29 Julho 2018
“Não se precisa de slogans gritados que muitas vezes permanecem vazios ou de antagonismos de partidos que se confrontam para conquistar a cena”, mas sim de “uma liderança capaz de ajudar a encontrar e a pôr em prática um modo mais justo de viver neste mundo e compartilhar um destino comum”: o Papa Francisco escreveu isso em uma mensagem enviada a um encontro de 500 teólogos provenientes de todo o mundo reunidos em Sarajevo entre quinta-feira e o próximo domingo, para abordar questões como as mudanças climáticas e as migrações. “O tema do encontro de vocês é um tema ao qual eu mesmo chamei a atenção muitas vezes: a necessidade de construir pontes, e não muros”, afirma o papa.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada em Vatican Insider, 26-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Queridos irmãos e irmãs, saúdo a todos vocês que participam dessa terceira conferência mundial sobre ética teológica, que ocorre em Sarajevo, cidade de grande valor simbólico por causa da viagem de reconciliação e de pacificação depois dos horrores de uma guerra recente que trouxe tanto sofrimento às pessoas dessa região”, escreve Jorge Mario Bergoglio na mensagem assinada em 11 de julho e lida em inglês por Dom Luigi Pezzuto, núncio apostólico na Bósnia e Herzegovina.
“Sarajevo é uma cidade de pontes. O encontro de vocês se inspira nesse motivo dominante que alerta para a necessidade de construir, em um ambiente de tensões e divisões, novos caminhos de proximidade entre pessoas, culturas, religiões, visões da vida e orientações políticas. Apreciei esse esforço de vocês desde o início, quando os membros do seu comitê organizador me visitaram no Vaticano em março passado. O tema do encontro de vocês é um tema ao qual eu mesmo chamei a atenção muitas vezes: a necessidade de construir pontes, e não muros. Continuo repetindo isso na esperança de que as pessoas de todas as partes prestarão atenção a essa necessidade que é cada vez mais reconhecida, embora às vezes provoque resistência e formas de regressão. Sem renunciar à prudência, somos chamados a reconhecer cada sinal e mobilizar cada energia nossa para remover os muros da divisão e construir pontes de fraternidade em todas as partes no mundo.”
Entre os pontos no centro do encontro, “voltado a construir pontes em um tempo crítico como o nosso”, escreve o papa, “vocês deram um lugar central ao desafio ecológico, pois alguns dos seus aspectos podem criar graves desequilíbrios não só em termos de relações entre ser humano e natureza, mas também entre gerações e pessoas. Esse desafio, como emerge a partir da encíclica Laudato si’, não é apenas um entre tantos, mas o mais amplo pano de fundo para uma compreensão tanto da ética ecológica quanto da ética social. Por esse motivo, a preocupação de vocês com a questão dos migrantes e dos refugiados é muito séria e provoca uma metanoia que pode promover uma reflexão ética e teológica mesmo antes de inspirar desejáveis atitudes pastorais e políticas responsáveis e planejadas cuidadosamente”.
“Nesse cenário complexo e exigente – sublinha o Papa Francisco – há a necessidade de pessoas e instituições capazes de assumir uma liderança renovada. Não se precisa, por outro lado, de slogans gritantes que muitas vezes permanecem vazios ou de antagonismos de partidos que se confrontam para conquistar a cena. Precisamos de uma liderança capaz de ajudar a encontrar e a pôr em prática um modo mais justo de viver neste mundo e compartilhar um destino comum.”
“Sobre a questão de como a ética teológica pode fazer a sua contribuição específica – continua Bergoglio – acho profunda a proposta de vocês de criar uma rede entre pessoas e os diversos continentes, com diversas expressões e modalidades que possam se dedicar a uma reflexão ética em chave teológica, em um esforço para encontrar recursos efetivos. Com tais recursos, podem ser realizadas análises desejáveis e, mais importante ainda, podem ser mobilizadas energias para uma prática compassiva e atenta às situações humanas trágicas, preocupada em acompanhá-las com cuidado misericordioso. Para criar tal rede, é urgente, acima de tudo, construir pontes entre vocês, compartilhar ideias e programas, e desenvolver programas de proximidade. Não é preciso dizer que isso não significa apontar para a uniformidade de pontos de vida, mas sim buscar sinceramente e com boa vontade uma convergência de propostas, em abertura dialógica e em discussão entre perspectivas diferentes.”
“Vocês encontrarão ajuda – prossegue o papa – em uma forma particular de competência à qual eu fiz referência na introdução da recente exortação apostólica Veritatis gaudium: ao citar os critérios fundamentais para uma renovação dos estudos eclesiásticos, eu salientei a importância de um diálogo abrangente que pode servir de base para uma abertura interdisciplinar e transdisciplinar, tanto para a teologia quanto para a ética teológica. Também sublinhei a urgente necessidade de que as instituições do mundo inteiro façam rede para cultivar e promover os estudos eclesiásticos.”
“Encorajo-os, como mulheres e homens que trabalham no campo da ética teológica, a serem apaixonados por tal diálogo e pelo fazer rede”, escreve o pontífice argentino. “Essa abordagem pode inspirar análises que podem ser ainda mais penetrantes e atentas à complexidade da realidade humana. Vocês mesmos aprenderão cada vez melhor a como serem fiéis à palavra de Deus que nos desafia na história e a mostrar solidariedade com o mundo que vocês não são chamados a julgar, mas sim a oferecer novos caminhos, acompanhar viagens, apoiar as fraquezas. Vocês já têm mais de dez anos de experiência em construir pontes na sua associação. Seus encontros internacionais em Pádua, em 2006, e em Trento, em 2010, seus encontros regionais em vários continentes e suas várias iniciativas, publicações, atividades de ensino lhes ensinaram um estilo de partilha que eu confio que pode impulsioná-los a serem frutíferos para a Igreja inteira. Agradeço aqueles que chegaram à conclusão do seu mandato e àqueles que assumem novas responsabilidades. Vou lembrar de vocês na minha oração. Dou-lhes de coração as minhas bênçãos – conclui o papa – e lhes peço que rezem por mim.”
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Papa: o mundo não precisa de slogans gritados, mas de diálogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU