao mesmo tempo, lembramos da promessa consoladora de Jesus de sua presença constante e de seu apoio incondicional em nossas vidas.

Podemos notar que, embora essa tarefa dada por Jesus possa parecer esmagadora, a verdadeira beleza deste chamado é que não nos é pedido que o façamos sozinhos. Jesus não diz: "Vão e façam tudo por conta própria". Ele nos oferece um modelo de parceria e comunidade. A Grande Comissão, portanto, não é apenas uma ordem para a ação individual, mas um convite para a ação coletiva e colaborativa na Igreja e na comunidade.

A presença de Jesus, prometida até o fim dos tempos, deve ser a nossa força e o nosso encorajamento. Não importa quão desafiadoras as circunstâncias possam ser, não importa quão pesada a cruz que estamos carregando, a promessa de Jesus é que Ele está conosco. Esta presença divina não apenas nos fortalece, mas também nos lembra da necessidade de estarmos presentes para os outros, de sermos a mão que ajuda, o ouvido que escuta e o coração que ama.

A Grande Comissão, portanto, é uma chamada à ação, mas é também uma chamada ao amor e à solidariedade. É um chamado para sairmos de nossas zonas de conforto e irmos ao encontro dos outros, partilhando com eles a mensagem de esperança e amor que encontramos em Jesus.

Em última análise, ao refletir sobre este evangelho, somos convidados a olhar para a nossa própria vida e perguntar: onde estou sendo chamado a fazer discípulos? Como posso incorporar o amor de Cristo em minhas ações diárias? Como posso sentir e partilhar a presença contínua de Jesus em minha vida e na vida dos outros?

Lembrar sempre do compromisso e da promessa de Jesus – essa é a verdadeira essência da Grande Comissão. E, ao refletir sobre isso, somos encorajados a continuar a nossa jornada de fé com renovada esperança, amor e determinação.

Dentro desse convite para a ação e essa promessa de presença eterna, Mateus 28,16-20 também nos convida à humildade. A humildade de saber que somos pequenos diante da grandiosa missão que temos, a humildade de aceitar que não somos perfeitos, mas que, mesmo assim, somos chamados a ser instrumentos de Deus.

O evangelho menciona que "quando viram Jesus, adoraram, mas alguns ainda duvidaram". Este é um lembrete de que, mesmo entre os discípulos mais próximos de Jesus, havia dúvida. Não estamos sozinhos em nossos questionamentos e incertezas. Isso nos lembra que a fé não é um caminho livre de dúvidas ou de questionamentos, mas que, mesmo em meio a eles, somos chamados a seguir em frente e a confiar em Deus.

Neste evangelho, também vemos a santíssima Trindade – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – reiterando a natureza trinitária de Deus, que é um mistério central da fé cristã. Somos chamados a batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o que nos lembra da rica complexidade de nossa fé.

Ao continuar refletindo sobre essa passagem, talvez possamos nos perguntar: onde estão as áreas de dúvida em minha fé e como posso me apoiar em Deus e na comunidade para navegar por elas? Como estou vivendo a minha fé de uma maneira que honra a complexidade e a riqueza da Trindade?

Cada um de nós tem um papel único a desempenhar na grande comissão de Jesus. Ao refletirmos sobre esse evangelho, podemos encontrar inspiração e orientação para cumprir nosso papel de uma maneira que honra a Deus e serve ao próximo. Somos, cada um de nós, parte desta grande comissão. E, no final das contas, é a promessa da presença constante de Jesus que nos sustenta em nossa jornada.

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