07 Junho 2013
Levanta-te! Depois da Palavra do Messias-Profeta a um pagão, temos hoje a sua palavra dirigida ao filho da viúva de Naim: "Jovem, eu te ordeno, levanta-te!" Palavra anunciada pela voz do profeta Elias, na 1ª leitura: "Eis aqui o teu filho vivo!" Este é o Domingo do novo Elias, o domingo da nova Páscoa!
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras 10º Domingo do Tempo Comum. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: 1 Rs 17-24
2ª leitura: Gl 1,11-19
Evangelho: Lc 7,11-17
As duas multidões
A ressurreição do filho da viúva, na primeira leitura, acontece na intimidade de um quarto fechado, sem testemunhas; a do evangelho acontece em plena luz do dia, em público. O evangelista nos faz ver duas "grandes multidões" (as palavras são as mesmas do texto grego) caminhando uma em direção à outra: a que acompanha Jesus e a que acompanha a viúva. A primeira caminha em direção à vida: sua esperança se funda em Jesus que acaba de curar o servo do centurião. A segunda caminha em direção à morte. A primeira entra na cidade, lugar da vida e da sociedade dos homens; a segunda sai da cidade. É preciso lembrar Hb 13,12-14, onde vemos Jesus, por sua vez, sair da cidade para a morte. Aí também será preciso acompanhá-lo... Multidão alegre e multidão triste. Apesar de tanta gente em volta, vejo Jesus e a viúva como dois solitários. Jesus, porque as pessoas não o compreendem e irão abandoná-lo no momento crucial; a viúva, porque ninguém pode verdadeiramente estar junto a ela, ali onde se encontra: a multidão não pode impedi-la de ter perdido um ser sem o qual, para ela, o mundo está vazio. Um contato vai, então, se estabelecer entre estes dois seres solitários e Jesus põe em ação o seu poder sobre a morte, em prelúdio à sua própria ressurreição pela qual toda solidão será superada.
Jesus foi tomado de compaixão
Lucas nos mostra Jesus ser, uma vez mais, como que surpreendido por um sentimento, uma atitude íntima, provocada pelo que vê acontecer com as pessoas que encontra. No domingo passado, foi a admiração; hoje, é a compaixão. Em Israel, a viúva e o órfão são os pobres entre os pobres, seres que não têm ninguém para defendê-los. Esta mulher simboliza todo o sofrimento humano. Não apenas a angústia psicológica, a angústia de fato sentida: seu sofrimento real é não ter mais ninguém para continuá-la. É desaparecer sem deixar qualquer traço entre os homens: a dor de uma vida dali para frente inútil. Esta é a mensagem proclamada pela morte, por este morto que se vai enterrar. Jesus vai manifestar por que veio: dar a vida. Na primeira leitura, a mulher se engana a respeito do profeta, figura do Cristo, e sobre Deus: "Porventura vieste à minha casa para me lembrares dos meus pecados e matares o meu filho?" Elias vai fazer pressentir, e Jesus vai revelar plenamente, que Deus é o Deus da vida. Diante do pecado, Ele é perdão; diante da morte, ressurreição. "Glorificar a Deus" (v.15) é reconhecer isto; e o medo a que aqui se refere não é o medo de um Deus que quisesse o mal do homem, mas a surpresa, a estupefação diante da certeza de que não estamos mais destinados à morte. "Os que o carregavam pararam": o caminho para o túmulo não é mais possível; os que agem para extinguir a vida são imobilizados. O jovem vai ser “entregue à sua mãe", como na primeira leitura: quando morto, estava entregue a mãos estranhas.
Jesus e a viúva
A mulher da primeira leitura insurge-se contra a morte e lança injúrias contra o profeta. O centurião de Cafarnaum era mais sereno, mas havia preparado um modo de abordagem em seu nome; um modo de abordagem que continha toda a fé do mundo. A viúva de Naim não fez nada, não disse nada: tudo partiu de Jesus. Em nenhum momento se fala da sua fé. O centurião tinha muitos "méritos" (v. 4-5). A viúva não tinha nada disso. A única coisa que chama por ela é o seu sofrimento “mudo”. Este milagre não tem, pois, nenhuma explicação fora do que se passa no Cristo; em Deus. Temos aí uma demonstração do que Paulo irá explicar ao longo das suas cartas: a salvação de Deus nos vem gratuitamente, sem que possamos nos prevalecer do que quer que seja para justificá-la. Aqui, a fé não está com certeza ausente, mas não é uma fé que precede à ação salvadora do Cristo, é uma fé que se segue a ela: é no fim que todos dizem: "Deus veio visitar o seu povo". Assim, a própria fé já é fruto da salvação, esta ação de Deus em nós e através de nós. Deus nos ama porque Ele é amor, não porque mereçamos ser amados. E, em nós, este amor gera vida. Isto é o que temos que acolher com fé. Este acolhimento é o único meio para deixar que este amor opere em nós a sua obra de ressurreição. E isso vale para todas as situações mais ou menos mortais que a existência nos faz atravessar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Dois cortejos se cruzam: alegre um; já o outro, cheio de dor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU