18 Novembro 2016
Em 1996 uma parte do PT preferiu apoiar Sérgio Cabral ainda no primeiro turno, por achar que Chico Alencar não tinha chances. Chico não chegou ao segundo turno por um fio de cabelo.
Em 1998 o PT do Rio foi estraçalhado por uma intervenção criminosa, que desrespeitou o resultado das prévias e impôs a aliança com Garotinho.
Depois vieram Rosinha em 2002 e Cabral em 2006 e 2010.
Hoje o arco de alianças do PT do Rio está literalmente na cadeia e o PT em frangalhos.
Parabéns a quem conduziu essa política vitoriosa.
Garotinho é um escroto no mais alto nível. Um tipo torpe de político, da pior espécie. Disso não tenho dúvida alguma.
Mas não fico nem um pouco feliz (muito pelo contrário) em ver o vídeo de seu sofrimento e de sua família ao ser levado para o presídio em Bangu.
Não sou de me alegrar com a prisão de ninguém, muito menos prisão sem condenação prévia. Nem mesmo com a prisão de quem ordenou centenas de prisões e agressões indiscriminadas a menino(a)s que denunciavam a pilhagem e o extermínio que o mesmo ordenador também comandava. É uma estanha sensação a que experimento agora, e me permito compartilhar.
Passam pela minha memória todas as violências que testemunhamos (descanse em paz, Amarildo, descansem em paz, mortos da Maré e de todo lugar), toda a arrogância e toda desfaçatez que suportamos, todos os recados ameaçadores que recebemos - por exercer nossos direitos civis ou por defender os direitos civis do(a)s que se insurgiam contra o descalabro holístico do desgoverno fluminense em 2013. Revivo as passagens tristes, "os terrores que vivi, os tremores que absorvi", a sofrida preocupação com a segurança daquela garotada frágil, a sofrida preocupação do(a)s verdadeiro(a)s amigo(a)s com minha segurança pessoal, a incompreensão de alguns a quem sempre compreendi... Mas revejo também tudo de bom, belo, corajoso e límpido que encontrei nas atitudes do(a)s desobedientes de então, especialmente nos 57 dias e noites em que a galera intrépida do Ocupa disse pacificamente o que era preciso dizer na esquina épica de Delfim com Aristides.
E hoje, pela segunda vez neste ano, uma das fontes, agora a principal, dos recados bizarros que então nos destinavam experimenta o destino insinuado naqueles mesmos recados. São mesmo caprichosos os caminhos que a fortuna traça.
Espero que fiquem o mínimo possível presos sem condenação. Espero que as autoridades competentes compreendam finalmente que, para o tipo de gente cuja felicidade é uma fanfarronada milionária no Ritz com selfies, a expropriação total do patrimônio é a melhor pena, e a que mais dói. Espero que o devido processo legal seja respeitado, que lhes sejam respeitadas as garantias que denegaram a tanto(a)s, e que se faça justiça.
Mas acima de tudo, espero que nunca mais menino(a)s que lutam pelos bens comuns contra todas as máfias sejam perseguido(a)s por polícias comandadas por essas mesmas máfias. Salve, guerreiro(a)s de 2013, vocês tinham toda razão! Nosso santo é forte, Axé!
No fundo, é até bom que o governo do usurpador Temer tenha mandado Blairo Maggi para a COP22 e que a incontinência verbal do ministro da agricultura o tenha feito soltar sandice atrás de sandice. Ia ficar tudo muito encoberto e camuflado se tivesse ido só o "queridinho" Zequinha Sarney, do MMA. Com a brutalidade ruralista de Maggi, que comparou a reserva legal da Amazônia a "um hotel de 100 quartos que só pode ocupar 20", que se disse feliz por que estavam matando "apenas" 50 ambientalistas por ano e que por fim admitiu que as metas da NDC brasileira eram somente uma "intenção", talvez as pessoas de outros países possam entender melhor quem é de fato o Brasil no jogo do bicho. Que a máscara de "bom moço" do nosso país nessas negociações do clima caia de uma vez por todas.
Saiu agora na Scientific American. Quem está insistindo com o Trump para que ele encare seriamente a mudança climática como uma ameaça à "segurança nacional" não são os cientistas, mas os MILITARES dos EUA. Eles sabem que essa loucura toda não vai acabar bem.
Com os últimos acontecimentos, podemos dar como derrotadas as duas teses que mais circularam sobre a Lava Jato: a tese verde-amarela e a tese petista.
A tese verde-amarela entende a Lava Jato como uma limpeza inédita da política brasileira, uma caça impoluta aos ladrões do dinheiro público. A tese petista (e de seus satélites, como os garantistas chapa-branca) entende a Lava Jato como uma operação de perseguição a uma força política específica e partícipe de um golpe de Estado.
Essas duas teses estão derrotadas, o que não quer dizer que a realidade da Lava Jato não inclua elementos das duas: ela inclui uma vontade messiânica -- muito própria dos procuradores formados na era Lula -- de limpeza imparcial da política e inclui também um certo anti-petismo que grassa em certos setores do Judiciário.
Mas ela inclui muito mais, porque o messianismo próprio dessa nova geração de procuradores tromba repetidamente com um aparato institucional que, vira e mexe, impõe-lhe limites. Por outro lado, o anti-petismo de certos setores do Judiciário tromba a todo momento com a patente revelação de que os governos dos últimos 14 anos apenas refinaram um mecanismo de corrupção que já estava lá desde Cabral, não o Sérgio, mas o Pedro Álvarez.
Entender a Lava Jato em toda a sua complexidade, não como grande limpeza nem como simples instrumento de golpe, mas como operação policial sujeita às inúmeras complexidades, atravessamentos, singularidades próprias a qualquer operação policial é o mínimo que você pode esperar de alguém que queira entender o Brasil de hoje.
Dispense a turma que tem teorias muito simples.
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