Por: Jonas | 06 Abril 2016
Três barcos saíram carregados de pessoas que foram deportadas das ilhas gregas a Turquia, ontem, no primeiro dia da polêmica implementação do plano da Europa para frear a maré de pessoas em suas costas. Um total de 202 pessoas de países como Paquistão, Afeganistão, Iraque, Irã e Somália foram acompanhadas até os barcos, antes de voltar a fazer a viagem em direção oposta, pela qual previamente haviam pagado centenas de dólares para viajar em botes precários, com a ajuda de contrabandistas.
A reportagem é de Laura Pitel e Andrew Connelly, publicada por Página/12, 05-04-2016. A tradução é do Cepat.
Em grande medida, o primeiro dia foi simbólico. As autoridades da União Europeia disseram que nenhum dos deportados havia solicitado asilo na Grécia e que todos haviam partido voluntariamente. Os críticos, no entanto, advertiram que as expulsões em massa marcaram o início de um novo capítulo obscuro na história da Europa.
A Anistia Internacional o descreveu como “o primeiro dia de um momento muito difícil para os direitos dos refugiados”. Giorgos Kosmopoulos, diretor do grupo Grécia, acusou a União Europeia de “levar adiante um acordo perigoso”, apesar da preocupação pela falta de proteção aos refugiados na Turquia.
Em virtude de um pacto alcançado entre Bruxelas e Ancara, todos os que fizeram a travessia marítima da Turquia a Grécia, após o dia 20 de março, serão enviados novamente, caso optem em não solicitar asilo ou se sua solicitação for rejeitada.
Por outro lado, a União Europeia prometeu uma série de incentivos a Turquia e se comprometeu a acolher um sírio para cada um que é devolvido. Ontem, 16 sírios aterrissaram na cidade alemã de Hannover, como parte do lado europeu da negociação. Um grupo de outras 11 pessoas chegou a Finlândia.
Os funcionários se preparam para cenas caóticas, quando os que resistirem à expulsão forem enviados de volta à força, mas as primeiras deportações pareceram calmas. Na ilha grega de Lesbos, o primeiro grupo de 136 pessoas havia se reunido ao amanhecer e foi acompanhado por dois pequenos barcos. Um pequeno grupo de manifestantes fora do porto gritou: “deveriam sentir vergonha!”. Outras 66 pessoas da ilha de Quios foram conduzidas para o terceiro barco.
As embarcações foram escoltadas pela guarda costeira turca, com o helicóptero zumbindo sobre elas, para a cidade portuária turca de Dikili. Assim que os passageiros desembarcaram, as autoridades levantaram uma lona para esconder do olhar de dezenas de fotógrafos e repórteres que aguardavam. As imagens publicadas pela agência de notícias Anadolu, estatal turca, mostraram as chegadas, quando eram recolhidas as impressões digitais e ofertado cobertores antes de subirem nos ônibus.
As autoridades da União Europeia disseram que nenhum dos deportados havia solicitado asilo na Grécia e que todos haviam partido por vontade própria. A grande maioria eram homens, e havia gente do Paquistão, Bangladesh, Iraque, Afeganistão, Irã, Congo, Somália e Costa do Marfim. Dois sírios estavam entre os que foram enviados de volta, mas o ministério de proteção civil grego disse que haviam pedido para voltar. A agência Anadolu disse que os sírios seriam alocados em campos de refugiados, ao passo que os outros seriam deportados.
Não ficou claro por que o grupo inicial de pessoas havia quiseram retornar. Melissa Fleming, porta-voz da agência de refugiados da ONU, disse que seu pessoal havia falado com aqueles que foram deportados e que “não haviam expressado desejo de solicitar asilo”. Grupos de direitos humanos e voluntários advertiram que muitos dos refugiados e os migrantes podem estar confusos ou desconhecem seus direitos. Espera-se que as próximas deportações sejam mais lentas.
Cerca de 4.000 pessoas se encontram reclusas em condições de confinamento nas ilhas gregas. Ainda que os números tenham caído mês a mês, as pessoas continuam chegando. Cerca de 330 pessoas chegaram em barcos, somente ontem pela manhã.
Contudo, não há pessoal suficiente para cumprir com as necessárias solicitações de asilo por via rápida. Um funcionário grego disse que apenas 20 pessoas em Lesbos seriam escolhidas para uma deportação imediata.
Existe o temor de uma crescente agitação nos centros de detenção, onde choques violentos já foram deflagrados, e de forte resistência entre aqueles que se viram obrigados a voltar contra sua vontade. Jamshed, de 31 anos, mecânico de Lahore, pagou 5.000 dólares para chegar a Grécia, vindo do Paquistão. Falando através do alambrado do campo de detenção de Moria, na ilha de Lesbos, deixou claro que não estava disposto a voltar a Turquia. “Cada dia há explosões de bombas no Paquistão, é por isso que vim aqui”, disse. “Nosso futuro está na Europa”.
Veja também:
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Refugiados. Começou um capítulo obscuro na Europa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU