Por: Jonas | 03 Mai 2016
Em apenas três anos de Pontificado, Jorge Bergoglio conseguiu se tornar um líder internacional, interpelando o mundo político com seus gestos de misericórdia e, ao mesmo tempo, avançando na reforma interna da Igreja, segundo esboça o jornalista argentino Marcelo Larraquy, em seu novo livro.
Fonte:http://goo.gl/cWPHww |
A reportagem é de Natalia Kid, publicada por Ultima Hora, 30-04-2016. A tradução é do Cepat.
“Código Francisco”, que acaba de ser lançado na Argentina, transita por estas duas trilhas: a forma como o Pontífice constrói sua liderança internacional e sua busca por uma reforma pastoral, duas faces de um trabalho complexo e cujas raízes o autor tenta pesquisar no passado de Bergoglio, como superior dos jesuítas na Argentina e como arcebispo de Buenos Aires.
“Francisco está dando à Igreja um lugar que havia perdido dentro da globalização, dentro do mundo atual, onde oferece um caráter político à misericórdia”, disse Larraquy, que em 2013 já havia publicado um livro sobre Bergoglio intitulado “Rezem por ele”.
Larraquy, também historiador, destaca a força do Papa para denunciar em escala global flagelos como o tráfico de pessoas, o narcotráfico e as máfias e para “colocar o corpo” em um assunto tão espinhoso como a crise migratória na Europa, viajando a Lampedusa (Itália), assim que iniciou seu Pontificado, e recentemente com sua visita a Lesbos, de onde levou a Roma doze refugiados sírios.
“É o único chefe de Estado do mundo que vai lá e enfrenta a realidade”, destaca o autor, que enfatiza que estes “gestos de misericórdia” constituem um sinal para o restante dos líderes mundiais.
Para o jornalista, “enquanto a Europa cria novas cortinas de ferro diante dos imigrantes e coloca sob suspeita todo o mundo islâmico, o Papa está dando um exemplo e leva muçulmanos para o Vaticano”.
“Sua influência política é muito proferida porque se tornou um interlocutor válido para certos conflitos”, afirma Larraquy, que destaca em seu livro o papel do Papa no reestabelecimento das relações entre Cuba e Estados Unidos, sua aproximação a Vladimir Putin, seus esforços por um processo de paz no Oriente Médio e sua “tática” para avançar na Ásia.
O jornalista não fica surpreso com o fato de Francisco estar colocando o dedo na ferida em temas urgentes para o mundo. Comenta que Bergoglio já falava de assuntos como o tráfico de pessoas e o tráfico de drogas e que denunciava os males do neoliberalismo quando era arcebispo de Buenos Aires. Só que não fazia isto pela imprensa, mas em suas homilias, no contato direto com as pessoas, e sua voz era ignorada pelos grandes meios de comunicação.
O que de fato lhe surpreendeu é a forma como Francisco conseguiu “tirar a Igreja de Roma”, “sem ficar absorvido pela Cúria Romana”.
“Ele tem mais obstáculos internos que externos. As reformas pastorais que promove são muito mais lentas, apesar de não deixar de insistir nisso”, sustenta o jornalista, que dedica boa parte de seu livro ao processo do Sínodo sobre a Família que desembocou na recente publicação da exortação “Amoris Laetitia”.
Segundo Larraquy, entre certos setores da Igreja, “há muitas dificuldades” em aceitar “a pastoral muito mais flexível” promovida pelo Papa. Por exemplo, para o caso dos divorciados, pois “alguns acreditam que pode colidir com a doutrina”.
Contudo, considera que o Papa irá aprofundar esta linha e recorda que Bergoglio, longe de se espantar com as oposições, “sempre foi um homem de tensões, que de alguma maneira é a essência dos jesuítas”.
Segundo Larraquy, sua experiência como superior dos jesuítas, na Argentina, foi marcada pelo conflito com setores da Companhia de Jesus que haviam optado por teologias mais próximas ao terceiro-mundismo.
“Era um superior conservador, que tentava refugiar os que eram perseguidos pela (última) ditadura. Porém, não acreditava ideologicamente na Teologia da Libertação, nem no terceiro-mundismo, que lhe pareciam saberes ilustrados que não colocavam Deus ao centro”, sustentou.
Larraquy destaca que Bergoglio “não era um cúmplice da ditadura, mas simplesmente não compartilhava da corrente teológica dominante entre os jesuítas latino-americanos” e, pelo contrário, “estava muito mais perto da Teologia do Povo, da renovação do Evangelho a partir da sabedoria popular”.
“Ele é impactado pelos anos 1970 da Argentina, que de alguma maneira o colocam em um setor mais reativo, ao passo que hoje está em uma posição mais de ofensiva política”, afirmou Larraquy.
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“Código Francisco”. O Papa entre a liderança global e a reforma pastoral - Instituto Humanitas Unisinos - IHU