24 Novembro 2017
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 25,31-46 que corresponde a Solenidade de Jesucristo Rei do Universo, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O relato não é propriamente uma parábola, mas uma evocação do juízo final de todos os povos. Toda a cena se concentra num diálogo longo entre o juiz, que não é outro que Jesus ressuscitado, e dois grupos de pessoas: os que aliviaram o sofrimento dos mais necessitados e os que viveram negando-lhes a sua ajuda.
Ao longo dos séculos, os cristãos viram neste diálogo fascinante «a melhor recapitulação do Evangelho», «o elogio absoluto do amor solidário» ou «a advertência mais grave a quem vive refugiado falsamente na religião». Vamos assinalar as afirmações básicas.
Todos os homens e mulheres, sem exceção, serão julgados pelo mesmo critério. O que dá um valor imperecível à vida não é a condição social, o talento pessoal ou o êxito realizado ao longo dos anos. O decisivo é o amor prático e solidário aos necessitados de ajuda.
Este amor traduz-se em atos muito concretos. Por exemplo, «dar de comer», «dar de beber», «acolher o imigrante», «vestir os nus», «visitar os doentes ou os presos». O decisivo ante Deus não são as ações religiosas, mas estes gestos humanos de ajuda aos necessitados. Podem brotar de uma pessoa crente ou do coração de um agnóstico que pensa nas pessoas que sofrem.
O grupo dos que ajudaram os necessitados que foram encontrando no seu caminho não o fez por motivos religiosos. Não pensou em Deus nem em Jesus Cristo. Simplesmente procurou aliviar um pouco o sofrimento que há no mundo. Agora, convidados por Jesus, entram no reino de Deus como «benditos do Pai».
Por que é tão decisivo ajudar os necessitados e tão condenável negar-lhes a ajuda? Porque, segundo revela o juiz, o que se faz ou se deixa de fazer a eles está-se a fazer ao mesmo Deus encarnado em Cristo. Quando abandonamos um necessitado, estamos a abandonar Deus. Quando aliviamos o seu sofrimento, estamos fazendo-o com Deus.
Esta surpreendente mensagem coloca-nos a todos olhando para os que sofrem. Não há religião verdadeira, não há política progressista, não há proclamação responsável dos direitos humanos se não é defendendo os mais necessitados, aliviando o seu sofrimento e restaurando a sua dignidade.
Em cada pessoa que sofre, Jesus sai ao nosso encontro, olha-nos, interroga-nos e interpela-nos. Nada nos aproxima mais Dele que aprender a olhar demoradamente o rosto dos que sofrem com compaixão. Em nenhum lugar poderemos reconhecer com mais verdade o rosto de Jesus.
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