27 Agosto 2021
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 7,1-8.14-15.21-23, que corresponde ao 22º domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
A crise religiosa vai-se decantando pouco a pouco em direção à indiferença. Normalmente, não se pode falar propriamente de ateísmo, nem mesmo de agnosticismo. O que melhor define a posição de muitos é uma indiferença religiosa onde já não há questões, nem dúvidas, nem crises.
Não é fácil descrever esta indiferença. A primeira coisa que se observa é a ausência de inquietação religiosa. Deus não interessa. A pessoa vive na despreocupação, sem nostalgias nem qualquer horizonte religioso. Não se trata de uma ideologia. É, mais bem, uma «atmosfera envolvente» onde a relação com Deus fica diluída.
Há vários tipos de indiferença. Alguns vivem nestes momentos um afastamento progressivo; são pessoas que se vão distanciando cada vez mais da fé, cortam laços com o religioso, afastam-se da prática; pouco a pouco Deus vai-se apagando nas suas consciências. Outros vivem simplesmente absorvidos pelas coisas de cada dia; nunca se interessaram muito por Deus; provavelmente receberam uma educação religiosa débil e deficiente; hoje vivem esquecidos de tudo.
Em alguns, a indiferença é fruto de um conflito religioso, vivido por vezes em segredo; sofreram medos ou experiências frustrantes; não guardam uma boa recordação do que viveram em crianças ou adolescentes; não querem ouvir falar de Deus, pois isso magoa-os; defendem-se esquecendo-o.
A indiferença de outros é, antes, o resultado de circunstâncias diversas. Deixaram a pequena povoação e hoje vivem de forma diferente num ambiente urbano; casaram com alguém pouco sensível ao religioso e mudaram de costumes; separaram-se do seu primeiro cônjuge e vivem numa situação de casal não "abençoado" pela Igreja. Não é que estas pessoas tenham tomado a decisão de abandonar Deus, mas na verdade as suas vidas vão-se afastando Dele.
Há ainda outro tipo de indiferença encoberta pela piedade religiosa. É a indiferença de quem se habituou a viver a religião como uma «prática externa» ou uma «tradição rotineira». Todos devemos ouvir a queixa de Deus. Jesus recorda-nos com palavras tomadas do profeta Isaías: «Este povo honra-me com os lábios, mas os seus corações estão longe de mim».
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Indiferença progressiva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU