04 Dezembro 2018
Há 50 anos, era inaugurado o Colegio del Gesù, obra que deve sua origem à intuição de Pedro Arrupe. Por este motivo, o Papa Francisco recebeu, em audiência, os membros desta comunidade, onde são formados jesuítas de todo o mundo, aos quais pediu para “estarem nos desertos da Humanidade”.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 03-12-2018. A tradução é de André Langer.
“Olhando para vocês, vejo uma comunidade internacional chamada a crescer e a amadurecer. O Colegio del Gesù é e deve ser um espaço ativo na arte de viver, incluindo o outro. Não se trata apenas de se entender e querer bem uns aos outros, talvez, às vezes, de se suportar, mas de carregar os fardos uns dos outros. E não apenas os fardos das fragilidades recíprocas, mas das diferentes histórias, culturas e memórias dos povos”, disse Francisco.
Durante o encontro, o Pontífice convidou os jovens para refletir sobre três verbos: “fundamentar, crescer e amadurecer”.
Fundamentar-se, disse o Pontífice, é o primeiro verbo que gostaria de lhes deixar. São Francisco Xavier, que hoje celebramos, escreveu: “Peço-lhes para que em todas as suas coisas se fundamentem totalmente em Deus”. Desta forma, acrescentou, não há adversidade para a qual não se possa estar preparado. Vocês – precisou o Pontífice – moram na casa em que Santo Inácio viveu, escreveu as Constituições e enviou os primeiros companheiros em missão para o mundo. Fundamentem-se nas origens. É a graça destes anos vividos em Roma: a graça do fundamento, a graça das origens. E vocês são um manancial que leva o mundo a Roma e Roma ao mundo, a Companhia no coração da Igreja e a Igreja no coração da Companhia.
Foto: Vatican Insider
O segundo verbo sobre o qual o Papa Francisco refletiu foi crescer. “Nesses anos, vocês são chamados a crescer, aprofundando as raízes. A planta cresce a partir das raízes, que não se veem, mas que sustentam tudo. E para de dar frutos não quando tem poucos galhos, mas quando as raízes secam. Ter raízes – precisou o Santo Padre – é ter um coração bem enxertado, que em Deus é capaz de se dilatar. Ao Deus semper maior se responde com o magis da vida, com o entusiasmo límpido e impetuoso, com o fogo que arde dentro, com a tensão positiva, sempre crescente, que diz ‘não’ a todas as acomodações. É o ‘ai de mim se eu não anunciar o Evangelho’ do apóstolo Paulo, é o ‘não parei um instante' de São Francisco Xavier, é o que impelia Santo Alberto Hurtado a ser uma flecha pontiaguda nos membros adormecidos da Igreja. Se o coração não se dilata, atrofia; se não cresce, murcha”.
Continuando sua reflexão sobre o segundo verbo, crescer, o Papa Francisco disse que não há crescimento sem crises, assim como não há fruto sem poda ou vitória sem luta. “Crescer, criar raízes, significa lutar incansavelmente contra todo mundanismo espiritual, que é o pior mal que pode nos acontecer, como dizia o Padre de Lubac. Se o mundanismo afeta as raízes, adeus aos frutos e adeus planta. Se, ao contrário, o crescimento é um agir constante contra o próprio ego – disse o Papa –, haverá muitos frutos. E enquanto o espírito inimigo não cessará de tentá-los a buscar seus ‘consolos’, insinuando que se vive melhor quando se obtém o que se quer, o Espírito amigo os encorajará, suavemente no bem, a crescer na docilidade humilde, seguindo em frente, sem lágrimas e sem insatisfação, com a serenidade que vem unicamente de Deus”.
Da mesma forma, o Papa Francisco destacou dois sinais positivos do crescimento – a liberdade e a obediência: duas virtudes que crescem se caminham juntas. “A liberdade é essencial, pois ali onde se acha o Espírito do Senhor, aí existe a liberdade. O Espírito de Deus fala livremente a cada um de nós através de sentimentos e pensamentos; não pode ser encerrado em esquemas, mas acolhido com o coração, no caminho, por filhos livres, não por servos. Desejo – disse o Papa – que vocês sejam filhos livres que, unidos nas diversidades, lutem todos os dias para conquistar a liberdade maior: a de si mesmos. A oração lhes será de grande ajuda, a oração que nunca deve ser negligenciada: é a herança que o Padre Arrupe nos deixou”. E falando sobre a obediência e dando como exemplo Santo Inácio quando esperava pacientemente em Villa d'Este, o Santo Padre disse que, assim como para Jesus, também para nós o alimento da vida é fazer a vontade do Pai, e dos pais que a Igreja nos dá. Deve ser uma liberdade e obediência na maneira de agir com os superiores, “criativa”.
Foto: Vatican Insider
Finalmente, o Papa Francisco, após refletir sobre o fundamentar-se e crescer, refletiu sobre o amadurecimento. “Não se amadurece nas raízes e no tronco, mas colocando para fora os frutos que fecundam a terra com sementes novas. É aqui que entra em jogo a missão, o colocar-se frente a frente com as situações de hoje, cuidando do mundo que Deus ama. Paulo VI dizia: “Onde quer que na Igreja, mesmo nas áreas mais difíceis e de ponta, na encruzilhada das ideologias, nas trincheiras sociais, houve e há confronto entre as necessidades candentes do homem e a mensagem perene do Evangelho, aí estiveram ou estão jesuítas. Nas encruzilhadas mais intrincadas, nas fronteiras, nos desertos da humanidade: o jesuíta é chamado a estar aí. Ele pode se encontrar como um cordeiro entre lobos, mas não deve lutar contra os lobos; deve apenas permanecer como cordeiro. Desse modo, o Pastor encontrará o cordeiro ali onde estiver”.
Antes de concluir seu discurso, o Papa Francisco destacou que a paixão e a disciplina nos estudos contribuem nessa missão. E sempre será bom aproximar o ministério da Palavra do ministério da consolação. “Ali, vocês tocam a carne que o Verbo assumiu: ao acariciar os membros sofredores de Cristo, aumenta a familiaridade com o Verbo encarnado. Não se assustem com os sofrimentos que vocês verem. Levem-nos ao Crucificado. Levem os sofrimentos ali e à Eucaristia, onde se atrai o amor paciente, que sabe abraçar os crucificados de todos os tempos. Assim, amadurece também a paciência, assim como a esperança, pois são gêmeas: crescem juntas. Não tenham medo de chorar no contato com as situações difíceis: são gotas que irrigam a vida, tornam-na dócil. As lágrimas de compaixão purificam o coração e os afetos”.
Foto: Vatican Insider
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O Papa convida os jesuítas para “estarem nas encruzilhadas mais intrincadas, nas fronteiras, nos desertos da Humanidade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU