01 Junho 2015
Jesus foi para casa, e de novo se reuniu tanta gente que eles não podiam comer nem sequer um pedaço de pão. Quando souberam disso, os parentes de Jesus foram segurá-lo, porque eles mesmos estavam dizendo que Jesus tinha ficado louco.
Alguns doutores da Lei, que tinham ido de Jerusalém, diziam: “Ele está possuído por Belzebu”; e também: “É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios.”
Então Jesus chamou as pessoas e falou com parábolas: “Como é que Satanás pode expulsar Satanás?
Se um reino se divide em grupos que lutam entre si, esse reino acabará se destruindo; se uma família se divide em grupos que brigam entre si, essa família não poderá durar. Portanto, se Satanás se levanta e se divide em grupos que lutam entre si, ele não poderá sobreviver, mas também será destruído. Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar suas coisas, se antes não amarrar o homem forte. Só depois poderá roubar a sua casa.
Eu garanto a vocês: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados como as blasfêmias que tiverem dito. Mas, quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, pois a culpa desse pecado dura para sempre.” Jesus falou isso porque estavam dizendo: “Ele está possuído por um espírito mau.”
Nisso chegaram a mãe e os irmãos de Jesus; ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo: Havia uma multidão sentada ao redor de Jesus. Então lhe disseram: “Olha, tua mãe e teus irmãos estão aí fora e te procuram.” Jesus perguntou: “Quem é minha mãe e meus irmãos?” “Então Jesus olhou para as pessoas que estavam sentadas ao seu redor e disse: «Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”
(Correspondente ao 10º Domingo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico).
Escutamos o Evangelho de Marcos onde Jesus é apresentado como contínuo itinerante; ele está permanentemente em movimento. Hoje, no texto que a Liturgia nos oferece para meditar Jesus volta para sua casa, onde ele reúne um grande grupo de pessoas.
Aparecem os parentes de Jesus como aqueles que não o entendem e julgam Jesus fora de si. No fundo a pergunta que está por trás é sobre sua origem, de onde ele recebe o poder de curar, de sanar.
A mãe de Jesus aparece também no meio daqueles que não entendem sua mensagem. Mas a mensagem que se nos quer transmitir é por que a grandeza de Maria está na sua fé e não porque ela é “mãe” de Jesus.
A partir desta ótica entende-se melhor que, no final do texto, Jesus diga que seu pai, sua mãe e seus irmãos são aqueles que estão ao seu redor escutando-o. Lucas vai dizer que são aqueles que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática são seu pai, sua mãe e seus irmãos.
Aparecem os doutores da Lei acusando-o de estar “possuído pelo Belzebu” e também que a origem de seu poder é o príncipe dos demônios que faz expulsar demônios.
A resposta de Jesus, colocada pelo evangelista como parábolas, contém três elementos a considerar.
Respeito ao poder de Jesus. Se a origem provém de Satanás, então é um reino dividido que nunca conseguiria ficar em pé. Utiliza também a imagem da família que, se estiver dividida em grupos, nunca poderá subsistir.
Num segundo momento, Jesus fala a respeito sua pessoa. Para arrombar uma casa onde mora um homem forte, é preciso primeiro amarrá-lo antes e derrubá-lo. Só dessa forma é possível roubar sua casa. Fica claro que aquele homem tem menos poder porque foi vencido.
Respeito aos escribas. O pecado contra o Espírito Santo é uma referência à rejeição da força reconciliadora de Deus que se revela na atuação de Jesus vencendo todo o mal.
E termina o texto que ouvimos hoje com a imagem de pessoas que “estavam sentadas ao seu redor” e que ele reconhece como seu pai, sua mãe e seus irmãos. Para esse grupo de pessoas, Jesus explicará os mistérios do Reino.
É uma nova família que está se constituindo, que são aqueles que conseguem entrar na intimidade dele, que têm olhos para ver e ouvidos para entender.
O texto nos convida para também entrarmos nesse mistério, como esse grupo de seguidores que nos relata o evangelho.
Convida a sermos parte da sua família, a qual não tem fronteiras de nenhum tipo nem critérios que consideram uns superiores aos outros. Um grupo aberto a todos e todas que queiram fazer a vontade de Deus. Estar ao seu redor, serem seus amigos.
Estamos atentos a sua Palavra e seu atuar para deixarmos nos transformar por ele e ser, assim, integrantes do Reino que ele nos convida a construir?
Ou somos questionadores de seu poder, de sua pessoa e rejeitamos todo tipo de ação reconciliadora que não entre nos nossos critérios?
Trovas ao Cristo Libertador
Olhar ressuscitado, todo o teu Corpo
acompanhando a marcha lenta do povo.
Todo Tu debruçado, como um caminho,
traçando em tua Carne nosso destino.
No azul do Argauaia os roxos medos,
no sol de tua glória nosso direitos.
Sangue vivo no verde das índias matas,
faixas gritando viva a Esperança!
Procissão de oprimidos, rezando as lutas,
e Tu, Círio de Páscoa, flor de aleluias.
Páscoa nossa imolada, em Ti enxertados,
como tu perseguidos, por Ti triunfamos.
Libertador, vencido, vencendo tudo.
Companheiro dos pobres, donos do mundo.
Guerrilheiro do Reino, maior guerrilha.
Tua cruz empunhamos em prol da vida.
Nossos mortos retornaram, com nossos passos,
em teu Corpo vivente, ressuscitados.
Em Ti, cabeça nossa, Libertador,
libertos, libertando, erguemo-nos.
Dom Pedro Casaldáliga.
Referências
Equipe de Reflexão Bíblica. Reconstruir relações num mundo ferido. Uma leitura de Marcos em perspectiva de relações novas. Publicações CRB, 2008.
KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.
MESTERS, Carlos; OROFINO, Francisco. O Evangelho de Marcos. Um roteiro de viagem tendo Jesus como guia. São Leopoldo: CEBI, 2012.
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Evangelho de Marcos 3, 20-35 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU