26 Janeiro 2018
A lista de acusações contra o ex-diácono Ivo Poppe, que é acusado de causar a morte pelo menos dez pessoas, incluindo sua mãe, é de arrepiar a espinha de qualquer um.
Casado e pai de três filhos, Poppe trabalhou como enfermeiro durante 30 anos em um hospital em Menen, na região de Courtrai, perto da fronteira francesa.
Após sua ordenação como diácono em Wevelgem, na Bélgica ocidental, em 1996, foi trabalhador pastoral até 2011.
A reportagem é de Raphaelle d'Yvoire, publicada por La Croix International, 25-01-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Em 2013, Poppe consultou um psiquiatra, queixando-se de insônia. Ele disse que já não conseguia lidar com o fato de ter, por “boa fé”, acabado com o sofrimento de até 100 pacientes injetando ar em suas veias.
Depois, um segundo psiquiatra, mais experiente, denunciou-o às autoridades.
Já na prisão desde maio de 2014, Poppe admitiu, durante uma investigação a pelo menos 50 mortes suspeitas, que ele havia terminado o sofrimento de dois pacientes e quatro parentes, incluindo sua mãe e seu sogro.
No entanto, negou tê-los "assassinado”.
O cardeal Jozef DeKesel, de Malinas-Bruxelas, que foi bispo de Bruges, disse na época que estava "decepcionado” com os supostos assassinatos e prometeu "plena cooperação" das autoridades católicas.
Em janeiro de 2017, o Ministério Público de Gent decidiu enviar Poppe a julgamento perante o Tribunal de Assizes, em um processo extraordinário que é reservado para os casos mais graves.
Desde que ocorreu uma reforma do Tribunal de Assizes em 2015, a maioria dos casos de assassinato passou a ser julgada em um tribunal penal onde a pena máxima é de 30 anos de prisão.
Quantos assassinatos o "diácono da morte", como a mídia belga passou a chamá-lo, tinha em sua consciência?
E qual era o estado psiquiátrico de Poppe depois de trabalhar por tanto tempo como enfermeiro?
A imprensa flamenga caracterizou-o como um homem de dupla personalidade. Por um lado, havia o "bom e velho Ivo", um homem sempre preocupado em fazer o bem.
Por outro, havia a personalidade sedenta por poder, que não estava satisfeito com a responsabilidade de padre pela paróquia onde trabalhava.
No primeiro dia de seu julgamento, em 22 de janeiro, Poppe deu uma estimativa do número de vítimas.
Havia entre "dez e vinte, vinte, no máximo", disse perante o tribunal. "São números aproximados... É uma ordem de grandeza”.
"Eu queria acabar com o sofrimento dessas pessoas. Elas já não estavam vivendo", disse.
Poppe também admitiu que nenhum de seus pacientes pediu para que ele encurtasse sua vida. Também expressou arrependimento por seus atos.
"Agora, eu procuraria assistência de uma equipe de cuidados paliativos", acrescentou.
O julgamento, que espera contar com o depoimento de 77 testemunhas, deve durar até duas semanas. Hoje, com 61 anos, Poppe enfrenta uma sentença de prisão perpétua.
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Ex-diácono belga processado por múltiplos assassinatos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU