17 Agosto 2018
Entre os dias 22 e 25 de agosto próximos, em diversos países da América Latina, será lembrado o 50º aniversário da histórica visita do Papa Paulo VI aos povos e às Igrejas da região, particularmente da Colômbia. Essa visita levou o pontífice à capital colombiana, Bogotá, onde, no dia 24 de agosto, inaugurou a II Assembleia Geral dos Bispos da América Latina (e que ocorreu logo depois na cidade de Medellín).
A reportagem é de Luis Badilla, publicada por Il Sismografo, 12-08-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na quinta-feira, 22 de agosto de 50 anos atrás, Paulo VI, antes de embarcar no avião, proferiu um importante discurso, no qual se misturavam os sentimentos de alegria por uma viagem tão relevante, com grande dor e tristeza em relação àquilo que estava acontecendo na Tchecoslováquia, onde a Armada Soviética havia entrado, na noite entre 20 e 21 de agosto, pondo fim, no sangue, à Primavera de Praga [1].
Antes de partir, sentimo-nos obrigados a agradecer e a saudar aqueles que quiseram, apesar da hora matutina, e a nosso despeito, vir ao aeroporto para nos desejar uma “boa viagem” e para nos assegurar a união dos seus corações e das suas orações nesta nossa intervenção no Congresso Eucarístico Internacional de Bogotá e na Assembleia Geral do Episcopado Latino-Americano.
Agradecemos cordialmente a todos os presentes e a todos aqueles que estão aqui representados por eles: nós também os teremos presentes no nosso espírito e na grande celebração de caridade e de unidade que nos espera.
Mas não podemos deixar a vocês e àqueles que veem a cena da nossa partida e escutam a nossa voz, através do rádio e da televisão, sem lhes confiar a azeda amargura e a grande ansiedade que pesam sobre a nossa alma por causa dos acontecimentos em curso na Tchecoslováquia.
Estaríamos dispostos a renunciar imediatamente à nossa viagem se soubéssemos que a nossa presença e a nossa obra pudessem servir para qualquer coisa para impedir o agravamento dos males que já oprimem aquela nação, sempre cara para nós, e para evitar as suas desastrosas consequências, que infelizmente não é temerário prever.
Mais uma vez, a força das armas parece querer decidir o destino de um povo, a sua independência, a sua dignidade; a tranquilidade da Europa está abalada, comprometida a do mundo; e a paz, que a maturidade dos tempos, também por causa de um insuprimível sentido cristão, vai buscando e construindo, depois das experiências das ferocíssimas guerras passadas e também daquelas em curso, a paz é ferozmente tornada vulnerável. Deus queira que não o seja mortalmente.
Entristece-nos vivamente essa ferida à incolumidade de um país, às boas relações entre os povos, aos princípios principalmente, que emergiram tão fatigante e dolorosamente a partir da nossa história como indispensáveis para a consistência e para o futuro da civilização.
E estamos tão mais entristecidos com essa chaga quanto mais nós mesmos nos fizemos, nestes anos, desinteressados e ardentes apóstolos da paz e esperávamos que as diversidades das culturas e dos interesses não comprometessem finalmente uma comum e leal conspiração à manutenção do direito internacional e à progressiva colaboração entre os homens do nosso tempo.
Nós não queremos julgar ninguém; mas como não voltar à análise dos princípios, dos quais semelhantes desventuras parecem surgir naturalmente?
Nós trazemos no nosso coração estas amargas reflexões, que, no entanto, a esperança humana e cristã ilumina com hipóteses de honrosas e pacíficas soluções sempre possíveis para um conflito tão deplorável. E queira o Senhor da paz, por cuja glória empreendemos esta viagem, usar-nos da sua misericórdia e devolver a todos a “tranquilidade da ordem”.
Ele, pela nossa mão, agora nos abençoe.
1. A invasão dos tanques soviéticos. Na noite entre 20 e 21 de agosto de 1968, os tanques soviéticos entraram na capital tchecoslovaca e puseram fim à Primavera de Praga. Doze anos depois da sangrenta repressão na Hungria, as tropas do Pacto de Varsóvia reprimiam a generosa tentativa de Alexander Dubceck de reformar, a partir de dentro, o regime comunista. A notícia repercutiu em todo o mundo: na imprensa, nas televisões e também nos cinejornais, analisou-se com atenção o que havia acontecido.
Após a invasão, seguiu-se um período de “normalização”. Gustav Husak substituiu Dubcek, que, em pouco tempo, anulou todas as reformas do seu antecessor. O Partido Comunista organizou um férreo controle sobre a sociedade, embora não faltaram casos de protesto, e o mais chamativo deles foi o suicídio do jovem estudante Jan Palach, que, em 19 de janeiro de 1969, pôs fogo em si mesmo na Praça São Venceslau, no centro de Praga, aos pés da escadaria do Museu Nacional. Ele morreu depois de três dias de agonia, e mais de 600 mil pessoas provenientes de todo o país participaram do seu funeral.
Muitos tchecoslovacos fugiram para o exterior. A estagnação da era Brejnev, então em seu começo, se arrastaria fatigantemente por duas décadas, entre crises econômicas e repressão militar: a invasão do Afeganistão em dezembro de 1979 e, depois, a repressão do Solidarnosc na Polônia em 1981, pelas mãos do general Wojciech Jaruzelski, foram os últimos episódios de um poder já em deriva e irremediavelmente irreformável, como Mikhail Gorbachev teve que constatar amargamente e como ficou claro a partir do fim de 1989 e 1990, quando, a partir da queda do Muro de Berlim, ele se derreteu como neve ao sol.
Alexander Dubcek teve a sua revanche: foi reabilitado e eleito presidente do Parlamento federal tchecoslovaco. Morreu pouco depois em um acidente de carro.
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Há 50 anos, o primeiro papa em visita à América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU