31 Março 2017
As competências da professora de antropologia cultural Adriana Destro e as do professor emérito de história do cristianismo Mauro Pesce se unem neste livro (La lavanda dei piedi) para analisar o lava-pés contado pelo Evangelho de João (Jo 13). Gesto reservado aos escravos e/ou às mulheres, ele não deve ser considerado tanto (ou apenas) como um gesto de humildade, mas sim como gesto de inversão social de natureza subversiva.
A reportagem é de Roberto Mela, publicada no sítio Settimana News, 29-03-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Realizado por Jesus não no início, mas durante a ceia, é um gesto fora de lugar e fora do tempo, com o qual ele assume o papel do escravo para alcançar o ensinamento que não podia dar de outro modo.
O escravo podia representar e substituir o seu senhor, enquanto que, para o discípulo, isso não é possível em relação ao seu mestre.
Jo 13-17 é um processo iniciático em que os discípulos são inseridos progressivamente em um projeto utópico de comunidades novas, onde os papéis socialmente predominantes e estruturantes da sociedade greco-romana são denunciados e subvertidos através de uma gestualidade que denuncia os papéis opressivos dos senhores e pretende construir uma relação paritária em uma comunidade chamada no seu conjunto para assimilar profundamente os ensinamentos do seu mestre.
À gestualidade de Jesus, segue-se uma instrução com a qual o mestre transmite aos discípulos a mensagem iniciática sobre o fato de que, aonde Jesus vai, por enquanto, os discípulos não podem ir e, depois da explicação do gesto, a entrega do mandamento novo do amor recíproco.
Para os dois autores, não se pode e não se deve ler o Evangelho abstraindo as realidades materiais das condições sociais às quais ele se refere, sob pena de fazer uma leitura espiritualista muitas vezes enganosa e incompleta no sentido de uma contribuição muito válida oferecida pelas ciências sociais.
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Lava-pés: um gesto subversivo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU