A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 15,9-17 correspondente ao 6° Domingo de Páscoa, Ciclo B do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Assim como meu Pai me amou, eu também amei vocês: permaneçam no meu amor. Se vocês obedecem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como eu obedeci aos mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu disse isso a vocês para que minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa.
O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos. Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu estou mandando. Eu já não chamo vocês de empregados, pois o empregado não sabe o que seu patrão faz; eu chamo vocês de amigos, porque eu comuniquei a vocês tudo o que ouvi de meu Pai. Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que escolhi vocês. Eu os destinei para ir e dar fruto, e para que o fruto de vocês permaneça. O Pai dará a vocês qualquer coisa que vocês pedirem em meu nome. O que eu mando é isto: amem-se uns aos outros.
A liturgia deste domingo nos oferece uma continuação da leitura do capítulo 15 do Evangelho de João. Jesus dialoga com seus discípulos sobre o vínculo de amor que é intrínseco ao relacionamento e à amizade com ele e com os membros da comunidade.
Em primeiro lugar, ele enfatiza a origem desse amor, que é o Pai, que "amou primeiro". O Pai nos ama com um amor incondicional e único, do qual Jesus tem uma experiência inigualável e, por isso, pode dizer: assim como o pai me ama... Diante das palavras de Jesus, podemos imaginar possíveis perguntas ou questionamentos que existiam na comunidade: É possível permanecer no amor e não ceder à tentação de desistir quando surgem as dificuldades? O que significa amar, guardar os mandamentos, obedecer à sua Palavra? Essas possíveis perguntas foram retomadas pela comunidade joanina a partir da perspectiva do mistério pascal de Jesus.
Em nossa cultura ocidental, estamos acostumados a ver uma cruz nas igrejas, nas ruas, em diferentes ambientes ou a fazer o sinal da cruz como um gesto de devoção, respeito e oração. E talvez não entendamos o profundo mistério que se esconde nela porque já a incorporamos aos nossos olhos, ao nosso ambiente e não desperta nenhuma pergunta, nem questionamento. Não podemos esquecer que a cruz era um instrumento de tortura para fazer justiça e condenar os que atentavam contra aquilo que o império romano considerava um delito segundo suas normas. Os condenados à morte em cruz, além de carregar sua cruz para serem crucificados – geralmente fora da cidade –, iam sofrer a exposição pública com o consequente desprezo e zombaria daqueles que percorriam o caminho onde estavam os assassinos e malfeitores. A mensagem de Jesus não era “simples”, seguir seu caminho não era muito bem visto, não era fácil aceitar sua vida, seu mistério, aceitar sua entrega à morte de cruz. O que tudo isso significa? Como é possível entender o amor do Pai por Jesus se ele o "deixou" morrer em uma cruz?
No texto deste domingo podemos encontrar alguma resposta, alguma pista que nos ajude a entender melhor seu mistério. Assim como meu Pai me amou, eu também amei vocês: permaneçam no meu amor. O amor de Jesus nasce no Amor do Pai. Ele é sua origem, sua fonte. Na primeira frase do texto que meditamos neste domingo, a palavra amor aparece três vezes em uma sequência. "Como o Pai me amou", depois ele dirá "eu também amei vocês" e, por fim, "permaneçam no meu amor". O amor é vida em movimento, tem uma origem e não para. Jesus conhece esse amor do Pai porque o experimentou durante toda a sua vida. E de uma forma surpreendente – aos nossos olhos – porque pode ser difícil para nós "apreciá-lo" e reconhecê-lo, quando ele está na cruz.
Geralmente é difícil reconhecer o amor de Deus no sofrimento, nessa realidade que parece apenas levantar dúvidas, que nos questiona e também desperta em nós a compaixão, o desejo de evitar o que for possível ou de tornar mais suportável aquele momento ou aquela realidade de dor pela qual as pessoas ou as comunidades estão passando. Jesus conhece o amor do Pai e, na Páscoa, ele o torna expansivo a toda a humanidade, para que possa dizer: “Como meu Pai me amou, eu também amei vocês". Ele nos ama com um novo amor, que não é compreendido, mas experimentado e vivido. Somente a partir dessa experiência pascal podemos dizer com plena convicção que a vida do Ressuscitado palpita nas profundezas de todo sofrimento humano. É por isso que ele nos diz: "permanecei no meu amor".
Neste domingo, Jesus nos convida a participar dessa corrente de amor e a permanecer nela. Dali fluirá o amor que sustenta a vida da comunidade, o amor que é compassivo diante da dor dos outros, que conhece uma resposta profunda, mas não a possui, mas pode atrair outros para ela. Jesus disse no fim da narrativa deste domingo: "O que eu mando é isto: amem-se uns aos outros". E assim nos convida a viver sua presença em nossas comunidades neste mundo perpassado por tantas feridas e sofrimentos.