Por: MpvM | 10 Julho 2020
"Como acolher a proposta do Reino com o coração e mente abertos no nosso cotidiano?" Jesus explica para os discípulos e para nós o que muitos desejaram ouvir e não ouviram.
A reflexão é de Celia Soares de Sousa, graduada em Teologia pela Faculdade de Teologia N. Sra. Assunção, SP (1999), mestre em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP (2013), tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Bíblica, Pastoral e Dogmática, especialmente na formação de leigos e leigas e é pós-graduanda em Mariologia pela Faculdade Dehoniana e Academia Maria de Aparecida.
Leituras do Dia
1ª Leitura - Is 55,10-11
Salmo - Sl 64,10.11.12-13.14 (R. Lc 8,8)
2ª Leitura - Rm 8,18-23
Evangelho - Mt 13,1-23
Evangelho - Mt 13,1-9
No Evangelho de Mateus, há uma narrativa que é característico deste evangelho, o chamado “discurso em parábolas” no capítulo 13. Porém, quando revisitamos os capítulos 11 e 12 percebemos que Mateus anuncia a prática libertadora de Jesus. Em Mt 11,5 Jesus aponta para o Reino, onde “os cegos veem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”.
Em Mateus 13,2 aparece uma grande multidão reunida em torno de Jesus. Essa multidão pode ser compreendida como as autoridades que não aceitavam Jesus e faziam de tudo “levá-lo à morte” (Mt 12,1-2.14.24).
Jesus fala do Reino por meio de parábolas, um jeito simples que o povo podia entender as coisas sobre o Reino. “As parábolas poderão ser entendidas na medida que o ouvinte se abrir aos mistérios do Reino, como os discípulos” .
A bela e conhecida parábola do semeador pode ser dividida em três partes: 1) a parábola e os que compreendem e os que não compreendem; 2) acolher a proposta do Reino com todo o nosso ser; e 3) as diferentes maneiras de acolher a proposta do Reino e as consequências na vida.
Importante destaque nesta parábola é dado ao tipo de solo. Jesus ao falar dos tipos de terreno mostra a realidade camponesa do seu tempo: famílias que não tinham um pedaço de terra, outras que tinham que se contentar com um terreno pedregoso, sem muita terra.
Na parábola, o semeador saiu para semear, e algumas sementes caíram à beira do caminho. Ali não havia terreno preparado para receber a semente, logo vieram os pássaros e a comeram. Outras sementes caíram em terreno pedregoso, e em meio a tantas pedras, as sementes não sobreviviam sem raiz. Outras sementes caíram no meio dos espinhos, e os espinhos sufocaram a planta. E outras caíram em terra boa, estas produziram frutos.
Jesus desmascara a realidade do povo pobre. Ele irá mostrar que não basta olhar e não ver, ouvir e não escutar, nem compreender. É com o coração insensível e com a má vontade que muitos se colocam diante da proposta libertadora de Jesus: só olham, mas não veem, ouvem, mas não escutam, não sentem compaixão e não cuidam dos sofredores, os preferidos de Jesus. Eles fecham os olhos para o cuidado com a Vida e com “toda a criação que geme como que em dores do parto”, como nos diz Paulo na segunda leitura. Para Jesus são Felizes e promovem vida aquelas e aqueles que recebem a Palavra, deixam-na germinar e esperam que produzam frutos que são dons de Deus. Felizes os que são favorecidos com o conhecimento dos segredos do Reino. Não por nossos esforços próprios, mas é Deus que age em nós pela graça, para que possamos dar muitos frutos da sua Palavra.
Como acolher a proposta do Reino com o coração e mente abertos no nosso cotidiano? Jesus explica para os discípulos e para nós o que muitos desejaram ouvir e não ouviram.
Ouvir a Palavra, mas não estar abertos ao que ela nos chama é como a semente que caiu à beira do caminho. Ela pode ser levada pelo Maligno, ou seja, por outros interesses contrários à proposta de Jesus, como o individualismo, o egoísmo, o fechamento em si mesmo, a mentira, etc. Receber a Palavra com alegria em meio ao sofrimento e perseguições, mas desistir no seguimento como discípulos missionários, é ser um terreno que não acolhe, não aprofunda a raiz da semente, e por isso não dá frutos. Ser um terreno com espinhos é deixar que as preocupações e ilusões da riqueza sufoquem a fé no Projeto de Jesus.
Ser terra boa é experimentar o ensinamento de Jesus com alegria, é buscar entender a proposta do Reino dos Céus e colaborar com Jesus para que a semente afunde na terra. Os frutos são graça e dom dados por Ele. Como diz o Profeta Isaías na primeira leitura: “que a chuva e a neve que descem do céu não voltam mais para lá, porque a missão delas é de fecundar a terra, germinar e dar semente” (cf. Is 55,10). Assim também que a Palavra de Deus que sai da boca das mulheres e homens de hoje com o propósito de germinar frutos de justiça, de partilha, compaixão em meio a realidade de morte e sofrimentos em consequência da pandemia e de descasos do poder público, “não volte vazia”, sem antes produzir frutos do Reino (cf. Is 55,11).
Senhor, abri os nossos corações para a escuta da palavra; dai-nos a graça de experimentar e anunciar a Alegria do Evangelho, para que a vossa Palavra possa produzir em nós e no mundo. Que possamos ser terra boa para ir ao encontro dos que mais precisam, ser presença para frutificar esperança e alegria na vida de tantas pessoas que estão sufocadas e sem brilho.
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15º domingo do tempo comum - Ano A - Jesus semeador da Palavra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU