Por: Cesar | 13 Dezembro 2011
O melhor que pode fazer a Igreja para ter credibilidade com o povo é renunciar a benefícios e privilégios econômicos, aos quais em outros tempos se tinha direito, para recuperar a credibilidade que perdeu. O comentário é do teólogo José María Castillo em artigo no seu blog Teologia sin censura, 11-12-2011. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
São Paulo tinha uma obsessão: viver de tal forma que o seu comportamento não fosse motivo para ninguém se afastar do Evangelho. Era uma obsessão que tinha um fundamento muito sério: Paulo sabia que tudo o que afasta do Evangelho do mesmo modo afasta também da Igreja. E isso era, sem dúvida alguma, o que mais incomodava o apóstolo Paulo.
Tal raciocínio, tão simples e tão claro, é o argumento que Paulo sempre usou para justificar por que, tendo tantas coisas para fazer, nunca renunciou ao seu duro ofício de fabricar tendas de campanha, com o qual ele ganhava a vida.
Paulo sabia que a pregação do Evangelho e a organização das comunidades ("igrejas") lhe dava o direito de viver apenas dessa tarefa. Mas Paulo repete, uma e outra vez, que ele renunciou livremente a esse direito "para não criar qualquer obstáculo ao Evangelho" (1 Cor 9, 12; 1 Tes 2, 9; 2, 6-12; 4, 10 ss; 1 Cor 4, 12; 9, 4-18; 2 Cor 11, 7-12; 12, 13-18; At 20, 33-35; cf. At 18, 1-4). Portanto, Paulo sabia que, às vezes, viver da religião, cria problemas para a religião. Por isso Paulo viveu do seu trabalho.
A consequência, que se deduz do exposto, é clara: O melhor que pode fazer a Igreja para ter credibilidade com o povo é renunciar a benefícios e privilégios econômicos, aos quais em outros tempos se tinha direito, para recuperar a credibilidade que perdeu. E acima de tudo, porque agora há pessoas que passam fome e necessidades prementes.
É necessário – precisamente por amor à Igreja – lembrar destas coisas neste momento. Os meios de comunicação acabam de divulgar a decisão que tomou o governo de Mario Monti, na Itália. Trata-se da decisão segundo a qual a Igreja fica isenta do pagamento de Imposto sobre Bens Imóveis. É importante saber que esse imposto, na Itália, supõe muito dinheiro, assombrosas quantias de dinheiro. Porque os imóveis da Igreja na Itália são milhares de construções de todos os tipos.
Seria chocante saber a quantidade total de bens que a Igreja tem numa atormentada Europa. E ainda mais chocante saber a quantidade de dinheiro que a Igreja deixa de pagar por privilégios econômicos e benefícios fiscais de que gozam neste continente em bancarrota. Sabem as pessoas que a Igreja espanhola com Zapatero obteve mais privilégios fiscais que teve com Franco? Isso é tão verdade que, sobre esse ponto foi escrito – que eu saiba, pelo menos – uma tese bem doutoral bem documentada.
Assim, a pergunta que fazemos, todos nós que nos interessamos pelo bem e pelo bom exemplo da Igreja, é uma pergunta simples e forte: O mais exemplar que a Igreja poderia fazer na Europa, neste momento, não seria um decreto obrigando a todas as dioceses e instituições religiosas renunciar a todos os privilégios econômicos de que gozam e se aproveitam?
Quero dizer, não seria melhor que a religião oferecesse nesta situação de crise aos desempregados, os sem-teto, os "sem nada", todo o dinheiro de que ela se beneficia com base nos privilégios econômicos que apenas a Igreja tem? É verdade que a Igreja, através da Caritas e muitas outras instituições de caridade, ajuda a milhares de pessoas necessitadas. Mas é certo que ajudaria ainda mais renunciando todo o dinheiro que recebe por tantos outros mecanismos que nada tem a ver com beneficiência.
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"Não façamos ainda mais estragos à Igreja" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU