08 Julho 2016
Noemi Di Segni, 47 anos, nascida em Jerusalém e romana de adoção, é a nova presidente da União das Comunidades Hebraicas Italianas. Uma mulher volta à frente do judaísmo italiano: "É o resultado de um trabalho de quatro anos realizado por um grupo de mulheres dentro da União. Tal como acontece com as árvores, levou tempo para ver os frutos".
A reportagem é de Paolo Conti, publicada no jornal Corriere della Sera, 06-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Você idealmente sucede a Tullia Zevi, presidente da União de 1983 a 1998.
É uma honra me defrontar com a extraordinária herança de Tullia Zevi, que liderou a União desempenhando um trabalho fundamental em anos de árduos desafios. Necessariamente diferentes dos de hoje, que têm como pano de fundo as novas tecnologias e o seu uso, a integração, o drama do trabalho, a identidade europeia em crise.
Que valor a mais pode ser trazido por uma mulher em um cargo muito delicado o de representar um judaísmo italiano compacto, mas, ao mesmo tempo, muito diferente?
Há o valor particular das mulheres: o fato de saberem proteger e preservar o núcleo familiar. Eu tenho três filhos e sei bem o quanto isso é essencial. Na minha família, porém, todas as mulheres não só tiveram relações familiares fortes, mas também sempre consolidaram o seu percurso pessoal enfrentando estudos universitários e inserindo-se na vida pública e nas instituições. Em Israel, a igualdade entre homens e mulheres é um fato adquirido: a importância dessa paridade pertencia à matriz social dos anos em que o Estado de Israel nasceu. Também na Itália foram dados muitos passos, mas os desafios continuam sendo numerosos. Uma mulher na presidência da União pode transferir o próprio momento familiar a uma família mais alargada, a do judaísmo italiano, transmitindo com paixão o afeto pela comunidade com espírito de serviço. Não é um "trabalho", mas um cargo livre em uma entidade que notoriamente não é lucrativa.
A comunidade hebraica romana, a mais numerosa, também é liderada por uma mulher, Ruth Dureghello. Portanto, há uma nova linha de tendência no judaísmo italiano?
O compromisso das mulheres está se tornando um patrimônio do judaísmo italiano. Ruth é muito boa, e é bom pensar que Noemi e Rute, na Bíblia, estão unidas por um vínculo muito forte entre sogra e nora. Mas eu quero lembrar que muitas comunidades, até mesmo as menores entre as nossas 21, foram ou são dirigidas por mulheres. E é necessário enfatizar a importância que as comunidades menores têm, em que, talvez, seja mais difícil manter a peculiaridade e a identidade por falta de escolas. São comunidades diferentes entre si, com tradições muitas vezes diferentes. Um valor que deve ser tutelado e protegido.
Você acha que, na Itália, ainda há um antissemitismo difundido, que o nível é preocupante?
O antissemitismo evolui e muda. Hoje, ninguém teoriza a eliminação física como o nazismo fez. Mas há formas sutis que resistem. Quem vive na própria pele essa não valorização, esse não reconhecimento do outro, sabe disso. Hoje, o maior perigo vem das mídias sociais, em que, como demonstram os recentes episódios de terrorismo ligados ao ISIS, os jovens menos estruturados podem ser atraídos pelos catalisadores de ódio que exploram fraquezas e fragilidades. É preciso agir nas escolas, apoiar os jovens, explicar os perigos da web e contar o que está acontecendo no mundo, mas sem gerar pânico. O judaísmo, pela sua capacidade de enfrentar o cerne da segurança física e psicológica, pode dar uma grande contribuição.
Qual a importância, na relação entre judeus e católicos, das visitas dos três papas na sinagoga?
Como sempre disse o meu predecessor Renzo Gattegna, que, para mim, é uma luz, um mestre e uma grande pessoa, tornou-se uma relação entre aqueles que querem se conhecer como diferentes, mas que têm muitas mensagens comuns a levar. Essas visitas foram muito importantes. Ainda há questões a serem abordadas, mas eu olho com confiança para um percurso que está progredindo muito positivamente.
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"O valor das mulheres é um patrimônio do judaísmo." Entrevista com Naomi Di Segni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU