05 Fevereiro 2021
Publicamos aqui o comentário de Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste 5º Domingo do Tempo Comum, 7 de fevereiro de 2021 (Marcos 1,29-39). A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No domingo passado, começamos a ler o relato do “dia de Cafarnaum” (cf. Mc 1, 21-34), exemplo concreto de como Jesus vivia, falando do reino de Deus e realizando sinais que o anunciavam. E hoje o relato continua...
Jesus e seus primeiros quatro discípulos, saindo da sinagoga, vão à casa de dois deles, Pedro e André. Assim como havia uma dimensão pública da vida de Jesus, assim também havia uma dimensão privada: a vida vivida com seus discípulos ou com seus amigos, a vida em casa, onde conversavam, se escutavam, comiam juntos e descansavam.
Estas também são dimensões humanas da vida de Jesus, às quais, infeliz e facilmente, não prestamos atenção, mas fazem parte da realidade, do ofício da vida cotidiana...
Assim como nos esquecemos de que Pedro, tendo uma sogra, não era celibatário, mas casado, embora não tenhamos informações mais precisas: tinha filhos? Era viúvo? Certamente, o encontro com Jesus mudou a vida do pescador Simão, que, significativamente, dirá depois a Jesus: “Nós deixamos tudo e te seguimos” (Mc 10,28).
Agora, tendo entrado na casa de Pedro e André, eles se dão conta de que ninguém os acolhe: deveria ser a tarefa da sogra de Pedro, mas uma febre a mantém na cama. A febre é uma indisposição que ocorre com frequência e certamente não é grave ou preocupante. Jesus, informado disso, se aproxima dessa mulher acamada, pega-a pela mão e a faz se levantar.
Ele quer conhecê-la e, assim que se aproxima dela, sem dizer uma palavra, realiza gestos simples, muito humanos, afetuosos: pega na sua mão aquela mão febril, desenvolve uma relação repleta de afeto e, depois, com força, ajuda-a a se levantar.
Esses são os gestos de Jesus que curam: não são gestos de um curandeiro profissional, nem gestos médicos, muito menos gestos mágicos. Se estivermos atentos, compreenderemos que, a exemplo de Jesus, devemos acima de tudo nos aproximar de um doente, fazer-nos próximos, tirá-lo do seu isolamento, pegando a sua mão na nossa, em um contato físico que lhe diga a nossa presença real e, enfim, fazer alguma coisa para que o outro se levante do seu estado de prostração.
Essa ação com que Jesus liberta a mulher da febre pode parecer uma pouca coisa (“um milagre desperdiçado”, escreveu um exegeta!), mas a febre é o sinal mais comum que nos mostra a nossa fragilidade e nos preanuncia a morte da qual toda doença é indício. Sim, Jesus está sempre agindo nos nossos corpos e nas nossas vidas, e sempre discerne, mesmo onde só há febre, que o ser humano adoece para morrer, que qualquer doença é uma contradição da vida plena desejada pelo Senhor para cada um de nós.
Portanto, não nos detenhamos na crônica da ação de Jesus, mas compreendamos como ele, Aquele que vem com o seu Reino, está lutando contra o mal, fazendo-o recuar, até vencer a morte cujo rei é o demônio, aquele que dá a morte e não a vida.
Assim, Jesus aparece como aquele que faz levantar, ressuscita – verbo egheíro, usado para a ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 5,41) e para a própria ressurreição de Jesus (cf. Mc 14,28; 16,6) – cada homem, cada mulher da situação de mal em que se encontra. Ele dá “os sinais” do reino de Deus que vem, onde “nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, quando Deus enxugar todas as lágrimas dos nossos olhos” (cf. Ap 21,4; Is 25,8). Quando Jesus cura concretamente, ele narra Deus como Rapha’el, “aquele que cura” (cf. Ex 15,26) e aparece como médico dos corpos e das almas (cf. Mc 2,17).
O que se destaca como fruto desse “fazer levantar” por parte de Jesus é o imediato serviço, a pronta diakonía por parte da sogra de Pedro. Levantados do mal, cabe a nós o serviço aos outros, porque servir ao outro, cuidar do outro é viver o amor por ele: o amor pelo outro é a vontade e a realização do seu bem. No caso presente, essa mulher, já de pé, dá de comer a Jesus e aos seus discípulos, servindo a quem a serviu até a libertar da sua doença.
Chegando a noite, o dia descrito por Marcos como o primeiro em que Jesus atua está quase terminando, mas eis que, de toda a cidade, doentes e endemoninhados são levados até a porta da casa onde ele se encontra. Com ênfase, o evangelista escreve “todos os doentes... a cidade inteira”, porque o afluxo foi considerável.
O que todas aquelas pessoas procuravam? Acima de tudo, a cura, mas certamente também desejavam ver milagres: a medicina era muito cara, muitas vezes sem eficácia, e, além disso, naquele tempo, havia muitos exorcistas, curandeiros, magos aos quais as pessoas iam. Aqueles que foram ao encontro de Jesus, porém, não encontram nem um mago nem um milagreiro. Encontram alguém que cura as pessoas que ele encontra falando, entrando em relação, mas sobretudo despertando nos doentes a fé-confiança: e quando Jesus encontra essa confiança, então pode se manifestar a vida mais forte do que a morte.
Jesus não curava todos, mas – dizem os Evangelhos – curava todos aqueles que ele encontrava, e as suas libertações da doença, do pecado ou do demônio queriam ser sinais, indicações do reino de Deus que ele anunciava e pedia para acolher. Como Mateus interpreta à margem deste trecho, ele se manifesta como o Servo do Senhor que “tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas doenças” (Mt 8,17; Is 53,4).
Jesus luta contra as doenças para fazer recuar o poder do mal e do demônio, mas isso ocorre às custas de carregar sobre si mesmo os sofrimentos que ele tenta derrotar! Assim Pedro sintetizará em uma pregação relatada pelos Atos dos Apóstolos: “Jesus de Nazaré passou fazendo o bem e curando todos os que estavam sob o poder do diabo” (At 10,38), porque toda situação de distanciamento de Deus e de domínio da morte se deve à ação do demônio
Vem a noite, mas esta também é feita para agir: antes do amanhecer, Jesus sai de casa, vai a um lugar solitário e lá reza. É a sua oração da manhã, oração que espera o nascer do sol, invocando o Senhor e louvando-o pela luz que vence a noite. Essa ação noturna de Jesus não é secundária, não é um simples apêndice do dia. É a fonte do seu falar e do seu agir, é o início do seu “ritmo” quotidiano, é aquilo que lhe dá a postura para viver todo o dia inteiro na companhia dos homens e mulheres: porque ele é sempre o enviado de Deus, aquele que deve sempre “contá-lo” (cf. Jo 1,18) aos homens e mulheres, e por isso está sempre em comunhão com ele.
A oração de Jesus à noite, em lugares desertos, na solidão, é testemunhada várias vezes pelos Evangelhos, até aquela oração com a qual ele prepara espiritualmente a sua paixão e morte. Oração cheia de confiança, na qual Deus é sempre invocado como “Abbá, papai querido e amado”; oração na qual Jesus discerne a vontade desse Pai que é amor e encontra caminhos para realizá-la; oração na qual o Espírito Santo, companheiro inseparável de Jesus, é para ele força e consolação.
A vigília, a oração noturna que é operação de todo o corpo e não só das faculdades mentais, é decisiva na vida do cristão, que nunca deve esquecer essa “atividade”, verdadeira ação de Jesus.
Mas os primeiros discípulos, a pequena comunidade recém-formada, por iniciativa de Simão, procura Jesus, e nessa “busca de Jesus” há muito mais do que uma busca voltada a saber onde ele está. Na realidade, o quaerere Deum, no Evangelho segundo Marcos, torna-se quaerere Jesum, buscar Jesus. E, quando o encontram com a significativa intenção de rezar, dizem-lhe: “Todos estão te procurando!”.
Quase o perseguem, mas para quê? Aqui se testemunha o desejo de ver, ouvir, encontrar, pedir curas, invocar a libertação do demônio. “Todos estão te procurando!”, dizem os discípulos; de acordo com o quarto Evangelho, até mesmo os pagãos dirão: “Queremos ver Jesus!” (Jo 12,21)...
Mas Jesus responde: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu saí”. É hora de partir, de continuar a missão juntos em outros vilarejos ainda não alcançados pela boa notícia, pelo Evangelho do Reino. Mas o fundamento de toda essa missão – “Para isso que eu saí” – continua sendo uma expressão ambígua: saído da cidade à noite, ou saído de Deus, do Pai, como entenderíamos se essa expressão fosse atestada pelo quarto Evangelho?
Eis a missão de Jesus: ele foi enviado pelo Pai e saiu ao mundo para fazer o bem e dar a salvação. E assim, de vilarejo em vilarejo, no sábados de sinagoga em sinagoga, Jesus pregava e tirava espaço dos demônios. De Cafarnaum a toda a Galileia...
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Jesus acolhe e cura muitos doentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU