13 Março 2017
Vacas e ovelhas que saem de países europeus para serem abatidos na Turquia e no Oriente Médio recebem socos, chutes e choques enquanto são transportados. O jornal britânico The Guardian obteve vídeos que mostram maus-tratos a animais de países como Alemanha, Hungria, Romênia, Polônia, Irlanda e Eslovênia. O abuso é ilegal e contraria leis da UE (União Europeia).
A informação é publicada no portal Uol, 12-03-2017.
Os animais são transportados sob péssimas condições, em locais sujos, apertados e superlotados. Ovelhas chegam ao seu destino cobertas de fezes. Em portos, vacas e ovelhas são arremessadas contra grades e caminhões. As imagens também mostram formas cruéis de abate, com os animais se debatendo, presos de ponta-cabeça pelas patas, antes de terem a garganta cortada.
Durante oito meses, ativistas da organização australiana Animal International acompanharam o transporte de animais desde a partida em portos europeus até o destino final, na Croácia, Turquia e seis países do Oriente Médio. "A Europa é, para todos os efeitos, exportadora de crueldade animal em massa, que é largamente invisível para os cidadãos da UE", disse Reineke Hameleers, diretora do Eurogrupo dos Animais, ONG de defesa dos direitos dos animais.
Segundo o The Guardian, após assistirem às filmagens, eurodeputados da Alemanha, França, Lituânia e Finlândia pediram à Comissão Europeia que reforce a aplicação das leis existentes e que se alargue a legislação relativa ao abate de animais de raça europeia em países de fora da UE.
Além da crueldade, as imagens revelam violações de diversas leis europeias, que determinam que a exportação de animais vivos deve seguir normas de cuidados ao longo de todo o percurso, incluindo nas fases que ocorrem em países não pertencentes ao bloco. A única etapa que não é regulada por lei europeia é a do abate.
De acordo com as normas europeias, as transportadoras não podem empregar violência ou qualquer método que possa causar medo desnecessário, lesão ou sofrimento aos animais. Além disso, os equipamentos de transporte e de carga devem ser concebidos, mantidos e operados de modo a evitar lesões e sofrimentos. O transporte deve ser realizado sem demora e com o menor trajeto possível.
De acordo com um escritório de advocacia especializado em direitos de animais e transporte animal consultado pelo The Guardian, os países de onde partiram os animais que aparecem nas imagens não poderiam ter autorizado a viagem sem que as empresas garantissem que as regras de transporte seriam cumpridas.
Recentes decisões de tribunais europeus determinaram que transportadores devem provar que têm cumprido com a legislação da UE em todos as etapas da viagem - como entregar às autoridades do país de partida um documento detalhando as condições de transporte ao longo de todo o trajeto. Os países são responsáveis pela aplicação da regulamentação europeia.
Autoridades da UE, eurodeputados e grupos de defesa dos direitos dos animais têm relatado abusos a animais transportados vivos, apesar da existência de leis e de recentes decisões judiciais que determinam a rígida observância das normas. Em novembro de 2016, um documento apresentado por autoridades de diferentes países ao Conselho Europeu da Agricultura falava na existência de "lacunas contínuas e inaceitáveis na aplicação das leis de bem-estar de animais de exportação".
Para ativistas que defendem os direitos dos animais, as empresas de exportação e transporte que violam os regulamentos europeus de proteção animal são motivadas pela redução de custos e encargos administrativos.
Os maus-tratos ocorrem em período em que as exportações de gado da UE para o Oriente Médio tiveram rápido aumento. Segundo o The Guardian, o volume exportado de gado bovino dobrou entre 2014 e 2016, chegando a 650 mil cabeças. Já a exportação de ovinos aumentou em 25% desde 2014, chegando a 2,5 milhões de cabeças. Os principais destinos são a Líbia, o Líbano e a Jordânia.
Nos últimos anos, eurodeputados têm aderido a um movimento que reivindica mudanças na regulamentação europeia sobre o transporte de animais. O Eurogrupo dos Animais reuniu dezenas de organizações de defesa e recolheu mais de 700 mil assinaturas para pedir à UE o fim do transporte de animais vivos em longas distâncias.
"Devemos avançar para um sistema alimentar onde os animais são criados e abatidos o mais próximo possível do local onde eles nascem. Isto não é apenas primordial para o bem-estar dos animais, mas também essencial para a segurança alimentar, para o meio ambiente e para a garantia da saúde pública", diz Hameleers.
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Animais de corte exportados pela Europa são espancados e torturados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU