Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Primeira Leitura: Is 7,10-14
Segunda Leitura: Rm 1,1-7
Salmo: 24,1-3,3-4,5-6 (R 7c,10b)
Evangelho: Mt 1,18-24
Esta narrativa da comunidade de Mateus reflete suas profundas raízes no judaísmo e na lei judaica. Neste contexto, uma mulher grávida antes de ter consumado o casamento com seu prometido era uma falta gravíssima. Mas, por que Deus escolhera descumprir a própria lei? Seria para deixar evidente que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo na Virgem Maria? É possível, mas o que fica marcado nesta narrativa é que a Lei, mesmo aquela revelada por Deus, não pode limitar a revelação de Deus. Lembremos que o Evangelho segundo Marcos, anterior a Mateus, nem sequer aborda as narrativas das origens de Jesus, e Lucas, posterior, que aborda estes assuntos, também não se preocupa com o fato de Maria conceber sem ter conhecido homem algum (Lc 1,34).
A narrativa em si
Introdução: A gênesis de Jesus Cristo (v. 18a) – Que já foi anunciada em 1,1 (Livro do Registro da Genealogia – nascimento – filho de Davi, filho de Abrão).
1. A situação legal: Maria, sua mãe estava prometida a José (v.18b).
2. O problema legal: Antes de morarem juntos ficou grávida do Espírito Santo (v.18c).
3. A solução mais justa segundo a lei: José planejou deixa-la em segredo (v.19).
4. A intervenção divina: Não tenhas medo de receber Maria, tua esposa, foi gerado do Espírito Santo (...) lhe darás o nome Jesus e salvará o povo de seus pecados (v.20-21).
5. O projeto de Deus além da Lei: Para que se cumprisse o que disse o profeta “Deus-conosco” ou “Emanuel” (v.22-23; cf. Is 7,14 e 8,8.10).
6. A superação da Lei: José fez como o anjo tinha mandado (v.24).
7. Conclusão da gênesis divina de Jesus: Ele não teve relações com ela até que deu a luz um filho a quem deu o nome Jesus (v.25).
Jesus e Maria: O nome “Jesus” aparece três vezes na introdução, sendo também chamado “Cristo” e na conclusão, reafirmando que não é possível compreender o sentido da Encarnação de Deus em Cristo no estreito sentido da lei (v.18a e 25). Jesus é um nome divino, dado pelo anjo, reafirmando que é “Deus que salva” (sentido hebraico do nome). Maria, instrumento divino da salvação em Jesus, aparece duas vezes, mostrando que, embora condenada pela lei, foi acolhida por Deus (v.18b e 20b).
José: É nome que mais aparece. Ele representa os questionamentos das pessoas mais legalistas que poderiam duvidar de que a vontade divina fosse além da lei. Ele convida a superar todo preconceito e abraçar a salvação dos pecados através do acolhimento e da compaixão.
Deus-conosco (Emanuel) – O fato de dizer “que significa” (v.23b), mostra que as pessoas a quem estava dirigida a narrativa não eram de origem judaica e possivelmente também fossem questionadas por não se enquadrarem na lei. Assim este Deus-conosco, une o projeto salvador e libertador profético com o acolhimento universal de toda a humanidade em Jesus Cristo.
Isaías histórico, um sacerdote de Jerusalém, profetisa em tempos de grande ameaça, junto a Miquéias, um camponês, e ambos entendem que a opressão, a injustiça e a violência, só poderão ser superadas quando Deus habite no meio do seu povo, isto é, “Emanuel” (Is 7,14;8.10). Já o apóstolo Paulo escreve para a comunidade de Roma sobre este Jesus que, embora seja filho de Davi segundo a carne (Rm 1,3), promove a “obediência da fé” segundo o Espírito (v.4-5), deixando, depois bem estabelecido que não é a mesma coisa que obediência da lei (cf. Rm 2,27-29). Em Jesus Cristo a lei se torna compaixão e a fé acolhimento.