12 Julho 2016
No começo da semana passada, o Papa Francisco voltou a aparecer nas manchetes internacionais quando disse que os bispos deveriam pedir desculpas às pessoas LGBTs e buscar o perdão delas pela forma como a Igreja as tem prejudicado.
A opinião é de John Gehring, publicada por Religion News Service, 29-06-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Estas palavras de cura, acolhedoras do papa não deveriam apenas levar a uma reflexão sóbria, mas também a ações tangíveis nas dioceses americanas. Apenas palavras não são suficientes para curar as feridas que muitos católicos LGBTs tiveram – e têm – diante da indiferença e da exclusão.
Esta honestidade do papa oferece uma oportunidade única para o clero dos Estados Unidos começar tudo de novo.
Mesmo que as pesquisas mostrem que a maioria dos católicos apoia o casamento de pessoas do mesmo sexo, a Igreja não precisa mudar os seus ensinamentos sobre o matrimônio para dar passos imediatos que demonstrariam um compromisso com a construção de pontes junto à comunidade LGBT. Algumas paróquias católicas em San Francisco, Boston e Nova York há muito tempo são lugares acolhedores para os gays e lésbicas. Ainda assim, em muitas outras localidades gays e lésbicas são tolerados, mas não acolhidos; em muitas dioceses, estas pessoas ouvem, mas não são ouvidas.
O clero católico pode institucionalizar as palavras de solidariedade do papa ao criar oportunidades reais para aquilo que Francisco chama de “acompanhamento” e “encontro”.
Os pastores nas 195 dioceses católicas em todo o país poderiam dar um primeiro passo realizando sessões de escuta com católicos homossexuais e líderes LGBTs. Sim, haveria desacordo e espaço para um debate público, mas também essa postura de humildade e respeito enviaria um sinal forte de que a maior igreja deste país quer aprender com as experiências variadas das pessoas gays, lésbicas e transgêneras.
Uma mão estendida é geralmente recebida melhor do que um dedo abanando negativamente. Os bispos poderiam também dar mais de si na luta contra a discriminação no trabalho. Hoje, gays e lésbicas podem se casar legalmente, mas em mais da metade dos estados é legal também discriminar uma pessoa gay no local de trabalho, por exemplo. Um conjunto de leis vem deixando milhões de cidadãos LGBTs com o status de segunda classe.
Os católicos deveriam estar na vanguarda da luta contra estas injustiças. Quando o Senado aprovou uma lei bipartidária antidiscriminatória aos trabalhadores em 2013, a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA disse que queria “trabalhar com os líderes e todas as pessoas de boa vontade para acabar com quaisquer formas de discriminação injusta”, mas, em seguida, opôs-se à legislação com base em que ela enfraqueceria o matrimônio e ameaçaria a liberdade religiosa.
Os bispos católicos dos EUA podem e devem fazer melhor.
Há divergências legítimas entre instituições católicas e os governos sobre como equilibrar mais adequadamente os direitos de consciência religiosa com os direitos de igualdade da comunidade LGBT. Porém, estes debates políticos frequentemente surgem da busca de conciliação entre duas coisas boas, e não de confrontos fundamentais entre o bem e o mal.
A conferência episcopal americana deveria baixar o seu nível retórico, e agir mais como pastores do que advogados. Seja condenando como “extrema” a ordem executiva do presidente Obama que proibia empreiteiros federais de discriminarem com base na orientação sexual ou na identidade de gênero, seja criticando como um “erro trágico” a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de defender o direito a um casamento civil homoafetivo, a abordagem adotada pelos bispos pouco tem contribuído para convencer a maioria das pessoas a ficar do seu lado; pelo contrário, ela apenas vem contribuindo para derramar sal em feridas antigas.
Francisco não quer extirpar os ensinamentos tradicionais da Igreja sobre o matrimônio ou a sexualidade. O que quer é humanizar o diálogo. E ele não tem medo de abalar as bases.
“O Papa Francisco está falando sobre os gays e lésbicas de uma forma que qualquer um, dez anos atrás, já teria sido disciplinado, censurado ou silenciado”, tuitou o Pe. James Martin, destacado jesuíta e editor da revista America.
O falecido cardeal Joseph Bernardin, de Chicago, triste com as divisões dentro da Igreja americana, criou, na década de 1990, um projeto de base comum com o objetivo de estimular o diálogo entre católicos conservadores e progressistas sobre uma série de questões polêmicas. A sua iniciativa arrastou-se sem muito sucesso nos anos após a sua morte. À medida que novas batalhas opõem uma liberdade religiosa devota contra os direitos LGBTs, um compromisso revigorado com um denominador comum e com o bem comum faz-se necessário, hoje, mais do que nunca.
Em seus comentários que viraram manchetes recentemente, Francisco citou o Catecismo da Igreja Católica, que ensina que gays e lésbicas “Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza” e que “Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta”. Essas palavras são inequívocas. Mas são apenas palavras sobre uma página, a menos que a Igreja as coloque em prática.
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Comunidade LGBT: O que Francisco pode ensinar aos bispos americanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU