11 Outubro 2016
O padre John Dardis é natural da Irlanda e é presidente da Conferência dos Jesuítas Europeus. Pedimos-lhe para compartilhar as suas reflexões sobre como a experiência europeia poderia contribuir com a 36ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, a partir do que foi feito na fase preparatória. E quais são as suas impressões pessoais sobre estes dias.
O artigo foi publicado no sítio oficial da 36ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, 08-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Pela primeira vez na história das Congregações Gerais, as Conferências de Províncias foram chamadas a desempenhar um papel ativo antes da sessão plenária. É uma forma de reconhecer a universalidade da Companhia de Jesus, que deve ser integrada nos seus modos de proceder. Os delegados europeus se reuniram, há mais de 50. Nós abrangemos um grande território geográfico, da Irlanda à Síria e ao Líbano, da Suécia à África do Norte. Fizemos o trabalho que nos foi pedido para fazer para a preparação concreta da Congregação Geral, mas o aspecto mais importante é que começamos a nos conhecer e a pensar sobre o tipo de questões que a Companhia de Jesus está enfrentando hoje.
Como podemos encontrar a nossa unidade, sendo tão diferentes de tantas maneiras? Eu diria: "falando". Parece algo muito banal, mas quando os jesuítas compartilham questões, preocupações, quando eles compartilham desejos, eles superam os problemas de linguagem mediante o mesmo desejo de servir a Cristo. Às vezes, existem diferenças de opinião? É claro, e isso é saudável; seria prejudicial se elas permanecessem escondidas.
Quando eu me pergunto o que os europeus poderiam trazer à Congregação, eu penso, em primeiro lugar, nos nossos desafios. Nós lutamos por vocações, por exemplo. Cometemos erros e podemos compartilhar isso também. De modo mais geral, eu acho que, quando pensamos no século XX na Europa, a nossa história é terrível: fascismo, stalinismo, todos esses "ismos" com os quais nós lidamos, que infligimos uns sobre os outros e sobre o mundo. Nós também aprendemos que as ideologias podem literalmente matar milhões de pessoas. Então, diante das ideologias de hoje, do secularismo, do consumismo, do individualismo que fere o espírito humano, nós podemos ter algo a dizer.
Nós, jesuítas, temos os Exercícios, que se destinam a trazer a libertação para as pessoas, uma libertação que ajude as pessoas a encontrarem Deus e a encontrarem a liberdade dos "ismos" e das ideologias.
Pessoalmente, quando eu olho para aquilo que nós experimentamos desde que começamos a Congregação, os momentos mais comoventes foram a renúncia de Adolfo Nicolás, tão simples, tão humilde, e o discurso do padre Lombardi para agradecer o padre Nicolás. Não foram só ideias, foi algo mais afetivo, algo que tocou os corações de todos. E a Congregação não é apenas ideias; também é afeto, amizade e vínculos, algo que faz parte da vida dos jesuítas desde o início. Inácio e os seus primeiros companheiros eram amigos; eles provavelmente brigavam, mas também compartilhavam profundamente o seu afeto uns pelos outros.
Nós não somos como uma empresa transnacional que faz análise de necessidades, avalia desafios e traça estratégias. Nós olhamos para as necessidades do mundo, mas tentamos olhar para elas com os olhos da Trindade, o olhar misericordioso de Deus. Todos nós olhamos para esses desafios, a migração, a pobreza, a situação dos povos indígenas, a secularização, a perda da fé. Se olharmos para eles sem o olhar da Trindade, nós ficaríamos desanimados.
Mas a Trindade, com a Sua compaixão, nos olha com compaixão, com as nossas limitações e as nossas forças. É essencial que adotemos essa perspectiva. Sim, nós estamos tentando estar junto de Inácio, de Francisco Xavier, de Pedro Fabro e da Trindade. Talvez isso soe um pouco pretensioso, mas é uma atitude de oração em relação ao mundo e a nós mesmos: e é isso que me move durante toda a experiência da Congregação.
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Olhando para os atuais desafios da Companhia de Jesus com o olhar da Trindade. Entrevista com John Dardis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU