A alegria possível

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06 Dezembro 2019

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 1,26-38, que corresponde à Solenidade da Imaculada Conceição, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto.

A primeira palavra de Deus aos Seus filhos, quando o Salvador se aproxima do mundo, é um convite à alegria. É o que escuta Maria: «Alegrai-vos».

Jürgen Moltmann, o grande teólogo da esperança, expressou-o assim: «A palavra última e primeira da grande libertação que vem de Deus não é ódio, mas alegria; não é condenação, mas absolvição”. Cristo nasceu da alegria de Deus e morre e ressuscita para levar a sua alegria a este mundo contraditório e absurdo.

No entanto, a alegria não é fácil. A ninguém se pode forçar a estar alegre; não se pode impor a alegria desde fora. O verdadeiro gozo deve nascer do mais fundo de nós mesmos. Caso contrário, será riso exterior, gargalhada vazia, euforia passageira, mas a alegria ficará fora, à porta do nosso coração.

A alegria é um presente bonito, mas também vulnerável. Um dom que devemos cuidar com humildade e generosidade no fundo da alma. O romancista alemão Hermann Hesse diz que os rostos atormentados, nervosos e tristes de tantos homens e mulheres se devem a que «a felicidade só pode ser sentida pela alma, não pela razão, nem pela barriga, nem pela cabeça, nem pela bolsa».

Mas há algo mais. Como se pode ser feliz quando há tanto sofrimento na Terra? Como se pode rir quando ainda não estão secas todas as lágrimas e brotam diariamente outras novas? Como aproveitar quando dois terços da humanidade estão afundados na fome, miséria ou guerra?

A alegria de Maria é a alegria de uma mulher crente que se alegra em Deus, Salvador, o que eleva os humilhados e dispersa os soberbos, o que colma de bens os famintos e dispensa o rico vazio. A alegria verdadeira só é possível no coração do que anseia e busca justiça, liberdade e fraternidade para todos. Maria alegra-se em Deus, porque vem consumar a esperança dos abandonados.

Só se pode ser alegre em comunhão com os que sofrem e em solidariedade com os que choram. Só tem direito à alegria quem luta para torná-la possível entre os humilhados. Só pode ser feliz quem se esforça por fazer felizes os outros. Só pode celebrar o Natal quem procura sinceramente o nascimento de um novo homem entre nós.

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