30 Mai 2011
Michel Roy, atual diretor do setor de advocacia internacional do Secours Catholique, foi eleito no dia 26 de maio secretário-geral de uma das maiores ONGs de solidariedade do mundo: a Caritas Internationalis. Esse francês, casado e pai de dois filhos, dirigirá a vasta confederação de 165 organizações nacionais da Cáritas, que empregam um total de 440 mil funcionários e 625 mil voluntários (!), que ajudam pelo menos 24 milhões de pessoas a cada ano no mundo.
A reportagem é de Henrik Lindell, publicada na revista Témoignage Chrétien, 26-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa eleição ocorreu no término de um movimentado debate sobre o "caráter próprio" da organização. O Vaticano, por meio do seu secretário-geral Tarcisio Bertone, quis lembrar a necessidade de "reafirmar a identidade católica" da organização.
Fé e caridade
Anteriormente, o Vaticano, de forma inédita, havia se recusado a autorizar a renovação do mandato da secretária-geral cessante, Lesley-Anne Knight, que era muito apreciada pelas células locais da Cáritas. Por isso, durante a Assembleia Geral da organização em Roma, entre os dias 22 e 27 de maio, havia estourado uma viva discussão entre representantes do Vaticano e diversos delegados. Algo nunca visto nesses ambientes.
Como explicou François Soulage, presidente do Secours Catholique da França: "Os delegados não conseguiam compreender a razão profunda da recusa de renovar o mandato de Knight. Esse motivo não foi explicitado. Os representantes do Vaticano nos pareceram ser muito rígidos na doutrina, nos lembravam continuamente que éramos sobretudo atores da Igreja, explicando-nos às vezes que a transmissão da fé vinha antes até do exercício da caridade, o que nos pareceu curioso".
Escolhas inoportunas
O Vaticano também esteve na origem de outras escolhas inoportunas, como por exemplo o corte no último minuto do muito popular Timothy Radcliffe, que iria falar aos delegados no dia 22 de maio. Esse dominicano, famoso pelo seu espírito de abertura, foi substituído pelo pregador Raniero Cantalamessa, conhecido pela sua preocupação de re-evangelização.
Além disso, muitos cardeais que intervieram durante a Assembleia Geral criticaram indiretamente diversas Cáritas nacionais pelo seu caráter muito "social", não "suficientemente católico"...
Muito diplomático, Michel Roy teve a sabedoria de insistir tanto na missão primária da Cáritas, que é a de ajudar os pobres, católicos ou não, quanto na relação da Cáritas com a Igreja. Em particular, declarou que as delegações nacionais da Cáritas devem ser uma encarnação da Igreja e da mensagem evangélica.
Claro apoio
Michel Roy foi eleito com 14 votos a favor e 6 contrários pelo Comitê Executivo da Caritas Internationalis. Ele possui, portanto, um claro apoio. Assim como a presidente cessante, o cardeal Óscar Maradiaga, reeleito pelos delegados com 75% dos votos. Michel Roy e Maradiaga têm a reputação de trabalhar por uma Cáritas socialmente comprometida.
Esse compromisso se baseia na consciência dos desafios políticos e econômicos, de acordo com a doutrina social da Igreja, apresentada particularmente na Caritas in Veritate, a última encíclica de Bento XVI.
Em geral, a linha de reafirmação da identidade cristã, defendida pelo Vaticano, foi certamente reproposta e debatida. Os delegados, por sua parte, puseram a ênfase sobretudo no caráter social do compromisso. E parece que, de fato, impuseram representantes em quem confiam.
O presidente do Secours Catholique, François Soulage, que era muito crítico com relação à linha defendida pelo cardeal Bertone, expressou satisfação com essas eleições. Depois, em um comunicado à Cáritas no dia 26 de maio, mesmo reconhecendo a legitimidade das observações do Vaticano, admitiu que o Secours Catholique não tem "a mesma concepção da evangelização que a Santa Sé". E acrescentou: "Mas, no entanto, não é conflitante, trata-se só de um debate". Poderíamos também defini-lo de um debate de fundo.
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Cáritas: eleições em um clima de debates movimentados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU