26 Novembro 2017
A Internacional dos trabalhadores com o papa. Pressionados pela crise, nessa quinta e sexta-feira, 350 pessoas se encontraram no Vaticano, todos os líderes dos principais sindicatos mundiais, para discutir como colocar o ser humano novamente no centro da ocupação.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 24-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Entre eles, também estava Susanna Camusso, que, além de confirmar “um julgamento de insuficiência” do texto do governo italiano sobre as pensões, pede que se “combata a ideia de que o mundo se polariza entre uma elite que detém o monopólio do trabalho, graças ao domínio das tecnologias, e quem não pode acessá-lo”.
Convocados pelo cardeal Peter Turkson, chefe do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, os 350 ouviram nessa sexta-feira o discurso de Francisco, que considera que o trabalho é um tema central para a Igreja.
“O papa não é contra as desigualdades”, explica o jesuíta argentino Juan Carlos Scannone, teórico da teologia do povo, “como muitos gostam de dizer para poderem lhe chamar de comunista. Mas ele é contra as desigualdades injustas, contra as distorções do capitalismo como sistema econômico dominante que exclui os pobres e idolatra o dinheiro.”
Stuart Appelbaum, chefe do maior sindicato do varejo dos Estados Unidos (RWDSU), dialogou com os colegas da América Central durante uma pausa para o café. Ele diz: “A situação entre nós é péssima. Muitos trabalhadores são precários por causa da crise. E, com Donald Trump, tudo mudou para pior: worst!”, ele repete. E ainda: “Estamos aqui para comunicar o nosso desconforto e para encontrar novas soluções”.
Esteban Castro lidera um sindicato argentino (CTEP) cujos trabalhadores não têm direitos. Muitos são cartoneros, recicladores que percorrem a cidade arrastando carrinhos, abrindo as latas de lixo em busca de papel, papelão e metais para vender a empresas de reciclagem. Ele diz: “O mundo do trabalho está cheio de pessoas sem direitos. Francisco decidiu nos ouvir, por isso estamos aqui”.
Com eles também está uma delegação do sindicato dos caminhoneiros argentino que recebeu um convite para jantar do arcebispo Marcelo Sánchez Sorondo, para homenagear Maximiliano Acuña, um gari que perdeu ambas as pernas em um acidente de carro.
Acuña recebeu um telefonema de Francisco em julho: “Se eu não for à Argentina, você vem ao Vaticano”, lhe prometeu. E assim foi: “Ele me disse que sou forte, que ainda tenho um longo caminho a percorrer, que sou um exemplo de vida e que devo seguir em frente”, conta.
Diversos sindicalistas vivem em países de maioria islâmica. Noureddine Taboubi é secretário-geral da União Geral do Trabalho e presidente da CSI, uma “organização guarda-chuva” que reúne sindicatos de todo o mundo. Ele diz: “Nos países árabes, o terrorismo é a maior ameaça ao trabalho. As palavras do papa e da Igreja sobre o trabalho estão em sintonia com aquilo que nós dizemos: os direitos dos trabalhadores não têm religião”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Sindicatos com o papa: ''Os direitos dos trabalhadores não têm religião'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU