06 Setembro 2011
A primeira das 16 demandas das comunidades indígenas se refere à mudança de traçado de uma estrada, para que não atravesse suas terras. Caso este ponto não for atendido, os indígenas não aceitam passar ao ponto seguinte. Ameaçam ir até a sede do governo.
A reportagem é de Sebastián Ochoa e está publicada no jornal argentino Página/12, 04-09-2011. A tradução é do Cepat.
"Quero que algum ministro, representando o presidente do Estado Plurinacional, passe e nos diga por onde a estrada vai passar. Para ver se vocês vão desautorizar o que o presidente está dizendo, que a estrada vai passar pelo Tipnis. Por favor, aí está o marcador, aqui está o microfone, podem passar a escrever". Fernando Vargas Mosúa, presidente da Subcentral de Comunidades do Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), esperou vários minutos, mas nenhum dos funcionários do governo federal se adiantou para traçar uma parte da estrada por fora ou por dentro do mapa do território. A Oitava Marcha Indígena tem 16 demandas. A primeira se refere a esta estrada, que passaria por um Território Comunitário de Origem (TCO) de um milhão de hectares. Caso este assunto não for resolvido, os indígenas não aceitam passar ao ponto seguinte. E assim sucessivamente. No domingo, diante da impossibilidade de conseguir consensos com seis ministros do gabinete de Evo Morales, os marchantes decidiram retomar a caminhada rumo a La Paz.
"Até o momento, não nos estão oferecendo nenhuma solução. Foi-lhes apresentado o marcador, mas nunca se animaram a sublinhar por onde a estrada vai passar. O que os ministros estão fazendo aqui? Esquentando as cadeiras? No domingo vieram e nos expuseram o tema do desenvolvimento, quanto iria custar o quilo de tomate. E quanto custa o nosso território, irmãos? Creio que o nosso território não está à venda, também não pedimos ao governo "por favor’, porque o território não é do presidente, é nosso. Agora nos apresentem (os ministros de Evo) uma solução. Caso contrário, vamos continuar a marcha. Não vamos perder o nosso tempo, temos que caminhar até a Casa do Governo e queremos falar com Evo Morales", disse Miriam Yubanore, vice-presidente da Central de Povos Étnicos Mojeños de Beni (Cpemb), que nasceu no Tipnis.
Na sexta-feira passada, Morales disse que a estrada em questão não tinha um traçado alternativo que evitasse passar por dentro do território. No sábado, o vice-presidente, Álvaro García Linera, disse a mesma coisa. "A construção de um caminho entre Cochabamba e Beni não tem opção natural nem técnica de se desviar por fora do parque. Se tivesse havido opção, teríamos sido os primeiros a escolher essa opção. A formação geográfica é de tal característica que entre Cochabamba e Beni temos de um lado as zonas úmidas, lagoas, pântanos, e de outro, a serra de terra quebradiça", disse o vice-presidente.
Para os 2.000 indígenas em marcha para La Paz, o diálogo com os ministros não teria sentido se esta é a posição oficial sobre o primeiro ponto dos 16. Contudo, os ministros insistem em que nada disto está definido. No sábado, os ministros entregaram aos marchantes documentos sobre os seis possíveis traçados da estrada. Os seis passam por dentro do Tipnis.
"No desenvolvimento deste diálogo ouvimos as argumentações e o respaldo dos ministros do governo que formam esta comissão e que justificam o projeto rodoviário Villa Tunari-San Ignacio, as quais, em suas diferentes variantes apresentadas, deixam claro que a decisão política de seu governo de atravessar o Tipnis não variou até hoje", disse uma carta que os indígenas entregaram aos ministros no domingo, quando decidiram continuar a marcha.
No caso de a marcha prosseguir, o próximo povoado é Yucumo, a 50 quilômetros, onde centenas de cocaleiros, partidários de Morales, mantêm o fechamento de uma estrada, para obrigar os indígenas a dialogar com o governo. Advertiram que não deixarão a marcha passar, cujo nome completo é "VIII Grande Marcha Indígena pela Defesa do Território, da Vida, da Dignidade e dos Direitos dos Povos Indígenas". Dela participam representantes dos 36 povos originários da Bolívia.
A marcha saiu de Trinidad no dia 15 de agosto. Já percorreu 250 quilômetros até San Borja, em Beni. Faltariam cerca de 300 quilômetros até La Paz, caso pudessem atravessar os cortes de estrada armados pelos camponeses em vários povoados ao longo do empoeirado caminho. Tão empoeirado que os marchantes pediram que lhes doassem colírio, afora outros produtos coletados por grupos de apoio nas principais cidades.
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A marcha indígena vai prosseguir, caso o governo persistir em abrir estrada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU