27 Julho 2017
O circo – como a imprensa vem chamando – começou às 5h, quando uma grande equipe da CNN chegou do lado de fora do Tribunal dos Magistrados de Melbourne, embora o jornal Herald Sun já contava com repórteres no local para noticiar o fato.
A reportagem é de Barney Zwartz, publicada por National Catholic Reporter, 25-07-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Às 6h, dezenas de meios de comunicação locais e internacionais já tinham chegado, seguido por apoiadores dos sobreviventes de abuso clerical por volta das 7h. Todos esperavam entrar na Sala 2 do tribunal, que conta apenas com 37 acentos para o público e a imprensa. Segundo consta, os guardas do tribunal estavam a postos desde as 21h30 da noite anterior para cuidar do local.
Pouco antes das 9h o foco das atenções chegou ao tribunal: o Cardeal George Pell, prelado católico de mais alto escalão a enfrentar acusações de abuso sexual infantil. Ele estava acompanhado de sua equipe jurídica – que conta com Robert Richter, um dos advogados mais caros e importantes da Austrália – e cercado por aproximadamente uma dúzia de policiais.
A esta altura, a imprecisão do epíteto “circo” se tornou aparente, pois um circo é geralmente marcado por coreografias extremamente organizadas, e isto daqui estava parecendo mais um ajuntamento assustador, com pessoas gritando a todos os cantos. O cardeal, vestindo um sobretudo preto, permaneceu em silêncio enquanto os jornalistas disparavam uma grande quantidade de perguntas.
A situação ficou mais caótica quando Pell deixou o tribunal, momento em que havia, no lado de fora, cerca de 200 jornalistas, mais dezenas de sobreviventes de abuso sexual e pessoas que expressamente estavam aí em apoio ao religioso, todos seguindo o cordão policial de cerca de 100 metros que levava até o escritório advocatício de Richter.
Em um exemplo adorável de ironia que eventos como este podem trazer, alguns jornalistas reclamaram do caos, aparentemente sem darem-se conta de quem o causava: os meios de comunicação.
Vieram jornalistas dos EUA, da Europa, de Hong Kong, da Nova Zelândia, além de grupos midiáticos australianos, para esta curta audiência no tribunal.
A audiência de hoje, 26 de julho, foi a primeira de várias que o cardeal, de 76 anos terá de participar. A principal finalidade desta sessão foi estabelecer um cronograma para as audiências futuras.
Esta audiência administrativa durou poucos minutos, e estabeleceu a data de 6 de outubro para a audiência de julgamento, quando um magistrado ouve os depoimentos e decide se há motivos para dar início ao processo. Os procuradores deverão apresentar provas preliminares para a defesa no dia 8 de setembro.
Funcionários do tribunal disseram que nenhuma providência especial, além de um reforço na segurança, havia sido providenciada para o cardeal. Ele entrou pela porta da frente e passou pelos detectores de segurança como todo mundo.
As acusações não foram divulgadas e nenhum pedido formal foi entregue, mas Richter contou ao magistrado, Duncan Reynolds, que o cardeal declarar-se-ia inocente de todas as acusações. “Para evitar dúvidas (...), o Cardeal Pell irá se declarar inocente de todas as acusações, e vai sustentar a inocência presumida que ele tem”, disse Richter.
A polícia disse que existem múltiplas acusações envolvendo várias vítimas de “abuso sexual histórico”. A polícia investigou por dois anos os primeiros relatos, o que incluiu viagens a Roma para entrevistar Pell, antes de decidir acusá-lo.
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Acusado de pedofilia, Cardeal Pell mantém inocência em primeira audiência diante do tribunal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU