A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 4,35-41, que corresponde ao 12° domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Pouco se ouve falar hoje da «providência de Deus». É uma linguagem que tem caído em desuso ou que se converteu numa forma piedosa de considerar certos acontecimentos. No entanto, acreditar no amor providente de Deus é uma característica básica do cristão.
Tudo brota de uma convicção radical. Deus não abandona nem se desentende daqueles a quem cria, mas sustenta sua vida com amor fiel, vigilante e criador. Não estamos à mercê do acaso, do caos ou da fatalidade. No interior da realidade está Deus, conduzindo o nosso ser para o bem.
Esta fé não liberta de penas e trabalhos, mas enraíza o crente na confiança total em Deus, que expulsa o medo de cair definitivamente sob as forças do mal. Deus é o Senhor último das nossas vidas. Daí o convite da primeira carta de São Pedro: «Entreguem-lhe toda a vossa ansiedade, porque ele cuida de vós». (1 Pedro 5,7).
Isto não quer dizer que Deus «intervenha» nas nossas vidas como intervêm outras pessoas ou fatores. A fé na Providência caiu por vezes em descrédito precisamente porque foi entendida num sentido intervencionista, como se Deus se intrometesse nas nossas coisas, forçando os acontecimentos ou eliminando a liberdade humana. Não é assim. Deus respeita totalmente as escolhas das pessoas e a marcha da história.
Por isso, não se deve dizer propriamente que Deus «guia» as nossas vidas, mas sim que oferece sua graça e sua força para que nós a orientemos e guiemos para o nosso bem. Assim, a presença providencial de Deus não leva à passividade ou à inibição, mas à iniciativa e criatividade.
Por outro lado, não devemos esquecer que, embora possamos captar sinais do amor providencial de Deus em experiências concretas da nossa vida, a sua ação permanece sempre inescrutável. O que hoje nos parece mau pode ser amanhã uma fonte de bem. Somos incapazes de abarcar a totalidade da nossa existência; escapa-nos o sentido final das coisas; não podemos compreender os acontecimentos nas suas últimas consequências. Tudo está sob o sinal do amor de Deus, que não esquece nenhuma das suas criaturas.
Nesta perspectiva, a cena do Lago Tiberíades adquire toda a sua profundidade. No meio da tempestade, os discípulos veem Jesus dormindo confiantemente no barco. Do seu coração cheio de medo brota um grito: «Mestre, não te importa que nos afundemos?». Jesus, depois de contagiar a sua própria calma ao mar e ao vento, diz-lhes: «Por que sois tão covardes? Ainda não tendes fé?».