Por: MpvM | 01 Novembro 2019
"A santidade não é um status a alcançar, ou um prêmio reservado só para alguns privilegiados, para uma elite de pessoas.
Pelo contrário, a santidade é um caminho, um processo que se inicia no dia de nosso batismo, pelo qual nascemos como filhos/as de Deus, como nos recorda João na segunda leitura (1Jo 3,1-3). Esta é nossa identidade, ser filhos e filhas muito amados de Deus, e nessa identidade vamos crescendo na medida em que seguimos a Jesus e fazemos nossa a sua opção pelo cuidado da vida em todas suas dimensões e diversidades, especialmente o cuidado pela vida ferida, isto é a santidade."
A reflexão é de Maria Cristina Giani, mcr, religiosa da Congregação Missionárias de Cristo Ressuscitado, da qual atualmente é a Coordenadora Geral. Ela é graduada em teologia pela Universidade La Salle - Unilasalle (2006) e possui especialização em espiritualidade pela Università Pontifícia Salesiana - UPS (2000). Atua em pastorais sociais com mulheres em situação de vulnerabilidade social e como orientadora de retiros.
Referências bíblicas
Leituras do Dia
1ª Leitura - Ap 7,2-4.9-14
Salmo - Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)
2ª Leitura - 1Jo 3,1-3
Evangelho - Mt 5,1-12a
Este domingo da Solenidade de todos os Santos e Santas é um convite a fazer memória agradecida por tantos homens e mulheres, jovens e crianças que viveram a santidade e hoje são luzes que nos guiam e iluminam no nosso caminho de santidade.
A primeira leitura nos fala de “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e língua que estavam de pé diante do trono e do Cordeiro, trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão”. Trata-se de todos aqueles e aquelas que nos precederam no caminho da fé, que, como disse Paulo, combateram o bom combate pelo reino e hoje gozam da alegria de Deus plenamente. Seu testemunho de vida, de entrega ao Projeto do Pai em diferentes contextos da história, do mundo, continuam nos encorajando na nossa caminhada de fé.
Nessa multidão vestida de branco e com palmas na mão que ninguém pode contar, encontramos santos e santas mais conhecidos universalmente: São Francisco, Santa Teresinha, São José, Santa Maria Madalena...
Tendo ainda presente o Sínodo da Amazônia, queria salientar como foi feito no Via Crucis realizado esses dias em Roma, o nome de alguns outros santos/as contemporâneos, mártires que legaram a vida para transmitir o Evangelho no cuidado de nossos irmãos mais sofridos e da casa comum: como não nomear a Irmã Cleusa, Padre Josimo Moraes, Irmão Vicente Cañas, Galdino Pataxó, Irmã Inês Arango, Padre Alcides Jiménez, Irmã Dorothy Stang, Dom Alejandro Labaka, São Oscar Romero, Padre Ezequiel Ramin, Padre Rodolfo Lünkenbein, entre tantos outros/as.
E o Papa acrescenta, na Exortação à santidade, que nessa “nuvem de testemunhas também pode estar nossa própria mãe, ou avó, e outras pessoas próximas de nós. A sua vida não tenha sido talvez perfeita, mas, mesmo no meio de imperfeições e quedas, continuaram a caminhar e agradaram ao Senhor” (GE 3).
Junto com todos eles cantamos e adoramos a Deus dizendo: “O louvor, a glória e sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus para sempre. Amém”.
Mas sabemos que a melhor maneira de louvar e agradecer a Deus é buscar viver na nossa pequenez e cotidianidade como Jesus viveu, essa é a alegria do Pai. E este é o caminho de santidade!
A santidade não é um status a alcançar, ou um prêmio reservado só para alguns privilegiados, para uma elite de pessoas.
Pelo contrário, a santidade é um caminho, um processo que se inicia no dia de nosso batismo, pelo qual nascemos como filhos/as de Deus, como nos recorda Paulo na segunda leitura. Esta é nossa identidade, ser filhos e filhas muito amados de Deus, e nessa identidade vamos crescendo na medida em que seguimos a Jesus e fazemos nossa a sua opção pelo cuidado da vida em todas suas dimensões e diversidades, especialmente o cuidado pela vida ferida, isto é a santidade.
Para viver desta maneira precisamos olhar para Jesus, o Santo; escutar Jesus o Mestre, como fizeram os primeiros discípulos e discípulas. Hoje o evangelho nos convida a subir ao monte com Jesus. Na Bíblia o monte é sempre lugar da revelação de Deus, e de nos sentar aos seus pés e escutá-lo. O que tem hoje Jesus para nos revelar, para nos desvelar de Deus e de nós?
Porque como disse o teólogo indiano Feliz Wilfred: “Jesus é tão fascinantemente humano que ninguém pode deixar de amá-lo. Sua humanidade nos faz mergulhar no mistério de Deus e nos ensina a gramática de como ser seres humanos!”
Uma vez mais escutamos dos lábios de Jesus as Bem-aventuranças: Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino dos céus, bem-aventurados os aflitos porque serão consolados...
O que significam estas palavras de Jesus?
Para a comunidade de Mateus, a maioria de origem judaica, esta cena sem dúvida trazia à sua memória a cena de Moisés no monte Horeb com o decálogo dos mandamentos.
Mas Jesus partilha com os seus algo mais que uma nova lei. Ele está se apresentando, as bem-aventuranças são o autorretrato de Jesus. Como disse o Papa, nelas está delineado o rosto do Mestre. Em cada uma delas podemos contemplar uma linha, um rastro de Jesus, porque foi dessa maneira que vimos, e experimentamos Jesus no meio de nós.
Por isso, quando lemos cada uma das Bem-aventuranças: Bem-aventurados os pobres de espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os que promovem a paz, os puros de coração, os que são perseguidos por causa da justiça... estamos contemplando a Jesus! As diferentes narrativas dos evangelhos desvelam como Jesus viveu este projeto de vida e por isso é feliz, é bem-aventurado!
Esta apresentação de Jesus é um convite a viver da mesma forma, a caminhar sem medo pelas trilhas das bem-aventuranças. Ele caminha conosco e é seu Espírito que nossa fragilidade confiada vai operando em nós o milagre cotidiano da santidade.
Como fala Francisco: “Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro de tua fragilidade com a força da graça! No fundo, como dizia León Bloy, na vida “existe apenas uma tristeza: a de não ser santo!” (GE34).
Estamos ante um novo e libertador paradigma de santidade! Muitas vezes os modelos de santidade tinham mais de anjos que de seres humanos, por isso eram impossíveis de alcançar. E estavam mais centrados no esforço, na força de vontade para atingir um perfeccionismo ilusório.
Esta concepção de santidade nos situa na nossa verdade de seres frágeis, somos húmus e ali, a partir dali, a graça de Deus, seu Espírito realiza sua obra. É Deus que nos santifica, não somos nós que nos santificamos!
Dessa forma a santidade é para todos, sem exclusão, e cada pessoa deverá percorrer seu caminho original de santidade, não existe uma fórmula ou receita.
Só a orientação: viver atentos e solidários a realidade de nosso tempo, aos apelos de nossos irmãos, e desde esse lugar, escutar e aprender do Mestre como viver.
Finalizo fazendo oração algumas palavras da exortação: “Oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com tua vida. Deixa-te transformar, deixa-te renovar pelo Espírito para que isso seja possível, e assim tua preciosa missão não fracassará” (GE 24). Amém.
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Solenidade “Todos os Santos” - Ano C - A boa notícia da santidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU