06 Junho 2017
Uma pesquisa exclusiva Ifop para o jornal La Croix revela uma imagem muito positiva dos padres na sociedade francesa, em todas as categorias. A pesquisa também mostra que somente metade dos jovens entre 18 e 24 anos já teve contato com um padre. Para dois terços dos franceses, a imagem dos padres foi “afetada” pelos casos de pedofilia.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville e Anne-Bénédicte Hoffner, publicada por La Croix, 02-06-2017. A tradução é de André Langer.
Para a grande maioria dos franceses, o padre é “um homem de escuta”: são 83% dos entrevistados que dizem isso, 98% dos católicos praticantes e também 68% dos sem religião. Um verdadeiro plebiscito que causaria inveja a muitos políticos ou profissionais, médicos ou jornalistas, por exemplo...
Como faz regularmente desde 1993, La Croix quis pesquisar novamente a relação que os franceses têm com seus padres. Sua imagem é extraordinariamente positiva, “até mesmo surpreendentemente positiva”, reconhecem alguns padres que nós consultamos. Em época recente, difícil ou até mesmo terrível para a Igreja católica – diminuição das vocações sacerdotais, revelações em série de crimes ou de delitos sexuais cometidos por muitos deles e “acobertados” por sua hierarquia – e após décadas de secularização massiva, poderíamos imaginá-la mais arruinada ou simplesmente empalidecida.
À primeira vista, não é nada. 71% dos franceses (contra 67% em 1993) consideram o padre como alguém “próximo das outras pessoas”. Um de cada dois (isto é, 11 pontos a mais que há 24 anos) o julga mesmo “feliz, realizado”. Os franceses não hesitam em usar palavras de fé: 52% continuam a vê-los como “testemunhas de Deus sobre a terra”. Os qualificativos usados com mais frequência para designá-los vão na mesma linha: eles estão “disponíveis” para 76%, mas também são “dignos de confiança” (68%). “Esta imagem global é contrária ao que ouvimos em ambientes católicos”, relata o padre Jean Rouet, vigário-geral da diocese de Bordeaux. “Neste ambiente, o padre é, geralmente, considerado como inalcançável, pressionado e sobrecarregado pelo trabalho”.
A imagem do padre continua, portanto, surpreendentemente estável. Ele é julgado, às vezes, “aberto” e “moralizador” exatamente nas mesmas proporções. Enquanto os bispos estão lutando para manter a malha territorial da Igreja, os franceses estão convencidos de que caso a necessidade se apresentar, um padre estará disponível para eles, ao qual eles terão desejo de se confiar.
Perguntados sobre o impacto provocado pelas revelações dos atos de pedofilia cometidos pelos membros da Igreja católica, as sondagens reconhecem que elas não os deixaram incólumes: para dois de cada três franceses a imagem dos padres foi “afetada” por esses casos, chegando a 70% entre aqueles com idade entre 35 e 49 anos, ou seja, aqueles que estão em idade de ter filhos jovens. Mas os não praticantes são mais numerosos nesse caso do que os praticantes.
A fotografia é tão bonita que podemos nos perguntar: não se trata de uma imagem idílica? Esta é, em todo o caso, a hipótese de alguns especialistas. “A imagem e o papel do padre são consenso”, espanta-se a socióloga Céline Béraud. “Talvez seja porque esta figura não mais provoca debate porque se tornou uma figura distante?”
Para ela, esta representação positiva poderia ser a culminância última da secularização: privada da autoridade moral, a Igreja – e, portanto, o padre – não provoca “mais medo”. Diretor do Ifop, Jérôme Fourquet também se pergunta se não se deve ver nisso a explicação de uma espécie de erro de perspectiva: “Muitos franceses veem os padres como homens felizes, disponíveis. Visivelmente, eles não conhecem realmente sua vida, seu isolamento, suas dificuldades materiais, a dilatação geográfica das suas paróquias”.
No entanto, e esta é uma das principais lições deste estudo, são muitos os franceses que ainda têm “contato ao longo da sua vida” com um deles; mas esta proporção cai drasticamente entre os mais jovens. Enquanto 76% dos franceses, de todas as faixas etárias, respondem afirmativamente (31% em muitas ocasiões e 45% raramente), apenas um jovem de 18 a 24 anos sobre dois encontra-se nessa situação. A pesquisa “objetiva” isso de alguma maneira. E, pela primeira vez, o que os sociólogos e muitos pastores detectaram. Em muitas ocasiões, as respostas fazem aparecer diferenças significativas segundo a idade dos entrevistados.
Uma ruptura geracional problemática, destaca dom Jean-Marc Eychenne. O bispo de Pamiers (Ariège) relaciona diretamente a percepção dos padres pelos franceses com a questão das vocações presbiterais: “O despertar das vocações passa por uma possível identificação dos jovens com os padres. Ora, aqui sentimos bem que a imagem dos padres é mais negativa entre os mais jovens”. Outro possível freio, segundo ele, para a atração ao sacerdócio: o fato de que os padres são “úteis para a coesão social” apenas para 55% dos franceses.
De fato, a “utilidade social” dos padres aparece globalmente em queda: somente pouco mais da metade da população considera-nos como “úteis para a busca de sentido”. E o mesmo número estima (especialmente entre os ativos e dirigentes de empresas) que eles estão “distantes da realidade”. Esta procura “de eficácia e de compreensão rápida da realidade” não surpreende o padre Jean Rouet. “Os padres são muito pouco visíveis no trabalho de transformação social. Nós não “servimos” mais em nada: nós estamos muito menos presente na escola, nas colônias de férias...”, destaca, mais inquieto em ver as expectativas dos católicos praticantes sobre “a transformação dos valores”. “A vida cristã tem a tendência, nesta perspectiva, de ser reduzida a uma moral”.
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Metodologia. A pesquisa do Ifop para La Croix foi realizada com uma amostra de 2 mil pessoas, representativas da população francesa com idades acima dos 18 anos. A representatividade da amostra foi garantida pela metodologia das cotas (sexo, idade, profissão da pessoa entrevistada) após estratificação por região e tamanho de cidade. As entrevistas foram realizadas por meio de um questionário auto-administrado pela internet entre os dias 28 de abril e 03 de maio de 2017.
Número de padres diocesanos na França (dados da Conferência Episcopal da França). 11.908 contra 16.075 em 2005. Desse total, menos da metade dos padres ainda está na ativa: cerca de 5.800 em 2014; os demais estão aposentados.
Projeções (Ler sobre isso em La Croix a matéria “A Igreja na França em 2024”, de 7 de julho de 2014). A Igreja da França deverá ter menos de 4.300 padres diocesanos ativos em 2024. Os nascidos entre os anos 1940-1950 e ordenados logo após o Concílio, os padres da geração “baby boom”, estarão aposentados.
Ordenações. Cerca de 100 novos padres foram ordenados em 2016. Cerca de 80 padres diocesanos e aproximadamente 20 membros de instituições religiosas. Em 2006, 135 padres foram ordenados.
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O padre, uma figura pouco conhecida, mas apreciada na França - Instituto Humanitas Unisinos - IHU