03 Mai 2019
"Jesus nos espera na praia com a refeição pronta, mas quer a nossa colaboração: quer que com ele partilhemos em comunhão com os nossos irmãos. Só assim faremos com ele também a Páscoa. Precisamos rever nossas posturas e, como Pedro, reconhecer também nossa nudez, a vergonha devido a incapacidade de reconhecer Jesus. Precisamos também, como Pedro, pular do barco da comodidade e mergulhar em sua direção, ir ao seu encontro, procedendo como discípulos missionários, como nos pede o documento de Aparecida (2007). Sem amor não há possibilidade de reconhece-lo. Só no amor o enxergamos. Amor pelo outro, na alteridade."
A reflexão é de Lucíola Cruz Paiva Tisi, teóloga leiga, bacharel em teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio (2017) e mestranda em teologia sistemática também pela PUC-Rio. Atua junto à Congregação dos Agostinianos da Assunção como leiga e na paróquia agostiniana da Santíssima Trindade no Rio/RJ, no catecumenato de adultos e como ministra extraordinária da eucaristia. Também integra um grupo de reflexão e estudos de leigos do qual faz parte.
Referências bíblicas
1ª Leitura: At 5,27b-32.40b-41
Salmo: Sl 29(30),2.4-6.11.12a.13b (R/. 2a)
2ª Leitura: Ap 5,11-14
Evangelho: Jo 21,1-19
Esse terceiro domingo da Pascoa, nos ajuda a compreender como, pela ação do Espírito Santo, a alegria do Jesus ressuscitado, continua a impulsionar os discípulos na missão. Na primeira leitura, em At 5 11-14, vemos essa alegria da missão vemos os discípulos viverem como comunidade alegre no seguimento e no amor.
No Evangelho (Jo 21,1-19) Jesus aparece pela terceira vez aos discípulos como comprovação de sua ressurreição. Jesus aparece a beira do lago pedindo alimento. Pergunta aos que pescam se há algo para comer, ele que se faz alimento, pede o alimento para nos sinalizar sua presença nos irmãos que sofrem e nos interpelam pedindo o que comer.
O que ocorre então com os discípulos? Mesmo abatidos pelo desânimo, pela frustração dos eventos ocorridos vão a pesca que simboliza a missão. “lhes farei pescadores de homens” (Mt 4,19). Mesmo incertos ainda da ressurreição demonstram o desejo de dar continuidade aos ensinamentos de Jesus, evento transformador instaurado na história, afinal, o evento Cristo os transformou e os libertou.
Noite no evangelho de João, significa obscuridade, período de dúvidas, de incertezas. Nesse estado afetivo tentam, ainda desorientados, seguir em frente em memória do Mestre. Deus, no entanto, não os abandonou, ao raiar de um novo dia um novo tempo. O Ressuscitado os espera à margem assim como também espera a cada um de nós.
Na situação do fracasso da pesca, Jesus pede que joguem a rede do outro lado. E novamente, mesmo incertos e com animo abatido, cansados, em fidelidade a quem pede, obedecem. E o resultado é a abundância. As vezes, como agentes pastorais e evangelizadores, nós também passamos pela situação do fracasso. Aí, mesmo desanimados, precisamos nos perguntar se precisamos mudar o lado de lançar nossas redes, se precisamos rever nossas posturas, nossos métodos e refletir se estamos realmente lançando nossas redes na direção que nos pede o Ressuscitado.
Junto a essa experiência surge ainda a pergunta insistente de Jesus a Pedro, que também se aplica a todos nós. A pergunta sobre o amor de Pedro para com Ele. Pedro parece se aborrecer com a insistência da pergunta, mas a insistência leva a resposta profunda, refletida, que nos dias de hoje é tão difícil. Respondemos as nossas interpelações com uma velocidade exigida pela vida corrida, sem muito tempo para repensar, para revisitar as questões impostas e as respostas que damos a elas. Jesus quer o nosso compromisso com ele. Apascentar o rebanho, viver na dinâmica da alteridade, continuar sua obra, a construção permanente na história do Reino por ele implantado. Compromisso que precisa ser de adesão profunda, e não superficial.
Nas leituras de Atos e Apocalipse vemos a prefiguração das Igreja, nascente e triunfante, ambas comprometidas com a missão de Jesus Cristo, com o Reino de Deus. Isso também nos leva a pensar em nossa missão de cristãos batizados. Somos a Igreja que professamos ser? Agimos em acordo com o evangelho de Jesus, com seus ensinamentos, com a fé que professamos? Agimos na alteridade, servimos o nosso próximo de maneira desinteressada e gratuita? Onde nos encontramos nesse contexto? Desanimados e incertos ou confiantes no Ressuscitado? E se cremos, nos comprometemos com ele no amor? Se nos fosse dirigida a mesma pergunta feita a Pedro, que resposta sincera poderíamos dar? Poderíamos de coração afirmar que sim com o compromisso a obediência, a gratidão e o louvor? Ou temos medo e ficamos conformados com a nossa situação atual? Qual o nosso comportamento diante das novidades da vida? ... diante dos problemas e questões que nos interpelam diariamente? Qual o nosso comportamento diante da dor do outro? Dos desafios? Somos generosos e caridosos ou dominadores e manipuladores? Jogamos as redes onde Ele nos pede ou onde nos interessa?
Jesus nos espera na praia com a refeição pronta, mas quer a nossa colaboração: quer que com ele partilhemos em comunhão com os nossos irmãos. Só assim faremos com ele também a Páscoa. Precisamos rever nossas posturas e, como Pedro, reconhecer também nossa nudez, a vergonha devido a incapacidade de reconhecer Jesus. Precisamos também, como Pedro, pular do barco da comodidade e mergulhar em sua direção, ir ao seu encontro, procedendo como discípulos missionários, como nos pede o documento de Aparecida (2007). Sem amor não há possibilidade de reconhece-lo. Só no amor o enxergamos. Amor pelo outro, na alteridade. Cristo nos interpela pelo Espírito Santo derramado em nós. Nos pede atitudes acertadas e que nos coloquemos no caminho que nos leva a contínua e cotidiana conversão estabelecendo assim a nossa relação com Deus Uno e Trino.
Ao respondermos a Jesus que o amamos implicamos toda a nossa existência no seu seguimento, no serviço, na alegria de sermos seus discípulos missionários em todas as dimensões que isso vier a implicar. E assim como nos mostram as leituras de hoje de Atos e Apocalipse, nos tornamos parte viva de seu Corpo, povo de Deus, parte ativa e obediente. Nos tornamos a Igreja peregrina e, almejando o dia do grande encontro, seguiremos sendo Igreja na alegria do discipulado e, com a graça do batismo, transformados em profetas para denunciar as injustiças, reis para ajudar a administrar a criação e a história, e sacerdotes para louvar e dar graças por todos os benefícios recebidos. Seremos então inseridos na comunidade dos construtores do reino de Deus.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
3º domingo da Páscoa - Ano C - O Ressuscitado encoraja para a missão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU