15 Novembro 2011
Ainda existem eremitas? Mulheres e homens que decidem dedicar suas vidas ao silêncio e à oração ao absoluto, desposando a pobreza mais radical? Essa é a pergunta de um belíssimo livro introduzido por uma frase emblemática de Adriana Zarri, retratada em uma foto esplêndida na capa do livro, que diz: "Só a viagem para dentro de nós mesmos nos restitui ao mundo apaixonados pela vida".
A reportagem é de Lucas Rolandi, publicada no sítio Vatican Insider, 10-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eu parto dessa frase para indicar como o livro de Francesco Antonioli, jornalista e escritor, mas acima de tudo investigador de histórias de espiritualidade ordinárias e extraordinárias, fez um percurso de sabedoria e de salvação do humano, contando as histórias de pessoas reais, que, despindo-se de toda máscara e fardo artificial, se reencontraram a sós consigo mesmas na escuta de Deus.
Mas os eremitas são mal-humorados ou antissociais? Decidiram abandonar o mundo para renegá-lo? A resposta é complexa e também diferente do pensamento dominante. Eles empreenderam um percurso, pessoal sim, mas também uma conscientização comunitária, que paradoxalmente tem implicações para o mundo. Fazer silêncio, pensar, rezar, meditar também por aqueles que vivem no barulho e na esquizofrenia da modernidade.
A viagem entre os últimos guardiões do silêncio começa no Ano Novo de 2011, na Úmbria franciscana de Cascia a Assis, para depois se expandir a vários territórios e para dentro do coração e da alma do flamengo Hugo van Doorne, que vive em uma gruta na Sicília; do rosto sereno e profundo animado pela sabedoria hindu de Svamini Hamsananda Giri; do hieromonge ortodoxo de Moscou; do rosto do pregador camaldulense Franco Mosconi; ou da história bizarra e ao mesmo tempo incrível história de Elvio Arancio, o sufi antitrem-bala do Vale Susa, só para citar algumas das 13 "pérolas" que o livro contém.
Escolhas extremas de pobreza, quase de loucura, mas que, ao serem contadas, fazem entrever como, nessas condições em que não se possui mais nada, na realidade, se inicia um caminho de ascese humana e espiritual rumo à reconquista de si mesmo.
O livro de Antonioli concluiu com um encontro do autor, no dia 8 de março de 1996, com Adriana Zarri, talvez a eremita mais heterodoxa dos nossos tempos na Itália, falecida há um ano. Ao descrever os lugares, a sensação e a atmosfera desse encontro, surge na conversa um termo "dentro" que toca o autor e o leitor. "Uma interioridade alta e livre – escreve Antonioli –, um dentro "advérbio", que não é cortar fora" nada do mundo e da vida, mas que, mesmo na condição de solidão, compartilha as inquietações, os medos, mas também as esperanças de todo ser humano, único e irrepetível, e se abandona ao absoluto, na condição de homem, sem compromissos e com a consciência de um chamado que leva para outro lugar.
O livro será apresentado em Turim, pelos amigos de Torino Spiritualità, do Círculo dos Leitores da capital piemontesa, nesta segunda-feira, 14 de novembro, 2011, às 18h. Além do autor, estarão presentes Hamsananda Giri, Luciano Violante, Alberto Papuzzi e o Pe. Franco Mosconi.
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Um ermo é o coração do mundo: uma viagem aos últimos "solitários extremos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU