28 Março 2017
Os bispos devem exercer um cuidado especial para não causar dano moral ou espiritual ao não abordar com diligência as acusações de abusos por parte de sacerdotes. O jornal vaticano L’Osservatore Romano recordou, desta forma, que está em vigor para toda a Igreja um procedimento de remoção de bispos negligentes no exercício desta e de outras funções.
A reportagem é de Cameron Doody e publicada por Religión Digital, 27-03-2017. A tradução é de André Langer.
A advertência foi publicada no jornal, órgão de difusão do Vaticano, com a reiteração de uma carta que o Papa Francisco divulgou em junho de 2016 em forma de Motu Proprio – Como uma mãe amorosa – na qual assinala que a Igreja “cuida e protege com afeto particular os mais pequeninos e indefesos”.
Em sua carta, o Papa ressaltou que incluía entre as “causas graves” para remoção do exercício eclesiástico “a negligência dos bispos” em seu ofício, “em particular quando se referem aos casos de abusos sexuais contra menores e adultos vulneráveis”.
Em cinco artigos, o protocolo papal adverte sobre a importância da atenção vigilante e insiste na colocação em prática de um cânon do Código de Direito Canônico e das Igrejas Orientais, embora não se trate de procedimento penal, dado que só aponta para os casos de “negligência”.
Por isso, segundo as explicações dadas no jornal, a investigação corresponde às quatro Congregações competentes: Bispos, Evangelização dos Povos, Igrejas Orientais e Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, e não à Congregação para a Doutrina da Fé.
Além disso, apontou que por se tratar de decisões importantes sobre os bispos, a aprovação específica para a remoção depende do Pontífice.
De acordo com o último artigo da carta escrita pelo Papa Francisco, esse procedimento entrou em vigor em 05 de setembro de 2016.
Membros da Comissão anti-pederastia do Papa Francisco em matéria de abuso sexual prometeram, no domingo, que vão prosseguir com seu trabalho inclusive sem a participação de vítimas de abusos na comissão, após a renúncia de uma respeitada defensora de menores.
A comissão terminou no domingo uma junta plenária assegurando que encontrará “novos caminhos” para garantir que vítimas de abusos sexuais por parte do clero sejam aqueles que tracem e informem sobre seus trabalhos. No entanto, não deram detalhes nem anunciaram se outras vítimas seriam nomeadas membros do painel mais adiante.
A irlandesa Marie Collins, vítima de abusos sexuais e uma das fundadoras da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, renunciou no dia 01 de março após denunciar uma “inaceitável” resistência às propostas da comissão por parte do dicastério da Doutrina do Vaticano, que é responsável por processar casos contra sacerdotes responsáveis de abuso sexual.
Collins mencionou em especial a suposta recusa da Congregação para a Doutrina da Fé de implementar propostas aprovadas pelo Papa e de colaborar com a comissão.
Em um comunicado emitido no domingo, a comissão manifestou seu apoio a Collins e, em separado, vários membros disseram estar absolutamente de acordo com suas críticas ao dicastério da Doutrina.
“Marie disse a verdade”, assinalou Catherine Bonnet, uma psiquiatra infantil francesa e autora de publicações sobre abuso infantil. “Ela é mais que a voz de uma sobrevivente; ela tem um ponto de vista geral sobre o que é necessário”.
A baronesa Sheila Hollins, uma psiquiatra e especialista em abusos infantis, disse que a Igreja se inclinou para ver o problema dos abusos por parte de clérigos de um ponto de vista puramente canônico ou a partir da perspectiva jurídica, quando de fato se requer um enfoque multidisciplinar para atender o trauma duradouro vivido pelas vítimas.
“Alguns líderes da Igreja entendem isso, outros não”, comentou Hollins.
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O L’Osservatore Romano recorda que existe um processo para a destituição de bispos negligentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU