20 Abril 2017
Reclamar ao bispo pode ser expressão de impotência, mas o Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás) elevou a hierarquia e, em 2015, resolveu levar queixa ao papa Francisco. Quase dois anos depois, não desiste. Presidente do Simplás, Jaime Lorandi não se conforma com a rejeição de encíclica ao uso de plástico.
A entrevista é publicada por Zero Hora, 20-04-2017.
Eis a entrevista.
Quando começou a articulação?
Em julho de 2015, quando o papa Francisco escreveu a encíclica Laudato Si’. Apresenta orientações, conselhos que dá a pessoas de boa vontade sobre questões da vida moderna. Passou a orientar o respeito ao ambiente.
O que gerou a queixa?
A encíclica fala sobre evitar o uso de material plástico. Sou estudioso de encíclicas e empresário do plástico. Entendo os benefícios e o quanto o plástico ajuda na qualidade de vida das pessoas mais humildes. Entendemos que a poluição ocorre por descarte errado. Ao escrever “evitar o uso de material plástico”, o Papa dava conselho contrário a seus princípios. Se tomada ao pé da letra, prejudicaria a vida dos pobres. A encíclica deveria ter sido diferente.
E por que contestar o Papa?
Faço parte da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Conheço encíclicas, plásticos e pessoas humildes. O setor queria uma posição sobre a frase da encíclica. Meus colegas pediram um artigo. A ideia era sugerir que, em vez de evitar o uso, houvesse redução do consumo excessivo de todos os materiais, além de separação e destinação correta para reutilização. Redigi oito páginas, e comecei o envio pelas vias normais ao Vaticano. Mas o Papa recebe de mil a 2 mil cartas por dias. Em março de 2016, conversei com o bispo de Caxias do Sul, Alessandro Ruffinoni (nascido na Itália). Ele achou interessante, mas longa. Reduzi para quatro páginas. No mês seguinte, o bispo me chamou e mostrou uma resposta de um cardeal em nome do Papa. Dizia que a encíclica deveria ser interpretada com bom senso. A frase que pede para evitar continua lá. O Papa respondeu. Significa possibilidade de ir ao Vaticano.
O senhor foi ao Vaticano?
Em novembro de 2016, havia um encontro com empresários cristãos. No Vaticano, fui apresentado a um monsenhor brasileiro, redator de discursos do Papa. Mostrei a reivindicação. Ele foi acessível e apontou outro monsenhor, responsável pelo diálogo internacional. Os dois me orientaram que a representação não pode ser pessoal. Na audiência, fiquei a 15 metros do Papa.
O fato de a Braskem, apoiadora da articulação, ser investigada na Lava Jato não abalou sua fé?
De jeito nenhum. Há a Braskem dos corruptos e a dos profissionais éticos. Quem faz a empresa são 6 mil pessoas honestas. A administração não foi ética. Minha empresa, em Farroupilha, é cliente da Braskem. Fiquei chateado por a cúpula do principal fornecedor ter vivido isso.
Agora a meta é a ONU?
A Abiplast tem contatos com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), 90% dos alimentos são embalados em plásticos.
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“A encíclica Laudato Si’ deveria ter sido diferente”. Entrevista com Jaime Lorandi, presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU