O diretor do
Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
Gilberto Câmara, deixa o cargo em dezembro, dois anos antes do fim de seu mandato. A saída já foi comunicada ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação,
Aloizio Mercadante.
A reportagem é de
Cláudio Angelo e publicada pelo jornal
Folha de S. Paulo, 18-08-2011.
Oficialmente,
Câmara diz estar "cansado" após seis anos no cargo e "frustrado" porque não conseguiu renovar os quadros do instituto, que não tem realizado contratações e cujos pesquisadores têm em média a mesma idade do
Inpe - 50 anos.
A Folha apurou, no entanto, que a saída de
Câmara se deve a divergências com a condução do programa espacial brasileiro e a um rompimento com o presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira),
Marco Antônio Raupp.
PARCERIA INDESEJADA
Um ponto que teria desagradado ao diretor foi a decisão da AEB e de
Mercadante de manter o programa de foguetes que o Brasil desenvolve com a Ucrânia por meio da empresa binacional
ACS (Alcântara Cyclone Space).
O programa consiste em reformar a base de
Alcântara, no Maranhão, para explorar o mercado de lançamentos comerciais de satélites usando o foguete ucraniano Cyclone-4. A ACS tem custo de cerca de R$ 1 bilhão, mais do que o triplo do orçamento anual do programa espacial.
Câmara tem sido um dos principais críticos do projeto Brasil-Ucrânia, que compete por recursos com o programa de satélites desenvolvido pelo
Inpe. Estima-se que o Brasil ainda precise colocar R$ 600 milhões na parceria.
Quando assumiu o ministério,
Mercadante suspendeu os pagamentos feitos à ACS. Tanto o ministro quanto Raupp afirmaram que só investiriam no programa se a Ucrânia pagasse sua contrapartida, de R$ 180 milhões.
O anúncio irritou o PSB, partido aliado do governo, cujo vice-presidente,
Roberto Amaral, arquitetou o acordo com a Ucrânia e dirigiu a ACS até ser demitido por
Mercadante e
Dilma neste ano.
No mês passado, no entanto, uma missão da agência espacial liderada por
Raupp visitou a Ucrânia e concluiu que o projeto do Cyclone-4 está "de 60% a 70% pronto", segundo o presidente da AEB.
Obteve também a promessa dos ucranianos de injeção de dinheiro na ACS até setembro. Isso permitiria a continuidade da parceria.
Outro fator que pôs Câmara em colisão com
Raupp foi a proposta de fusão do Inpe com a
AEB, que ainda está em estudo pelo ministério. Entusiasta da proposta no início, Câmara passou a se opor a ela, temendo perder espaço.
Diretor é `pai` de sistema que vigia desmate
Cearense radicado em São Paulo, engenheiro formado pelo
ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e com doutorado em computação pelo próprio Inpe,
Gilberto Câmara, 55, é um dos pais do
programa Deter, que detecta o desmatamento na Amazônia em tempo real e facilita ações de fiscalização.
Ele é também o segundo diretor que sai do instituto após choques com a Agência Espacial Brasileira. Seu antecessor,
Luiz Carlos Miranda, pediu demissão quando a agência passou a concentrar todo o orçamento do programa espacial, em 2005.
Câmara, filiado ao PT, foi escolhido por um comitê de busca e confirmado por
Eduardo Campos (PSB).
Sua gestão foi marcada por polêmicas. Decidiu concentrar os esforços do instituto na área ambiental e em satélites de observação da Terra, como o
Cbers (em parceria com a China), que ajuda a monitorar o desmatamento.
Isso firmou o Brasil como referência em monitoramento de desmate, com distribuição gratuita de imagens e instalação de estações receptoras dos dados obtidos pelo Cbers na África.
Mas, ao mesmo tempo, o monitoramento desidratou a área de astronomia do Inpe.
Em 2008, juntamente com
Marina Silva, Câmara comprou uma briga pública com o então governador de Mato Grosso,
Blairo Maggi.
Naquele ano, dados do
Deter mostravam uma explosão no desmatamento na região.
Maggi negou o aumento do desmatamento e levou a queixa ao
presidente Lula, que mandou o
Inpe checar novamente os dados.
"O dado foi checado, rechecado e `trechecado`", rebateu
Câmara à época.
O ministro
Aloizio Mercadante declarou que o diretor continuará colaborando com o ministério.
Marco Antonio Raupp estava em trânsito entre o Brasil e a China, onde tem reuniões do programa Cbers - juntamente com Câmara.
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Contrariado, chefe do Inpe deixará o cargo em dezembro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU