3º domingo de Páscoa - Ano C - Subsídio exegético

Por: MpvM | 29 Abril 2022

 

"Pedro, aquele que traiu Jesus três vezes, agora, chamado a liderar a Igreja, deve ressarcir suas traições pela tríplice profissão de amor. Esta é a versão joanina de Mt 16,16ss. Pedro e o discípulo amado representam carismas diferentes. Este último reconheceu o Ressuscitado antes de Pedro, mas Pedro, embora mais lento, é o chamado a apascentar o rebanho de Jesus. Para continuar esta obra, ele deve estar disposto a morrer por amor."

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:


Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

Leituras do dia

Primeira Leitura: At 5,27b-32.40b-41
Segunda Leitura: Ap 5,11-14
Salmo: 29,2.4-6.11-12a.13b
Evangelho: Jo 21,1-19

 

O Evangelho

 

Pode-se destacar dois grandes temas no Evangelho de hoje: o Cristo ressuscitado e a vocação de Pedro. Ele, e não o discípulo amado, é chamado a apascentar o rebanho, mas para isto, assume os atributos deste outro discípulo: o amor três vezes exigido.

 

O capítulo 21 do quarto evangelho é visto pelos estudiosos como acréscimo posterior e, embora tenha proximidade com Jo 1-20, reflete também os evangelhos sinóticos. É também conhecido como Atos dos Apóstolos de João, pois conta os primeiros passos da Igreja depois da ressurreição, quando Jesus já não está presente de forma física.

 

O relato parece um tanto estranho, pois os apóstolos que abandonaram tudo para seguir Jesus (Mc 10,28), agora, depois da crucificação, voltaram a pescar na Galileia. Teriam, eles, esquecido sua opção? Não. O texto é simbólico. A pesca é figura da Igreja na árdua tarefa de evangelizar. Sete pescadores representam a missão universal. Todos estão agindo sob a chefia de Pedro (é bom lembrar que no quarto evangelho não se destaca muito a liderança de Pedro como nos sinóticos). Alguns estudiosos julgam que este capítulo foi acrescentado tardiamente para harmonizar as comunidades joaninas com a Igreja dos sinóticos, onde Pedro era figura proeminente.

 

Aqui se realiza o que Jesus prometeu: “vos farei pescadores de homens” (Mc 1,17; Lc 5,10). O número de peixes que abarrota as redes demonstra a missão universal: todos os povos fazem parte da Igreja e ela se mantém una, não rompe. A Igreja deve acolher judeus e gregos, escravos e livres; homens e mulheres (Gl 3,28).

 

Como também em Lc 5,1-11, eles passam a noite sem nada pescar. Sem a presença do Ressuscitado, a Igreja se torna estéril. Clareando o dia, vem a Luz. Jesus é a alma da evangelização. Reconhecendo o Ressuscitado, a pesca será abundante. O sucesso da missão depende da experiência do Ressuscitado que os discípulos devem testemunhar e da obediência à sua palavra.

 

Trata-se de uma cena de refeição da Igreja primitiva (cf. At 2,42ss). A pesca serviria como preparo desta refeição, mas antes de os discípulos terem conseguido o alimento, Jesus já preparou pão e peixe assados sobre um braseiro (21,9). Agora eles a completam com o produto de seu trabalho.

 

Pedro, aquele que traiu Jesus três vezes, agora, chamado a liderar a Igreja, deve ressarcir suas traições pela tríplice profissão de amor. Esta é a versão joanina de Mt 16,16ss. Pedro e o discípulo amado representam carismas diferentes. Este último reconheceu o Ressuscitado antes de Pedro, mas Pedro, embora mais lento, é o chamado a apascentar o rebanho de Jesus. Para continuar esta obra, ele deve estar disposto a morrer por amor. Quando velho, Pedro estenderá as mãos e outro o conduzirá. Esta frase é uma referência ao rito de crucificação. O condenado abria as mãos para carregar a cruz, algum soldado o cingia e o levava para onde ele não queria ir. A tríplice prova de amor é a superação da ambição de Pedro. Ele, que não queria ter seus pés lavados, pois achava que o superior deve ser servido, um dia, como coordenador, saberá dar a vida e não se fazer servir. Sem o amor isto é impossível.

 

Relacionando com as outras leituras

 

At 5,27b-32.40b-41: Diante das dificuldades, Pedro e os demais apóstolos dão testemunho da ressurreição e apresentam o Ressuscitado como o salvador. Alegram-se por poder sofrer pelo nome de Jesus, conforme última Bem-aventurança (Mt 5,11s; Lc 6,22s). Aqui fica claro que os apóstolos, de fato, abandonaram tudo, como visto em Mt 10,28, para enfrentar as dificuldades e levar o Evangelho aos povos, mesmo enfrentando os maiores perigos.

 

Ap 5,11-14: O Cordeiro (o Ressuscitado) recebe os atributos divinos: tudo, no céu e na terra, adora ao Pai (Ap 4) e igualmente ao cordeiro (Ap 5).

 

As três leituras apontam para a ressurreição de Jesus. Esta fé levou Pedro e seus companheiros a enfrentar todas as dificuldades até o martírio. Quem presenciou Jesus morto e ressuscitado, pode arriscar tudo e levar esta Boa Notícia a todos os povos, pois ela é a mensagem central da fé cristã.

 

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