07 Setembro 2018
“É preciso educar para a autêntica humanidade: e isso significa acolher-se como homens sexuados, enfrentando com sinceridade as próprias fragilidades e chamando pelo nome os próprios desejos; significa também acolher o outro como pessoa frágil e vulnerável, da qual o presbítero não é dono, mas irmão no caminho comum rumo à plena floração de si mesmo.”
A opinião é do teólogo e sacerdote italiano Roberto Massaro, reitor do Seminário de Conversano-Monopoli e professor da Facoltà Teologica Pugliese, na Itália.
O artigo foi publicado por Settimana News, 05-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Criou muito desconforto na opinião pública a investigação publicada por algumas publicações jornalísticas sobre os casos de alguns presbíteros e seminaristas de “moral dupla”. Cotidianamente dedicados ao serviço pastoral e à pregação e, ao mesmo tempo, imersos em uma série de relações homoeróticas, muitas vezes iniciadas através do uso de redes sociais digitais ou de aplicativos de encontros gays.
Tudo nasceu a partir da denúncia de um companheiro napolitano, Francesco Mangiacapra, que, nos últimos meses, entregou um dossiê de 1.200 páginas à Cúria de Nápoles com inúmeras capturas de tela de chats de um total de 50 padres implicados e que recentemente envolveu um presbítero da Capitanata [distrito histórico-cultural da Puglia].
Convites online, trocas de fotos de partes íntimas, ménage à trois e assim por diante, em um quadro, com certeza, moralmente repreensível.
Provavelmente, os efeitos da investigação não prejudicarão a imagem da Igreja e de seus muitos ministros que, com empenho e zelo, são fiéis ao seu serviço pastoral e às obrigações que daí derivam. Também provavelmente, porém, essas notícias poderiam se transformar em desconfiança ou em suspeita e, por parte das autoridades eclesiásticas, em uma repressão acrítica.
Que pistas de reflexão a ética teológica pode oferecer a partir dessa experiência?
Ainda parecem presentes, de fato, estilos que tendem a encobrir de sacralidade o ministério presbiteral, que o apresentam como poder sobre os fiéis e não como serviço, que mostram o celibato como supressão da sexualidade e que tentam sublimá-lo mediante uma relação incorreta com o dinheiro ou com a carreira. Quem trabalha no âmbito formativo (ministério cada vez mais árduo hoje em dia) deveria vigiar com muita atenção sobre esses possíveis desvios.
E isso significa acolher-se como homens sexuados, enfrentando com sinceridade as próprias fragilidades e chamando pelo nome os próprios desejos; significa também acolher o outro como pessoa frágil e vulnerável, da qual o presbítero não é dono, mas irmão no caminho comum rumo à plena floração de si mesmo.
A orientação sexual é necessariamente discriminante para o acesso ao ministério ordenado? Ou poderia ser possível e desejável favorecer a sua integração em processos de maturação humana integral?
Pode acontecer que os nossos seminários nem sempre consigam fornecer todos esses instrumentos em anos densos de estudo e de atividades pastorais: seria possível favorecer nas dioceses, para aqueles que completaram o processo no seminário, um apoio e um acompanhamento na acolhida de si, em contato com a vida real do homem e da mulher de hoje.
As palavras do Papa Francisco – “Se uma pessoa é gay e busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” –, pronunciadas pelo pontífice na volta da Jornada Mundial da Juventude do Rio em 2013, não são – como alguns delatores do papa afirmaram – uma simples façanha midiática, mas pedem uma abordagem diferente para com as pessoas homossexuais por parte das comunidades cristãs.
Alguns estudos renomados, de fato, afirmam que a homossexualidade não é uma perversão, nem uma neurose, nem um distúrbio de personalidade. Ela não tem nada a ver com a pedofilia (ainda hoje classificada como distúrbio parafílico no DSM V).
É uma condição existencial que ninguém escolhe viver – quer as causas sejam biológicas ou psicológicas, elas afundam suas raízes nos primeiros anos de vida – e que envolve a pessoa não só na prática sexual, mas também em todos os âmbitos cotidianos da existência.
São gestos que se inserem de pleno direito naquela pastoral da misericórdia tão desejada pelo papa para uma Igreja que não levante cercas, mas construa pontes.
É possível que esse escândalo afunde as suas raízes não tanto na queda dos eclesiásticos envolvidos, mas sim na distonia que às vezes se sente entre a doutrina moral católica sobre a homossexualidade (muitas vezes anunciada com intransigência) e a conduta contrária de quem anuncia.
Além disso, repensar as estruturas de governo dentro da Igreja, favorecendo dinâmicas de sinodalidade e colegialidade, ajudaria os padres a não se sentirem sobrecarregados de trabalho e de incumbências, a não viverem cotidianamente a ansiedade do desempenho, a não lutarem para assumir postos de governo. De fato, tudo isso pode levar, em caso de fracassos e insatisfações, a recair em um exercício desordenado da sexualidade.
Uma última palavra parece necessária para avaliar também a qualidade da informação. Ninguém nega a importância de um jornalismo que seja expressão autêntica da verdade; ninguém pode e deve estimular o encobrimento dos escândalos que ocorrem dentro da Igreja, mas a violação da privacidade para aquilo que não constitui crime é, ela mesma, crime.
O fiel que lê, por sua vez, não deve esquecer que o cuidado pela pessoa que erra, a possibilidade de conversão e de redenção devem ser o primeiro anúncio a que somos chamados a oferecer a cada pessoa, seja padre ou leigo, e que o trabalho dos bispos, na maioria dos casos, não tende a encobrir, mas a buscar os caminhos possíveis para acompanhar e reintegrar os seus padres, oferecendo-lhes outra possibilidade.
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Padres e homossexualidade. Artigo de Roberto Massaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU