05 Junho 2017
A amizade do Papa Francisco com – e a sua abertura a – líderes pentecostais e evangélicos reflete uma relação já existente nas bases entre os carismáticos católicos e alguns de seus companheiros de renovação espiritual.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada por Catholic News Service, 03-06-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Enquanto uns pentecostais em algumas regiões do mundo, especialmente a América Latina, têm a reputação de ficar tentando convencer os católicos a deixarem a Igreja, a realidade da relação entre católicos e pentecostais é muito mais variada.
Em muitos lugares, ambos os grupos dividem momentos de louvor, adoração, música e estudos Bíblicos com os carismáticos, e se colocam juntos para proclamar a todos que Jesus é o Senhor, trabalhando lado a lado com os demais no alimento aos pobres e na defesa dos nascituros.
Francisco convidou para irem a Roma aproximadamente 300 lideranças pentecostais e evangélicas para se juntar a cerca de 30.000 católicos carismáticos para celebrar o Pentecostes e marcar o 50º aniversário da Renovação Carismática Católica.
Dando início às celebrações, ocorridas entre os dias 31 de maio a 4 de junho, Salvatore Martinez, presidente da Renovação no Espírito Santo, da Itália, caracterizou os movimentos carismáticos e pentecostais de “o maior despertar espiritual do século XX”, e notou como movimentos espirituais parecidos impactaram as igrejas anglicana, protestante, católica e ortodoxa.
Reconhecendo que “é exatamente o Espírito Santo que cura as divisões”, Francisco quis uma celebração ecumênica.
Na realidade, muitas comunidades carismáticas possuem uma membresia misturada, ecumênica, afirmou Michelle Moran, presidente do Serviços para a Renovação Carismática Católica Internacional – ICCRS, grupo com sede no Vaticano.
Além de compartilhar momentos de oração e ação, disse Moran, os carismáticos católicos envolvem-se no diálogo teológico oficial com os cristãos pentecostais.
O diálogo promovido pelo Vaticano com os pentecostais e evangélicos difere um pouco do outros diálogos ecumênicos, que trabalham no sentido de uma restauração da unidade plena, incluindo aspectos doutrinais, ministeriais e sacramentais.
“Católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes históricos decorrem todos da mesma tradição e experiência histórica da Igreja do primeiro milênio e mais”, explicou Dom Brian Farrell, secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
“Os pentecostais e os evangélicos”, disse ele ao Catholic News Service, “vêm de uma experiência histórica muito diferente; eles têm um entendimento inteiramente diverso de igreja, sacramento, ministério e missão. O objetivo do diálogo, portanto, precisa ser diferente”.
“Com estes novos grupos religiosos, o objetivo ecumênico é um entendimento mútuo e uma cooperação maior no testemunho da mensagem cristã”, falou, observando que com muitos deles a Igreja Católica concorda em “questões morais e éticas fundamentais”, o que abre espaço para a cooperação prática na defesa e promoção da visão bíblica de pessoa humana e sociedade.
Embora certos pentecostais tenham uma atitude “exclusivista e antiecumênica, especialmente anticatólica muitas vezes”, outros voltam-se à fé compartilhada em Jesus e a uma experiência comum do derramamento do Espírito Santo, explicou Farrell.
“Quando o diálogo é possível”, disse, Francisco “está pronto e disposto”.
E, continuou, quando outros grupos atraem para si os católicos, a primeira pergunta deve ser: “O que falta em nosso trabalho pastoral? Os católicos estão suficientemente atentos à Palavra de Deus nas Escrituras? Eles têm uma imagem positiva de Deus e uma experiência de vida positiva na comunidade local? Na paróquia e no bairro, eles constroem uma comunidade real, cooperativa em solidariedade e em cuidado mútuo? O fato de muitos católicos e protestantes sentirem-se atraídos por estes novos grupos religiosos é um convite para que façamos um exame de consciência sincero e um lembrete de que há um grande trabalho pela frente”, disse o bispo.
Onde a relação dos carismáticos católicos com os pentecostais é positiva, ela fornece um exemplo de “ecumenismo espiritual”, que tem menos a ver com acordos em temas teológicos e mais a ver com momentos de oração em comum.
Mas essa relação é também um exemplo do que chamamos “ecumenismo receptivo”, processo pelo qual os cristãos divididos reconhecem que o outro possui dons dos quis eles também podem se beneficiar.
Os católicos têm muito a oferecer aos pentecostais, a começar pela liturgia e seu mistério e pelo senso de sacrifício, disse Martinez. Mas também, com um foco tão forte na leitura da Bíblia, os pentecostais igualmente se beneficiam dos escritos e das reflexões dos teólogos da Igreja primitiva. “Estes são um tesouro inestimável a todos os cristãos”, e constituem um guia importante para a leitura e compreensão das Escrituras.
Por parte dos pentecostais, continuou Martinez, a primeira coisa que os católicos podem aprender é “o amor pelo Espírito Santo, que continua sendo a grande incógnita da teologia católica”.
Uma outra coisa, disse ele, é o senso de fraternidade e comunidade que os pentecostais vivenciam, mesmo em suas megaigrejas. “Em nossas paróquias e comunidades, às vezes podemos nos sentir anônimos. No evangelicalismo em geral, vemos um foco no indivíduo e no acompanhamento espiritual como uma grande graça”.
Para Farrell, os pentecostais geralmente se destacam pela alegria e pelo entusiasmo ao compartilhar o Evangelho que o Papa Francisco vem incentivando.
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Um só no Espírito: católicos e pentecostais celebram o Pentecostes com Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU