10 Mai 2019
Estamos vivendo as alegrias e os desafios da Palavra de Deus do tempo pós-pascal. No domingo anterior, o evangelho apresentou a experiência do reconhecimento do Ressuscitado que encoraja para a missão. Neste 4°domingo da Páscoa e dia mundial de oração por vocações, Jesus revela um aspecto significativo de sua identidade: “Eu sou o Bom Pastor”. Ao mesmo tempo revela atitudes de nossa identidade de “ovelhas do seu rebanho”, importantes em nossa missão evangelizadora.
A reflexão é de Lurdes Luke, idp, religiosa da Congregação das Irmãs da Divina Providência. Ela possui graduação em pedagogia pela Universidade de Passo Fundo-RS, graduação em ciências religiosas pela PUC-RS e especialização em Espiritualidade pela Faculdade Vicentina de Curitiba (FAVI). Atualmente atua em serviçõs de orientação espiritual, especialmente através da orientação de retiros, e no acompanhamento de grupos de leigos e leigas viculados às Irmãs da Divina Providência.
As palavras de Jesus no evangelho (Jo 10,27-30) são dirigidas aos judeus incrédulos, que exigem que Jesus declare se ele é ou não é o Messias esperado. Era a festa da Dedicação do Templo em Jerusalém. A cena é tensa e conflitiva: os judeus o reprovam, porém Jesus não se intimida. Usando a simbologia do pastor, reprova abertamente a falta de fé deles: “Vós não credes porque não sois minhas ovelhas”. Eles não são “ovelhas do seu redil”, por isso não escutam, não acreditam e não seguem a sua voz. Falta-lhes docilidade, humildade e o amor que tinham seus seguidores e seguidoras, suas “ovelhas”. Estas sim escutam e seguem a sua voz.
Este evangelho apresenta três fundamentais para a nossa vida cristã: ouvir sua voz – segui-Lo e dar a vida com amor. Isto está presente em suas palavras de vida deste domingo:
“Minhas ovelhas escutam a minha voz,...” recorda que para ser de Jesus é necessário escutar sua voz, dar atenção às suas palavras, aproximar-se e silenciar para ouvir o que Ele quer dizer.
Porém, não basta ouvir a sua voz, é necessário segui-Lo: “... eu as conheço e elas me seguem.” Isto exige disposição e coragem, que se concretiza na doação da própria vida das discípulas e discípulos de Jesus, expressas nas palavras do próprio Jesus: “Eu lhes dou a vida eterna e jamais perecerão...”.
Jesus deixa claro esta verdade quando concretiza e diz: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10b). Tendo Jesus como o “bom pastor” há possibilidade de vida nova, vida ressuscitada, mesmo em meio às fragilidades, sofrimentos, injustiças e perseguições.
Estas atitudes se revelam na 1ª leitura (At 13,14,43-52) que apresenta a ação missionária de Paulo e seu companheiro Barnabé. Estes discípulos, acostumados com a voz de Jesus o bom pastor, ouvem, obedecem e anunciam. Nenhuma perseguição consegue intimidá-los. O que lhes importa é atrair muitas pessoas a Jesus Cristo, o bom Pastor da humanidade.
E a 2ª leitura (Ap 7,9.14b-17) torna presente o rebanho reunido com seu pastor, após a purificação, após testemunhar existencialmente o Cristo-cordeiro, o crucificado-ressuscitado. Aqui é retomada a revelação da identidade oculta do povo de Deus que permanece fiel à nova e eterna Aliança até o fim.
Diante desta palavra surgem alguns questionamentos: - Como eu discípula/discípulo de Jesus ouço a sua voz? Que espaço de silêncio reservo para estar com Ele, ouvi-Lo, em meu cotidiano? Como expresso o meu seguimento à sua Pessoa, à sua proposta de Reino, que é o compromisso no cuidado e defesa da vida, especialmente a mais fragilizada e ameaçada? Que espaços a nossa Igreja, nossas comunidades cristãs oferecem aos indefesos, aos que vivem sós e desorientados? Como está nossa prática solidária e libertadora de pastoras e pastores junto ao povo que nos é confiado?
A palavra confirma que não precisamos ter medo, pois aos seguidores e seguidoras fiéis, as que conhecem e escutam a voz do Pastor Ele promete segurança e vida digna. Esta verdade está na sua voz, quando diz: “ninguém as tirará de minha mão. Meu Pai que as deu a mim é maior que tudo, e ninguém pode tirar nada da mão do Pai”. Podemos confiar que estas mãos são mãos providentes, que cuidam do “rebanho” e de cada pessoa individualmente, que conduz, protege, liberta e as faz feliz. Certamente, cada ação carregada com estas atitudes irá gerar alegria que vem do amor, do cuidado, da preocupação com as outras pessoas, de ir ao encontro assim como Jesus: "Alegrai-vos comigo, encontrei a ovelha perdida" (Lc 15,6).
E Jesus continua afirmando e se revelando: “Eu e o Pai somos um”. Ainda se servindo da imagem do pastor, explica a missão que o Pai lhe confiou: guiar o rebanho aos prados eternos, livrando-o dos perigos e dos ladrões. O pastor e o rebanho constroem uma vida em comum e favorecem para que cada pessoa que O escuta, O segue e dá sua vida por amor, possa experimentar o amor de Deus que “em verdes pastagens me faz reclinar; para águas em lugares de repouso me conduz. Minha alma traz de volta; guia-me por trilhas de justiça, por causa de seu nome (Sl 23, 2-3). É a partir da escuta e da partilha da Palavra de Deus, que novas possibilidades vão se abrindo para nós no campo da fé encarnada e comprometida com a vida das pessoas e de toda criação. Assim é a nossa vocação para a qual também somos convidadas e convidados a reassumir neste dia mundial de oração por vocações.
Supliquemos para que o Espírito Santo venha sobre cada um, cada uma de nós e abra nossos ouvidos à voz do Bom Pastor. E que este mesmo Espírito Santo nos molde e nos faça procurar sempre a vontade de Deus. Que sejamos verdadeiramente discípulas e discípulos, ouvintes e comprometidos!
Vem-me à mente a mensagem do nosso amado pastor o Papa Francisco, no domingo do Bom Pastor e de oração por vocações, no ano de 2015, e com ela concluo esta reflexão: "...ouvir e seguir a voz de Cristo o Bom Pastor, deixando-se atrair e conduzir por ele e consagrando-lhe a própria vida, significa permitir que o Espírito Santo nos introduza neste dinamismo missionário, suscitando em nós o desejo e a coragem jubilosa de oferecer a nossa vida e gastá-la pela causa do Reino de Deus. A oferta da própria vida nesta atitude missionária só é possível se formos capazes de sair de nós mesmos¨.
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4º domingo da Páscoa - Ano C - Conheço minhas ovelhas e elas ouvem minha voz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU