31 Agosto 2023
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.
Evangelho: Mt 16,21-27
Primeira Leitura: Jr 20,7-9
Segunda Leitura: Rm 12,1-2
Salmo: Sl 62,2-6.8-9
O texto deve ser lido como consequência da Profissão de Pedro (Mt 16,13-20), quando se completa o ensino sobre esta profissão. Cinco vezes Jesus anuncia sua paixão, morte e ressurreição (Mt 16,21ss; 17,9; 17,22s; 20,17ss; 26,45). O texto de hoje, compreende o primeiro anúncio com suas consequências e pode ser dividido em três partes: o primeiro anúncio (v.21), a reação de Pedro (vv.22-23) e as consequências para os discípulos (vv.24-27).
Provavelmente o v. 21 seja o reflexo de um único dito original dos últimos dias de Jesus em Jerusalém (cf. Mc 14,41; Mt 26,45), mas que foi retomado em ambiente pós-pascal numa perspectiva apocalíptica do conceito de Filho do Homem de Dn 7,13s.27s onde este título é símbolo do resto fiel de Israel, que sofreu as agruras de Antíoco Epífanes, mas com a certeza da vitória final. Chamando para si o conceito de Filho do Homem, Jesus assume a morte trágica, bem como a exaltação gloriosa da ressurreição.
Não era difícil, nos últimos dias em Jerusalém, prever a própria morte de cruz. Neste contexto, Jesus teria se entendido à luz de Dn 7,13ss, assumindo a tragédia da morte, confiando na vitória da ressurreição. Mais tarde, as comunidades replicaram esta autointerpretação de Jesus e a colocaram nos diversos textos dos anúncios da paixão. O v. 21 usa o título Jesus Cristo, o que não se encontra em Mc 8,31, nem em Lc 9,22. Cristo é título messiânico pós-pascal, portanto, se confirma, que este versículo, é desenvolvimento da comunidade de Mateus. No texto paralelo de Mc 8,29-31 isto se torna mais evidente. Pedro professa Jesus como o Cristo (v.29) e Jesus corrige a perspectiva de Pedro com o título de Filho do Homem sofredor (v.31).
Jesus diz que devia ir a Jerusalém ao encontro da morte. Este dever ir não é fatalidade, mas sim, o preço do confronto com o império da morte representado pelas autoridades. Trata-se do preço inevitável que Jesus pagará em sua fidelidade ao Pai diante do poder de morte que impera no mundo. Ele sofrerá a sorte dos profetas (Mt 23,34) que enfrentaram toda sorte de oposições. Em tudo isto, no entanto, está a promessa da ressurreição. O poder da morte não tem a última palavra.
O messianismo do Cristo que vai ao encontro da morte (vv.22-23) não entra na concepção de Pedro. Por isto ele, de pedra-rocha (v.17) vai para pedra de tropeço (v.23). Ele quer desviar Jesus da fidelidade ao Pai e isto é, segundo Jesus, satânico. Pedro, o iluminado por Deus (v.17), agora tem um pensamento humano. Seu conceito de Cristo é segundo a lógica humana, que é insensatez diante de Deus (1Cor 1,17ss). A esperança messiânica ilustrada com sonhos de glória triunfalista sobre os adversários era muito comum desde o AT, mas isto é sonho humano ainda nos tempos da redação dos evangelhos (cf. Mc 10,35-45 e Mt 20,20-28). Pedro, como o demônio (Mt 4,10) quer desviar Jesus de seu projeto, por isto Jesus diz: “vai para trás de mim”. Ou seja, você se colocou na minha frente, quer me ensinar. Voltar para trás, é assumir novamente o lugar de discípulo.
Os ditos dos vv.24-27 são frases aleatoriamente ajuntadas (cf. Mt 10,38s), ilustram que, o messianismo que assume a morte terá de se traduzir também na vida dos discípulos. Assim, seguir um messias sofredor é bem diferente de seguir um triunfalista. Isto se demonstra em três momentos: a) renunciar a si: interesses próprios, b) tomar a cruz: enfrentar as adversidades e c) seguir Jesus: o caminho do Filho do Homem que vai à morte, enfrentando os poderes do anti-reino.
O Profeta Jeremias, como mais tarde Pedro e os demais discípulos, teve de aprender que, ser fiel a Deus tem um preço: o sofrimento, o escárnio, e a perseguição. Daí resulta para todos os discípulos e discípulas que, ser fiel a Cristo hoje é, a exemplo de Jeremias e de Pedro, assumir as dores do confronto com os contra-valores que também hoje querem desviar o evangelho da fidelidade a Deus.
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22º domingo do tempo comum – Ano A – Subsídios Exegéticos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU