27 Janeiro 2017
“Olhar para trás é muito útil e necessário para purificar a memória, mas se deter no passado, persistindo em recordar os males sofridos e cometidos, e apenas julgando com parâmetros humanos, pode paralisar e impedir que se viva o presente”. Foi o que disse o Papa durante as segundas Vésperas da Solenidade da conversão de São Paulo, ao final da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, na Basílica de São Paulo Extramuros. Uma autêntica reconciliação entre cristãos só poderá ser possível quando formos capazes de aprender “uns dos outros, sem esperar que sejam os outros que aprendam antes de nós”, ressaltou Francisco. Também recordou o “marco importante” da comum comemoração, no ano passado, na cidade de Lund, Suécia, do 500º aniversário da Reforma Luterana, um evento que no passado “dividiu os cristãos”, e exortou a proceder “animados pelo testemunho heroico de tantos irmãos e irmãs que, tanto ontem como hoje, estão unidos no sofrimento pelo nome Jesus”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 25-01-2017. A tradução é do Cepat.
A semana ecumênica, que se celebra no aniversário da conversão de São Paulo, neste ano, chegou a sua edição número 50 e é dedicada ao tema da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: “O amor de Cristo nos impulsiona para a reconciliação”. Participaram na celebração, como de costume, os representantes das demais confissões cristãs com presença em Roma, começando pelo metropolitano Gennadios, representante do Patriarcado Ecumênico, Sua Graça David Moxon, representante pessoal em Roma do arcebispo de Canterbury, o pastor luterano Jens-Martin Kruse. A música foi executada pela capela musical Pontifícia “Sistina”, com o Coro Anglicano da Abadia de Westminster.
O encontro com Jesus no caminho para Damasco, começou o Papa, “transformou radicalmente a vida de São Paulo. A partir de então, o significado de sua existência já não consiste em confiar em suas próprias forças para observar escrupulosamente a Lei, mas na adesão total de si mesmo ao amor gratuito e imerecido de Deus, a Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Desta maneira, ele adverte a irrupção de uma nova vida, a vida segundo o Espírito, na qual, pela força do Senhor Ressuscitado, experimenta o perdão, a confiança e o consolo. Paulo não pode ter esta novidade só para si: a graça o impele a proclamar a boa nova do amor e da reconciliação que Deus oferece plenamente à humanidade em Cristo”. A “revolução” que Paulo viveu “é também a revolução cristã de todos os tempos: não viver para nós mesmos, para nossos interesses e benefícios pessoais, mas à imagem de Cristo, por ele e segundo ele, com seu amor e em seu amor”.
“Para a Igreja, para cada confissão cristã – prosseguiu o Papa -, é um convite a não se apoiar em programas, cálculos e vantagens, a não depender das oportunidades e das modas do momento, mas a buscar o caminho com o olhar sempre posto na cruz do Senhor. Nela está o nosso único programa de vida. É também um convite a sair de todo isolamento, a superar a tentação da autorreferência, que impede captar o que o Espírito Santo realiza fora de nosso âmbito. Uma autêntica reconciliação entre os cristãos só poderá se realizar quando soubermos reconhecer os dons dos demais e formos capazes, com humildade e docilidade, de aprender uns dos outros, sem esperar que sejam os outros que aprendam antes de nós. Se vivermos este morrer para nós mesmos por Jesus - insistiu o Papa -, nosso antigo estilo de vida será relegado ao passado e, como aconteceu com São Paulo, entraremos em uma nova forma de existência e de comunhão”.
Com Paulo podemos dizer: ‘O antigo desapareceu’. Olhar para trás é muito útil e necessário para purificar a memória, mas se deter no passado, persistindo em recordar os males sofridos e cometidos, e apenas julgando com parâmetros humanos, pode paralisar e impedir que se viva o presente. A Palavra de Deus nos anima a retirar forças da memória para recordar o bem recebido do Senhor; e também nos pede para deixar para trás o passado, para seguir Jesus no presente e viver uma nova vida nele”.
“Este ano, enquanto caminhamos pelo caminho da unidade - enfatizou o Papa -, recordamos especialmente o quinto centenário da Reforma protestante. O fato de hoje católicos e luteranos poderem recordar juntos um evento que dividiu os cristãos, e que façam isto com esperança, dando ênfase em Jesus e em sua obra de reconciliação, é um marco importante, conquistado com a ajuda de Deus e da oração, em cinquenta anos de conhecimento recíproco e de diálogo ecumênico”.
O Papa, que saudou os representantes das demais confissões cristãs e, particularmente, os estudantes do Ecumenical Institute of Bossey, concluiu sua homilia afirmando que “com a esperança paciente e confiante de que o Pai concederá a todos os crentes o bem da plena comunhão visível, sigamos adiante em nosso caminho de reconciliação e de diálogo, animados pelo testemunho heroico de tantos irmãos e irmãs que, tanto ontem como hoje, estão unidos no sofrimento pelo nome de Jesus. Aproveitemos todas as oportunidades que a Providência nos oferece para rezar juntos, anunciar juntos, amar e servir juntos, especialmente os mais pobres e abandonados”.
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O Papa e o ecumenismo: “Não se deve parar nos males sofridos e cometidos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU