Por: Lara Ely | 14 Outubro 2017
Mais de dez anos após o início da chamada guerra contra o tráfico de drogas liderada pelo ex-presidente Felipe Calderón, o México terá, finalmente, uma regra que tentará impedir a violação dos direitos humanos, facilitar a localização das pessoas desaparecidas e garantir a reparação integral às vítimas.
Sancionada após a visita oficial do primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau, que foi ao país para negociar com Enrique Peña Nieto o tratado de livre-comércio com os Estados Unidos, a Lei Geral sobre Desaparecimento Forçado de Pessoas finalmente foi enviada ao Executivo para publicação.
Enrique Pena Nieto e Justin Trudeau no México. Foto: Wikimedia Commons
Durante uma hora, através da boca de ativistas e lutadores de direitos humanos, Trudeau ouviu falar sobre questões como os 43 desaparecidos Ayotzinapa, os feminicídios ou o assassinato de comunicadores, que fizeram do México um dos países mais perigosos do mundo para praticar jornalismo. Pouco antes da reunião, dezenas de organizações de direitos humanos emitiram uma carta muito crítica com Peña Nieto, na qual pedem apoio a Trudeau neste campo.
"Como você provavelmente sabe, nos últimos 10 anos, o México sofre níveis alarmantes de violência e impunidade". É assim que começa a carta em que é feita uma longa revisão das queixas sociais experimentadas nos últimos anos como desaparecimentos, execuções ou deslocamentos, desde o início da luta entre e contra o narco que começou.
A carta refere-se ao fato ocorrido no dia 26-09-2014, quando 43 estudantes desapareceram em Iguala, no estado de Guerrero, no México. O sumiço dos estudantes marcou o país e expôs a violência que domina o cotidiano dos mexicanos. Dois anos depois, a impunidade ainda ronda o caso, e o destino dos jovens é desconhecido.
Os estudantes eram alunos de uma escola rural em Ayotzinapa e foram detidos pela polícia municipal de Iguala quando se dirigiam à capital do país para participar de uma manifestação. Não há clareza sobre o que ocorreu após esse fato. De acordo com a investigação oficial, após serem sequestrados pela polícia municipal, os estudantes foram entregues para uma organização do narcotráfico local, que provavelmente os matou. Seus corpos teriam sido incinerados em um lixão, e as cinzas, lançadas em um rio. O prefeito de Iguala e sua mulher, que à época do crime lançava sua própria carreira política, foram responsabilizados pelo desaparecimento dos estudantes e estão presos.
No entanto, as famílias das vítimas e pesquisadores independentes jamais aceitaram a versão oficial, que não atribui responsabilidade a qualquer órgão federal de segurança. Há indícios de participação de dois policiais federais e de omissão de militares do Exército, que estava presente na região.
O drama dos familiares dos desaparecidos em Ayotzinapa assemelha-se ao conflito retratado no filme Nostalgia da Luz, em que familiares de desaparecidos políticos buscam há quarenta anos sobreviventes da ditadura do Pinochet. Filmado no deserto do Atacama, no norte do Chile, o documentário do chileno Patrício Guzmán explora a busca de astrônomos por respostas sobre o Universo e a procura angustiada de mulheres que perderam seus amores (maridos, noivos, filhos, netos) para a ditadura (1973-1990).
Outra das questões debatidas pelos presidentes como parte das questões comuns aos países integrantes do Tratado de Livre Comércio da América do Norte – NAFTA é a questão dos salários dos trabalhadores no México. O governo resiste em autorizar os aumentos, mas os seus parceiros no acordo consideram ser uma concorrência desleal. O Canadá e os Estados Unidos exigem um aumento substancial nos salários mexicanos. "É uma obrigação manter as novas negociações do NAFTA no caminho certo", afirmam os funcionários e sindicatos dos EUA no Canadá. Mas o governo e os empresários do México dizem que não existem condições no país para aceitar a proposta. Além disso, de acordo com o Secretário de Economia, Ildefonso Guajardo, a decisão de aumentar os salários "é uma questão interna" do país.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
México. Nova lei tenta reduzir o drama dos desaparecidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU